terça-feira, 28 de novembro de 2017

Advento - preparar na alma um lugar para Deus

A vida em Deus

No baptismo foi infundida por Deus em nós a graça santificante e com ela foram semeadas na nossa alma as virtudes sobrenaturais: a Fé, a Esperança e a Caridade. Nós fomos enxertados em Cristo que é a videira que nos comunica e dá a vida que provém de Deus. Como ramos da videira recebemos a vida de Deus na medida em que nos mantemos unidos a Cristo.

Esta vida já não é a vida natural do mundo, nascemos para uma nova vida, como diz o Apóstolo São Paulo: "Assim vós também: considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus." (Romanos 6,11).

O que no baptismo teve o seu início cresce com a Eucaristia, é o próprio Senhor que vem até nós para que tenhamos vida e a tenhamos em abundância. Desta maneira Nosso Senhor quer preencher-nos com a Sua vida, introduzindo-nos cada vez mais no Seu pensar e no Seu querer, nos Seus sentimentos e no Seu sacrifício.

Assim, a vida dos cristãos já não é igual à vida no mundo, ter a vida em Deus é partilhar do Seu pensamento, do Seu querer, realizar com Ele as Suas obras. A nossa vida já não se move apenas no plano puramente natural e humano, torna-se uma vida sobrenatural, elevada a um plano infinitamente superior ao da vida natural. É uma vida intimamente ligada à vida de Deus, que é infinitamente santa. Da mesma forma que o ferro pela acção do fogo continuando a ser ferro vai perdendo a dureza e a cor natural para ir adquirindo o brilho, o calor e a força do fogo, também a alma através da graça santificante recebe algo que ultrapassa a sua natureza e que a transforma em imagem de Deus, torna-a capaz de viver com Deus, ainda que de forma limitada.

Isto é, somos chamados à santidade, o nosso querer, pensar, agir e sentir já não é apenas nosso, passa a ser um querer, pensar, agir e sentir de Deus. Diz o Apóstolo São Paulo: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim.(Gálatas 2,20). Na medida em que realizarmos a imitação de Cristo é que viveremos a vida divina, santificar-nos-emos e tornar-nos-emos semelhantes a Deus. Este é o centro do esforço e do ideal cristão, o que nos distingue do mundano, “Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei. Por isto é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.(João 13,34-35).

Pela elevamo-nos acima do poder e da luz da razão natural. A Fé ilumina a razão com luzes sobrenaturais e dá-lhe forças para se identificar com o conhecimento e o critério divinos, para de certa forma passarmos a ver com o olhar de Deus. Com a Fé aderimos de corpo e alma à Verdade revelada por Deus, damos o nosso sim e passamos a viver segundo essa Verdade.

A Esperança é a força que impulsiona a vida cristã. Faz-nos esperar com segurança a felicidade eterna que nos é prometida por Deus e que Jesus Cristo, nosso Salvador, nos alcançou. Dá-nos ao mesmo tempo a firme convicção de que Deus nos concederá tudo quanto é necessário para a nossa salvação eterna.

A Caridade é algo completamente novo ao olhar dos Homens, vai muito para além da solidariedade e da fraternidade. É uma participação na Caridade de Deus. É um amor introduzido no fogo e pureza do amor divino e, por isso, da mesma espécie do amor de Deus. Na Caridade amamos o próximo com o amor de Deus, é entregarmo-nos e oferecermo-nos como Cristo, completamente. Como Cristo veio para servir e dar a vida por nós assim também deve ser a nossa caridade.

Ser cristão

Cristo diz-nos "vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me" (Marcos 10,21), o que nos pede não é apenas para sermos solidários, é para nos darmos completamente e como Cristo sermos perfeitos como o nosso Pai é perfeito. Se ficarmos apenas pela solidariedade somos iguais a quem não tem religião, "Se amais os que vos amam, que agradecimento mereceis? Os pecadores também amam aqueles que os amam. Se fazeis bem aos que vos fazem bem, que agradecimento mereceis? Também os pecadores fazem o mesmo. E, se emprestais àqueles de quem esperais receber, que agradecimento mereceis? Também os pecadores emprestam aos pecadores, a fim de receberem outro tanto. Vós, porém, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem nada esperar em troca. Então, a vossa recompensa será grande e sereis filhos do Altíssimo, porque Ele é bom até para os ingratos e os maus. Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso." (Lucas 6, 32-36). Na parábola da viúva pobre, Cristo pede-nos que não sejamos como o rico que apenas dá do que lhe sobra, devemos ser como a viúva pobre que dá tudo o que tem para viver.

Por isso na Santa Missa participamos no Santo Sacrifício, como no Calvário está Cristo presente no Altar para ser oferecido ao Pai pela salvação do mundo. É neste oferecimento de Cristo no Altar que aprendemos como deve ser a nossa Caridade e a nossa vida: Hóstias imaculadas em amor a Deus e ao próximo.

O ofertório é o momento de também nos oferecermos, apresentando-nos no Altar junto com Cristo vítima apresentada a Deus para o Sacrifício. O pão e o vinho, a colecta e os bens que levamos ao Altar e que as primeiras comunidades cristãs levavam até ao Altar não são um gesto de solidariedade ou apenas de agradecimento a Deus, são uma doação de nós próprios, não do que nos sobra mas de partilha do que temos para viver. É escola de Caridade, é aprender a oferecermo-nos como Cristo na Cruz se oferece a Deus para que no mundo sejamos reflexo de Deus e consigamos levar ao nosso próximo o amor divino, numa partilha de nós mesmos e do que é nosso.

É na Santa Missa no Santo Sacrifício e no ofertório que aprendemos com Cristo, a ser como Cristo, Hóstias imaculadas oferecidas a Deus, comungando Cristo para recebermos a Sua vida. Aqui vamos oferecer e concentrarmo-nos em Deus, para que na medida em que nos entregamos e oferecemos recebamos a Sua vida e o Seu amor. Alimentamos o nosso enxerto na videira que é Cristo para que produzamos fruto, alimentamos a graça recebida por Deus e as virtudes sobrenaturais da Fé, Esperança e Caridade.

No mundo temos a tarefa de praticar a Caridade tendo a vida em Deus, como Hóstias imaculadas entregando-nos completamente ao próximo, atentos às suas necessidades. Estamos no mundo sem sermos do mundo, santificamos o mundo colocando nele a luz, o amor e a misericórdia de Deus. Somos cristãos, sinal da presença de Deus, sal da terra e luz do mundo. "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu." (Mateus 5,16).

O nascimento do Salvador

Deus amando-nos primeiro e vendo que o Homem por si só não conseguiria vencer o pecado e a morte e aplacar a justiça divina pelo pecado original enviou-nos o Seu Filho. Na Sua infinita misericórdia tomou sobre si a obra da redenção e chamando cada um de nós elevou-nos no baptismo à categoria de Seus filhos.

A salvação é a libertação da opressão do pecado, das seduções do mundo e do maligno e a vitória sobre a morte eterna. Acolher o menino é acolher o rosto misericordioso de Deus, é unir a vida a Deus e ter Deus como destino.

Assim, o Advento é o tempo para nos prepararmos para que Cristo viva em nós. Preparamos a alma para o acolher, ordenamos os sentimentos e pensamentos formando-os em Cristo, avivamos a Fé, a Esperança e a Caridade.

É também tempo de preparação para da mesma forma que acolhemos o menino possamos estar vigilantes e preparados para acolher Cristo quando vier na Sua glória com todos os seus Anjos para julgar os vivos e os mortos. “Esmerai-vos para que Ele vos encontre imaculados, irrepreensíveis e em paz. (2 Pedro 3, 14).

Prepara na alma o presépio que vai acolher o menino, edifica-o na Esperança cristã, medita na Verdade revelada por Deus para que na estrela brilhe a luz da Fé, torna-o acolhedor com o calor da Caridade do amor divino e para as palhinhas coloca a suavidade dos dons do Espírito Santo: fortaleza, sabedoria, ciência, conselho, entendimento, piedade e temor de Deus. Assim ajudas a formar a Igreja fiel, acolhedora, livre, pobre de meios, rica no amor e missionária, e os teus braços, o teu pensar, agir, sentir e falar serão o rosto misericordioso de Deus no mundo.

"Por isso, de ânimo preparado para servir e vivendo com sobriedade, ponde a vossa esperança na dádiva que vos vai ser concedida com a manifestação de Jesus Cristo. Como filhos obedientes, não vos conformeis com os antigos desejos do tempo da vossa ignorância; mas, assim como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou santo." (1 Pedro 1,13-16)
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