quinta-feira, 18 de abril de 2019

"Fazei isto em memória de Mim"

Do livro "A vida de Cristo" do Venerável Fulton J. Sheen:

"Todas as pessoas que vieram a este mundo vieram para viver. Ele veio para morrer. A morte foi um obstáculo para Sócrates - interrompeu o seu ensino. Mas para Cristo, a morte era o objectivo e o cumprimento da Sua vida, o ouro que Ele estava procurando. Poucas das suas palavras ou acções são inteligíveis sem referência à sua cruz. Ele apresentou-se como um Salvador e não apenas como um mestre. Não significava nada ensinar os Homens a serem bons sem também lhes dar o poder de serem bons, depois de resgatá-los da frustração da culpa.

A história de toda a vida humana começa com o nascimento e termina com a morte. Na Pessoa de Cristo, no entanto, foi a Sua morte que foi a primeira e a Sua vida que foi a última. A escritura descreve-o como "o Cordeiro imolado, por assim dizer, desde o princípio do mundo". Ele foi morto em intenção pelo primeiro pecado e rebelião contra Deus. Não foi tanto que o Seu nascimento lançou uma sombra em Sua vida e assim levou à Sua morte; foi antes que a cruz foi a primeira e lançou sua sombra de volta ao seu nascimento. A Sua foi a única vida no mundo que foi vivida em sentido inverso. Como a flor na fenda da parede diz ao poeta da natureza, e como o átomo é a miniatura do sistema solar, assim também, o Seu nascimento conta o mistério da forca. Ele passou do conhecido para o conhecido, da razão de Sua vinda manifestada por Seu nome "Jesus" ou "Salvador" para o cumprimento de Sua vinda, a saber, a Sua morte na cruz.

João dá-nos a sua pré-história eterna; Mateus, a sua pré-história temporal, por meio da sua genealogia. É significativo o quanto a Sua ascendência temporal estava ligada a pecadores e estrangeiros! Essas manchas na Sua linhagem humana sugerem uma compaixão pelos pecadores e pelos estranhos à Aliança. Ambos os aspectos da Sua compaixão seriam mais tarde lançados contra Ele como acusações: "Ele é amigo dos pecadores"; "Ele é um samaritano." Mas a sombra de um passado manchado prediz o Seu futuro amor pelos manchados pelo pecado. Nascido de uma mulher, Ele era um homem e poderia ser um com toda a humanidade; Nascido de uma virgem, que foi coberta pelo Espírito e "cheia de graça", Ele também estaria fora daquela corrente de pecado que infectou todos os homens.
"



1. Quando Cristo Senhor estava para celebrar com os discípulos a ceia pascal, na qual instituiu o sacrifício do seu Corpo e Sangue, mandou preparar uma grande sala mobilada (Lc 22, 12). A Igreja sempre se sentiu comprometida por este mandato e por isso foi estabelecendo normas para a celebração da santíssima Eucaristia, no que se refere às disposições da alma, aos lugares, aos ritos, aos textos. As normas recentemente promulgadas por vontade expressa do Concílio Vaticano II e o novo Missal que, de futuro, vai ser usado no rito romano para a celebração da Missa, constituem mais uma prova da solicitude da Igreja, da sua fé e do seu amor inquebrantável para com o sublime mistério eucarístico, da sua tradição contínua e coerente, apesar de certas inovações que foram introduzidas. Testemunho de fé inalterável.

2. A natureza sacrificial da Missa, solenemente afirmada pelo Concílio de Trento, de acordo com toda a tradição da Igreja, foi mais uma vez formulada pelo Concílio Vaticano II, quando, a respeito da Missa, proferiu estas significativas palavras: “O nosso Salvador, na Última Ceia, instituiu o sacrifício eucarístico do seu Corpo e Sangue, com o fim de perpetuar através dos séculos, até à sua vinda, o sacrifício da cruz e, deste modo, confiar à Igreja, sua amada Esposa, o memorial da sua Morte e Ressurreição”. Esta doutrina do Concílio, encontramo-la expressamente enunciada, de modo constante, nos próprios textos da Missa. Assim, o que se exprime de forma concisa nesta frase do Sacramentário Leoniano “todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício, realiza-se a obra da nossa redenção” –aparece-nos desenvolvido com toda a clareza e propriedade nas Orações Eucarísticas. Com efeito, no momento em que o sacerdote faz a anamnese, dirigindo-se a Deus em nome de todo o povo, dá-Lhe graças e oferece-Lhe o sacrifício vivo e santo; isto é, a oblação apresentada pela Igreja e a Vítima por cuja imolação quis o mesmo Deus ser aplacado; e pede que o Corpo e Sangue de Cristo sejam sacrifício agradável a Deus Pai e salvação para o mundo inteiro. Deste modo, no novo Missal, a norma da oração (lex orandi) da Igreja está em consonância perfeita com a sua ininterrupta norma de fé (lex credendi). Esta ensina-nos que, para além da diferença no modo como é oferecido, existe perfeita identidade entre o sacrifício da cruz e a sua renovação sacramental na Missa, a qual foi instituída por Cristo Senhor na Última Ceia, quando mandou aos Apóstolos que o fizessem em memória d’Ele. Consequentemente, a Missa é ao mesmo tempo sacrifício de louvor, de acção de graças, de propiciação, de satisfação.

3. O mistério admirável da presença real do Senhor sob as espécies eucarísticas, reafirmado pelo Concílio Vaticano II e outros documentos do Magistério da Igreja exactamente no mesmo sentido em que tinha sido enunciado e proposto como dogma de fé pelo Concílio Tridentino, é também claramente expresso na celebração da Missa, não somente nas próprias palavras da consagração, em virtude das quais Cristo se torna presente por transubstanciação, mas ainda na forma como, ao longo de toda a liturgia eucarística, se exprimem os sentimentos de suma reverência e adoração. É este o motivo que leva o povo cristão a prestar culto peculiar de adoração a tão admirável Sacramento, na Quinta-Feira da Ceia do Senhor e na solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.

4. Quanto à natureza do sacerdócio ministerial, exclusivo do presbítero que em nome de Cristo oferece o sacrifício e preside à assembleia do povo santo, a própria estrutura dos ritos, o lugar de preeminência e a função mesma do sacerdote a põem claramente em relevo. Os atributos desta função ministerial são enunciados explícita e desenvolvidamente na acção de graças da Missa crismal, na Quinta-Feira da Semana Santa, precisamente no dia em que se comemora a instituição do sacerdócio. Nesta acção de graças é claramente afirmada a transmissão do poder sacerdotal mediante a imposição das mãos; e é descrito este poder, enumerando as suas diversas funções, como continuação do poder do próprio Cristo, Sumo Pontífice da Nova Aliança.

5. Mas esta natureza do sacerdócio ministerial vem também colocar na sua verdadeira luz outra realidade de suma importância, que é o sacerdócio real dos fiéis, cujo sacrifício espiritual, pelo ministério dos presbíteros, é consumado na união com o sacrifício de Cristo, único Mediador. Com efeito, a celebração da Eucaristia é acção de toda a Igreja; nesta acção, cada um intervém fazendo só e tudo o que lhe pertence, conforme o posto que ocupa dentro do povo de Deus. E foi isto precisamente o que levou a prestar maior atenção a certos aspectos da celebração litúrgica que no decurso dos séculos não tinham sido suficientemente valorizados. Este povo é o povo de Deus, adquirido pelo Sangue de Cristo, congregado pelo Senhor, alimentado com a sua palavra; povo chamado para fazer subir até Deus as preces de toda a família humana; povo que em Cristo dá graças pelo mistério da salvação, oferecendo o seu Sacrifício; povo, finalmente, que pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo se consolida na unidade. E este povo, santo na sua origem, vai continuamente crescendo em santidade, através da participação consciente, activa e frutuosa no mistério eucarístico.