quarta-feira, 25 de abril de 2018

A vida em abundância

"Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas." (João 10,7-11)

É errado pensar que a vida que Jesus nos quer dar é apenas uma vida feliz, em paz, plena de sentido e realização humana, acompanhada por Deus nos bons e maus momentos. É muito mais do que isso!
O que Jesus nos dá não é apenas uma forma ou filosofia de vida que é boa para nós, uma entre outras religiões ou formas cristãs.

A vida em abundância que Jesus nos quer dar é a vida preenchida pela Graça de Deus, cuja meta é o Céu onde essa vida será vivida na sua plenitude. É o conhecimento da Verdade da vida e do mundo.

Jesus veio-nos dar o que nós não tínhamos e que apenas por nós próprios não podíamos alcançar. Antes de Jesus vivíamos como pagãos, no desconhecimento e ignorância de Deus, longe de partilharmos a nossa vida na vida de Deus, no seu Amor. Mesmo no antigo testamento a relação com Deus realizava-se apenas no plano natural, no cumprimento de regras para que a vida corresse bem.

Jesus veio elevar o nosso viver acima do mundo natural, acima das preocupações terrenas. Jesus usou os cuidados naturais do mundo como um impulso para elevar as almas a um plano superior e comunicar uma verdade sobrenatural com a intenção de salvar-nos do castigo eterno no inferno. Àqueles que estão preocupados com os assuntos deste mundo Jesus eleva-os para apresentar-lhes uma realidade muito maior e mais significativa: os seus destinos eternos. Assim, enquanto as preocupações temporais podem ser bastante legítimas, é claro, elas devem, por fim, ceder às preocupações maiores e mais importantes da alma. Nosso Senhor veio para nos libertar da excessiva preocupação com as coisas do mundo, ensinando-nos que Deus proveria se nós sinceramente procurássemos servi-Lo, e que em breve este mundo e tudo o que ele contém vão desaparecer de qualquer maneira.
Cristo colocou o natural ao serviço do sobrenatural. Ensinou-nos a colocar o olhar em Deus enquanto no mundo levamos a caridade, tendo como horizonte o Céu.
Para quem não acredita a vida natural deste mundo é o mais importante, mas para um católico a vida sobrenatural da graça e da felicidade na vida do mundo que há-de vir é infinitamente mais importante: “É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.” (Romanos 6, 23).


Jesus deu-nos a Verdade, por Ele sabemos que Deus existe, o que quer de nós, porque nos criou e qual a origem e destino do Homem. Indicou-nos e mostrou-nos que a vida em abundância é viver na Graça de Deus, abandonando o pecado e vivendo os mandamentos.

Dantes estávamos presos ao pecado, à morte eterna e ao pecado original como filhos de Adão. Por estes motivos não nos era possível termos Deus intimamente nas nossas vidas.
Jesus obteve por nós a redenção do pecado, sofrendo os maus tratos, escarnecimentos, blasfémias e a morte como cordeiro sem mancha, sem reclamar, sem uma palavra má, antes sim, abençoando e pedindo ao Pai por aqueles que o maltratavam. Jesus fez o que nenhum de nós era capaz, por nós realizou o único sacrifício que era capaz de ser maior do que os nosso pecados: o sacrifício de amor entregando-se com plena confiança em Deus. Cristo venceu a morte e o pecado, ressuscitou e foi constituído como Rei: "Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos." (Mateus 28, 18-20).

Jesus é o nosso Rei, não apenas dos corações, mas Rei de facto, não à maneira humana mas divina, elevando e encaminhando o mundo natural para Deus. "Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.»" (João 18, 37).
A Ele tudo deve estar direccionado e sujeito, tudo deve ser feito e restaurado em Cristo. É um Rei justo e misericordioso, um Rei bom que nos alcançou a vitória sobre o pecado e a morte, por Ele temos a vida em abundância: a vida na Graça de Deus, com o Céu como destino. É esta a salvação que Jesus nos dá.

Assim, pela escuta e transmissão da Verdade é nos transmitida a Fé, pedindo nós a Deus que nos dê a Graça de ter Fé e acreditar na Verdade para termos a Fé dos Apóstolos.
A Fé é a adesão à Verdade que Jesus nos dá e que é a Verdade da vida, esta é uma adesão a Deus e ao que nos revelou, com confiança. Assim, alcançamos e é nos dada a Esperança, que é a força que impulsiona a vida cristã. Faz-nos esperar com segurança a felicidade eterna que nos é prometida por Deus e que Jesus Cristo, nosso Salvador, nos alcançou. Dá-nos ao mesmo tempo a firme convicção de que Deus nos concederá tudo quanto é necessário para a nossa salvação eterna. A Fé e a Esperança são vividas na Caridade onde levamos e vivemos este amor de Deus.

A vida abundante é nos transmitida por Cristo, Ele é a videira e nele nos devemos enxertar e permanecer para recebermos a vida de Deus. É vivendo na Graça de Deus que vivemos a vida como Jesus: cumprindo a vontade do Pai. Esta vida que recebemos à qual chamamos Graça de Deus é um amor único e especial. Deus ama-nos de várias formas com o amor providencial que encontramos na natureza, na caridade do próximo, na família e amigos, etc. Mas o amor da Graça de Deus é ainda maior, único, porque nesse amor está contido o próprio Deus, a Sua vida, e é esse amor e essa vida que Deus quer colocar em nós e que a nossa vida se eleve para um plano superior, com um novo horizonte.

Como vimos, foi-nos anunciada a Verdade e esta é a realidade da vida e do mundo. Não depende dos nossos gostos, capacidades e se é bom ou não para nós, é a lei da vida, a nossa origem e destino. Devemos ser Homens e Mulheres a sério, fortes, com coragem e perante a Verdade escolher: pedir a Deus a Graça de acreditar, devemos abrir-nos à Fé, conhecer a Verdade, a Fé dos Apóstolos, estar do lado do nosso Rei, do lado do Bem e do Amor e com Cristo viver esta vida em abundância: na Graça de Deus, único caminho de salvação.

"O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Corações ao alto.
O nosso coração está em Deus.
Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo, nosso Senhor. Verdadeiro e eterno sacerdote, oferecendo-Se como vítima de salvação, instituiu o sacrifício da nova aliança e mandou que o celebrássemos em sua memória. O seu Corpo, por nós imolado, é alimento que nos fortalece; e o seu Sangue, por nós derramado, é bebida que nos purifica. Por isso, com os Anjos e os Arcanjos e todos os coros celestes, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo… "
do prefácio da Santíssima Eucaristia

Pensando nesta vida em abundância que Jesus nos quer dar, que é a Graça de Deus, podemos reflectir e pensar nos mais frágeis e sofredores dos nossos irmãos. Uma pessoa que tem uma doença degenerativa incurável, sem esperança de melhorar, antes pelo contrário. Qual é a vida de abundância que Jesus lhe vem dar? Será que essa pessoa tem na missa um lugar para ela? O que a missa lhe pode dar? E enquanto poder receber alimentos sólidos, que alimento será a Hóstia Sagrada para ela?
Certamente essa vida em abundância não é uma vida plena de realização humana, feliz sem sofrimento. O que Jesus tem para dar é a Graça de Deus, é Deus viver com ela e ela em Deus, elevá-la e encaminhá-la para o Céu, a sua verdadeira casa, unindo os seus sofrimentos à Cruz de Cristo para a salvação do mundo. Na missa tem lugar porque esta não é apenas um convívio comunitário mas sim o oferecimento a Deus do Sacrifício do Calvário, do qual brota a Graça de Deus para nós. Na Hóstia Sagrada não tem apenas um alimento espiritual que nos ajuda nesta vida, tem o próprio Deus! Tem Jesus em Corpo, Alma e Divindade a querer morar na sua alma e que a sua alma se eleve para Deus, a sua verdadeira felicidade.

A missa é para Deus, sobre Deus e o que Deus fez e faz por nós. É o Sacrifício do Calvário que se torna presente nos nossos Altares. E nós temos o dever de dar a Deus o lugar principal, deixar que Deus fale a cada um de nós. Tornar a missa o lugar da Graça de Deus para que os que mais sofrem tenham nela a fonte de água viva! Que a missa seja para os que sofrem o lugar onde devem estar e se sintam preenchidos pela Graça de Deus!

A vida na Graça realiza-se no abandono do pecado e cumprimento dos mandamentos, já não se vive segundo a lógica do mundo mas sim com o amor, justiça, santidade e misericórdia de Deus. Estamos no mundo, estamos junto com os pecadores, com os nosso inimigos, com quem é diferente, mas sem sermos do mundo: é para santificar o mundo, colocar nele a vida de Deus.

Nesta vida os mandamentos não são como para os fariseus apenas um conjunto de regras a cumprir para ter tudo resolvido em relação a Deus. Não são uma carga, são para os guardarmos e seguirmos pois foram-nos dados pelo amor de Deus, para estarmos no Seu amor.
Também não são para os cumprirmos ou não conforme o que considerarmos ser a nossa felicidade. São para os seguirmos, pois a nossa verdadeira felicidade está no cumprimento da vontade de Deus: como Jesus.

Aqui temos, nesta vida em abundância, a Rocha sobre qual deve assentar e edificar a nossa vida. Tem a Verdade, fundamento da vida e da Fé, os mandamentos e a Graça de Deus: fundamento da nossa felicidade, Esperança e Caridade.

"Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que o não conheceu a Ele. Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é." (1 João 3,1-2)



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