quarta-feira, 25 de abril de 2018

A vida em abundância

"Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas." (João 10,7-11)

É errado pensar que a vida que Jesus nos quer dar é apenas uma vida feliz, em paz, plena de sentido e realização humana, acompanhada por Deus nos bons e maus momentos. É muito mais do que isso!
O que Jesus nos dá não é apenas uma forma ou filosofia de vida que é boa para nós, uma entre outras religiões ou formas cristãs.

A vida em abundância que Jesus nos quer dar é a vida preenchida pela Graça de Deus, cuja meta é o Céu onde essa vida será vivida na sua plenitude. É o conhecimento da Verdade da vida e do mundo.

Jesus veio-nos dar o que nós não tínhamos e que apenas por nós próprios não podíamos alcançar. Antes de Jesus vivíamos como pagãos, no desconhecimento e ignorância de Deus, longe de partilharmos a nossa vida na vida de Deus, no seu Amor. Mesmo no antigo testamento a relação com Deus realizava-se apenas no plano natural, no cumprimento de regras para que a vida corresse bem.

Jesus veio elevar o nosso viver acima do mundo natural, acima das preocupações terrenas. Jesus usou os cuidados naturais do mundo como um impulso para elevar as almas a um plano superior e comunicar uma verdade sobrenatural com a intenção de salvar-nos do castigo eterno no inferno. Àqueles que estão preocupados com os assuntos deste mundo Jesus eleva-os para apresentar-lhes uma realidade muito maior e mais significativa: os seus destinos eternos. Assim, enquanto as preocupações temporais podem ser bastante legítimas, é claro, elas devem, por fim, ceder às preocupações maiores e mais importantes da alma. Nosso Senhor veio para nos libertar da excessiva preocupação com as coisas do mundo, ensinando-nos que Deus proveria se nós sinceramente procurássemos servi-Lo, e que em breve este mundo e tudo o que ele contém vão desaparecer de qualquer maneira.
Cristo colocou o natural ao serviço do sobrenatural. Ensinou-nos a colocar o olhar em Deus enquanto no mundo levamos a caridade, tendo como horizonte o Céu.
Para quem não acredita a vida natural deste mundo é o mais importante, mas para um católico a vida sobrenatural da graça e da felicidade na vida do mundo que há-de vir é infinitamente mais importante: “É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.” (Romanos 6, 23).


Jesus deu-nos a Verdade, por Ele sabemos que Deus existe, o que quer de nós, porque nos criou e qual a origem e destino do Homem. Indicou-nos e mostrou-nos que a vida em abundância é viver na Graça de Deus, abandonando o pecado e vivendo os mandamentos.

Dantes estávamos presos ao pecado, à morte eterna e ao pecado original como filhos de Adão. Por estes motivos não nos era possível termos Deus intimamente nas nossas vidas.
Jesus obteve por nós a redenção do pecado, sofrendo os maus tratos, escarnecimentos, blasfémias e a morte como cordeiro sem mancha, sem reclamar, sem uma palavra má, antes sim, abençoando e pedindo ao Pai por aqueles que o maltratavam. Jesus fez o que nenhum de nós era capaz, por nós realizou o único sacrifício que era capaz de ser maior do que os nosso pecados: o sacrifício de amor entregando-se com plena confiança em Deus. Cristo venceu a morte e o pecado, ressuscitou e foi constituído como Rei: "Aproximando-se deles, Jesus disse-lhes: «Foi-me dado todo o poder no Céu e na Terra. Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos." (Mateus 28, 18-20).

Jesus é o nosso Rei, não apenas dos corações, mas Rei de facto, não à maneira humana mas divina, elevando e encaminhando o mundo natural para Deus. "Disse-lhe Pilatos: «Logo, Tu és rei!» Respondeu-lhe Jesus: «É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a minha voz.»" (João 18, 37).
A Ele tudo deve estar direccionado e sujeito, tudo deve ser feito e restaurado em Cristo. É um Rei justo e misericordioso, um Rei bom que nos alcançou a vitória sobre o pecado e a morte, por Ele temos a vida em abundância: a vida na Graça de Deus, com o Céu como destino. É esta a salvação que Jesus nos dá.

Assim, pela escuta e transmissão da Verdade é nos transmitida a Fé, pedindo nós a Deus que nos dê a Graça de ter Fé e acreditar na Verdade para termos a Fé dos Apóstolos.
A Fé é a adesão à Verdade que Jesus nos dá e que é a Verdade da vida, esta é uma adesão a Deus e ao que nos revelou, com confiança. Assim, alcançamos e é nos dada a Esperança, que é a força que impulsiona a vida cristã. Faz-nos esperar com segurança a felicidade eterna que nos é prometida por Deus e que Jesus Cristo, nosso Salvador, nos alcançou. Dá-nos ao mesmo tempo a firme convicção de que Deus nos concederá tudo quanto é necessário para a nossa salvação eterna. A Fé e a Esperança são vividas na Caridade onde levamos e vivemos este amor de Deus.

A vida abundante é nos transmitida por Cristo, Ele é a videira e nele nos devemos enxertar e permanecer para recebermos a vida de Deus. É vivendo na Graça de Deus que vivemos a vida como Jesus: cumprindo a vontade do Pai. Esta vida que recebemos à qual chamamos Graça de Deus é um amor único e especial. Deus ama-nos de várias formas com o amor providencial que encontramos na natureza, na caridade do próximo, na família e amigos, etc. Mas o amor da Graça de Deus é ainda maior, único, porque nesse amor está contido o próprio Deus, a Sua vida, e é esse amor e essa vida que Deus quer colocar em nós e que a nossa vida se eleve para um plano superior, com um novo horizonte.

Como vimos, foi-nos anunciada a Verdade e esta é a realidade da vida e do mundo. Não depende dos nossos gostos, capacidades e se é bom ou não para nós, é a lei da vida, a nossa origem e destino. Devemos ser Homens e Mulheres a sério, fortes, com coragem e perante a Verdade escolher: pedir a Deus a Graça de acreditar, devemos abrir-nos à Fé, conhecer a Verdade, a Fé dos Apóstolos, estar do lado do nosso Rei, do lado do Bem e do Amor e com Cristo viver esta vida em abundância: na Graça de Deus, único caminho de salvação.

"O Senhor esteja convosco.
Ele está no meio de nós.
Corações ao alto.
O nosso coração está em Deus.
Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente, é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte, por Cristo, nosso Senhor. Verdadeiro e eterno sacerdote, oferecendo-Se como vítima de salvação, instituiu o sacrifício da nova aliança e mandou que o celebrássemos em sua memória. O seu Corpo, por nós imolado, é alimento que nos fortalece; e o seu Sangue, por nós derramado, é bebida que nos purifica. Por isso, com os Anjos e os Arcanjos e todos os coros celestes, proclamamos a vossa glória, cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do universo… "
do prefácio da Santíssima Eucaristia

Pensando nesta vida em abundância que Jesus nos quer dar, que é a Graça de Deus, podemos reflectir e pensar nos mais frágeis e sofredores dos nossos irmãos. Uma pessoa que tem uma doença degenerativa incurável, sem esperança de melhorar, antes pelo contrário. Qual é a vida de abundância que Jesus lhe vem dar? Será que essa pessoa tem na missa um lugar para ela? O que a missa lhe pode dar? E enquanto poder receber alimentos sólidos, que alimento será a Hóstia Sagrada para ela?
Certamente essa vida em abundância não é uma vida plena de realização humana, feliz sem sofrimento. O que Jesus tem para dar é a Graça de Deus, é Deus viver com ela e ela em Deus, elevá-la e encaminhá-la para o Céu, a sua verdadeira casa, unindo os seus sofrimentos à Cruz de Cristo para a salvação do mundo. Na missa tem lugar porque esta não é apenas um convívio comunitário mas sim o oferecimento a Deus do Sacrifício do Calvário, do qual brota a Graça de Deus para nós. Na Hóstia Sagrada não tem apenas um alimento espiritual que nos ajuda nesta vida, tem o próprio Deus! Tem Jesus em Corpo, Alma e Divindade a querer morar na sua alma e que a sua alma se eleve para Deus, a sua verdadeira felicidade.

A missa é para Deus, sobre Deus e o que Deus fez e faz por nós. É o Sacrifício do Calvário que se torna presente nos nossos Altares. E nós temos o dever de dar a Deus o lugar principal, deixar que Deus fale a cada um de nós. Tornar a missa o lugar da Graça de Deus para que os que mais sofrem tenham nela a fonte de água viva! Que a missa seja para os que sofrem o lugar onde devem estar e se sintam preenchidos pela Graça de Deus!

A vida na Graça realiza-se no abandono do pecado e cumprimento dos mandamentos, já não se vive segundo a lógica do mundo mas sim com o amor, justiça, santidade e misericórdia de Deus. Estamos no mundo, estamos junto com os pecadores, com os nosso inimigos, com quem é diferente, mas sem sermos do mundo: é para santificar o mundo, colocar nele a vida de Deus.

Nesta vida os mandamentos não são como para os fariseus apenas um conjunto de regras a cumprir para ter tudo resolvido em relação a Deus. Não são uma carga, são para os guardarmos e seguirmos pois foram-nos dados pelo amor de Deus, para estarmos no Seu amor.
Também não são para os cumprirmos ou não conforme o que considerarmos ser a nossa felicidade. São para os seguirmos, pois a nossa verdadeira felicidade está no cumprimento da vontade de Deus: como Jesus.

Aqui temos, nesta vida em abundância, a Rocha sobre qual deve assentar e edificar a nossa vida. Tem a Verdade, fundamento da vida e da Fé, os mandamentos e a Graça de Deus: fundamento da nossa felicidade, Esperança e Caridade.

"Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que o não conheceu a Ele. Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é." (1 João 3,1-2)



sexta-feira, 20 de abril de 2018

O Pão da Vida

O padre Paulo Ricardo, nesta semana, proporcionou-nos uns textos muito belos sobre o Pão da Vida que é Jesus na Eucaristia, vale bem a pena ler:

"Hoje, o Senhor dá início ao seu famoso discurso sobre o pão da vida. O povo que o vem seguindo, como sabemos, se alimentou do pão e dos peixes que Ele multiplicara há poucos dias; mas esse pão é ainda perecível, passageiro, cuja produção requer trabalho e esforço. Agora, o Senhor promete-nos um alimento que não se perde, mas “permanece até a vida eterna”. Também esse alimento, que poucos versículos à frente será identificado com o próprio Corpo de Cristo, supõe um trabalho, uma obra: crer naquele que o Pai enviou. A primeira das boas obras que, como cristãos, estamos chamados a praticar é, portanto, a obediência da fé. Trata-se, é claro, de uma obra motivada por um toque da graça: é o Senhor ressuscitado que, tocando a nossa alma, dá-nos força para crermos e, crendo, nos deixarmos alimentar do seu amor. É com essa fé que nos devemos aproximar da S. Eucaristia, sob cujas aparências Ele está verdadeiramente presente. É com essa mesma fé que, ao longo do dia e sobretudo nos momentos de oração, devemos elevar nosso espírito a Jesus, manifestando-lhe o desejo de o recebermos com pureza, humildade e devoção. Sem essa fé, sem essa firme adesão de alma e coração à verdade e ao amor de Cristo, estaremos malbaratando nossas comunhões sacramentais, estaremos recebendo o Senhor em nosso corpo, mas sem a disposição de lhe abrirmos nossa alma. Por isso, peçamos hoje a Nosso Senhor que nos infunda um espírito de fé, de uma fé mais firme e enraizada, para que possamos sentir o doce sabor espiritual que experimentam os que lhe comungam o Corpo e o Sangue, não por costume nem com indiferença, mas com aquela fé que tanto agrada o coração de Deus."

"O Senhor declara-nos no Evangelho de hoje ser o pão da vida. Ele é o pão vivo (ὁ ἄρτος ὁ ζῶν) descido do céu para dar a vida eterna aos que nele crerem e dele comerem: “Quem comer deste pão”, diz Jesus referindo-se a si mesmo, “viverá eternamente”. Vale a pena notar que o termo “vida”, em todas as suas ocorrências na leitura de hoje, traduz a palavra grega ζωή, que designa uma vida de outra qualidade, distinta ou superior à vida meramente biológica, natural. Trata-se, como sabemos, da própria vida divina, da qual nos tornamos participantes mediante a graça de Cristo. Esta graça, como também já vimos em meditações passadas, é ao mesmo tempo sanante e elevante: sanante, em primeiro lugar, por introduzir ordem nas potências da nossa alma; elevante, enfim, por fazer-nos participar de uma vida nova, imensamente superior à nossa — a vida íntima da SS. Trindade. Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, participa no mais alto grau desta vida divina. Por isso, quando a Ele nos unimos, sobretudo na Eucaristia, em que recebemos o seu toque físico e sacramental, somos submergidos nessa superabundância de vida em que Ele vive. Ao comungarmos, assemelhamo-nos a barras de ferro metidas na fornalha: incandescemos de amor, perdemos a ferrugem que antes nos corroía e, fundidos na chama ardente dessa união, “transformamo-nos” naquilo mesmo que nos abrasa. Limpando-nos das impurezas e ferrugens da nossa alma, a graça nos sana; fazendo-nos participar do fogo de amor da natureza divina, ela nos eleva. Que as nossas comunhões possam ser mais devotas e frequentes, a fim de tomarmos cada vez mais parte na vida de Nosso Senhor, a quem contemplaremos um dia no céu como prêmio depois de o termos recebido como viático na terra."

"Jesus, concluindo hoje o seu sermão eucarístico, diz aos judeus que “se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós”. A presença dos termos “carne” e “sangue” na fala de Nosso Senhor é um indício claro e expressivo da natureza sacrificial da Eucaristia. Cristo é verdadeiramente vítima de expiação: de sua carne, macerada até a morte, será separado o sangue da nossa redenção. Isto, por sua vez, nos coloca diante de uma aparente contradição: a vida se adquire perdendo-se. Na cruz, Ele cumpriu até o fim a vontade do Pai, entregando a própria vida para que nós dela participássemos. Cristo, vaso sagrado e repleto até a boca do mais suave perfume, deixou-se quebrar para que o bálsamo de sua graça se espalhasse por todo o mundo. É pois pela morte do Deus feito homem que nós nos tornamos deuses em sua vida imortal. “Minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida”, porque o seu sacrifício na cruz é fonte de vida e de alimento: perdendo sua vida biológica em meios às piores dores, Cristo infunde nos que nele crêem a sua própria vida divina, ou seja, a mesma vida que Ele tem com o Pai: “Como o Pai, que vive, me enviou e eu vivo para Ele, assim quem come a minha carne viverá para mim”. Que em nossas comunhões possamos lembrar-nos sempre de que nela nos é comunicada a vida de Nosso Senhor, que não recusou morrer para que os que tanto amou vivessem eternamente."

Podem ser lidos aqui:
https://padrepauloricardo.org/episodios/a-comunhao-espiritual
https://padrepauloricardo.org/episodios/participantes-da-natureza-divina
https://padrepauloricardo.org/episodios/a-vida-que-se-ganha-com-a-morte

Por este dom magnífico do Pão da Vida se compreende melhor a Fé e o que Deus nos dá. Coloco também o texto do Padre Paulo Ricardo "Salvos pela fé no amor divino":

"Celebrando hoje a memória de S. Estanislau, bispo e mártir, a Igreja nos proclama um trecho do Evangelho em que se destaca, de modo particular, o amor de Deus por nós manifestado no envio de seu Filho ao mundo. De fato, podemos dizer que a leitura de hoje resume num só versículo aquilo que é o centro da boa-nova de Cristo: “Deus amou tanto o mundo”, diz Ele por boca de S. João, “que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna”. O amor de Deus se manifesta, assim, no fato de podermos crer no Filho, nascido de mulher, entregue à morte pela nossa salvação e, neste tempo de alegria pascal, ressuscitado gloriosamente, como primícia dentre os mortos, para associar-nos à sua vida imortal. O Pai deu-nos o Filho para que, nele crendo, não pereçamos. Por isso, o dom da fé, que nos foi concedido no Batismo, é uma das expressões mais palpáveis do amor que Deus nos tem: é pela fé em Cristo, vivificada pela caridade, que nos salvamos, e essa fé está agora à nossa disposição, acessível aos que, de coração reto, não rechaçam a verdade conhecida e se deixam tocar pela graça divina. Deus nos amou mais do que podemos imaginar, entregando à morte o próprio Filho, feito vítima de propiciação pelos nossos pecados. E não só isso: deu-nos também, pelo mesmo Filho, a graça de crermos neste seu amor sem limites, causa da nossa eterna salvação. Que Ele nos conceda continuamente o incremento desta fé, dessa dócil, fiel e obediente abertura à caridade salvífica de Cristo crucificado: “Quem nele crê não é condenado”."
https://padrepauloricardo.org/episodios/salvos-pela-fe-no-amor-divino


quarta-feira, 18 de abril de 2018

Hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco

"Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco. Despertando do sono, José fez como lhe ordenou o anjo do Senhor, e recebeu sua esposa. E, sem que antes a tivesse conhecido, ela deu à luz um filho, ao qual ele pôs o nome de Jesus." (Mt 1, 23-25).

No Domingo, 15 de Abril, numa visita pastoral do Papa Francisco, uma criança de nome Emanuel chorando coloca-lhe a questão se o pai que é ateu está no Céu. O Papa Francisco consola-o respondendo que Deus não abandona os seus filhos e o pai mesmo não acreditando era boa pessoa, Deus não se ia esquecer disso.
A resposta é mais de consolo do que de verdade da Fé.

Quem por aqui passar e ler em primeiro lugar, por favor, reze uma oração pelo pai do pequeno Emanuel, para que pelo menos no seu último momento tenha acreditado. "Quem acreditar e for batizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado." (Mc 16, 16). E também uma oração pelo pequeno Emanuel para encontrar na Fé o consolo e amor de Deus. Deus não nos salva sem nós e a Lumen Gentium 14 é clara sobre a necessidade dos baptizados permanecerem na Igreja, na Fé e na Caridade, porque pelo contrário serão mais severamente julgados, "A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido" (Lc 12,48).

Para nós, quantos mais pequeninos vamos deixar na dúvida? Quantos mais pequeninos vamos deixar com os pais indiferentes e ignorantes em relação à Fé e à salvação? Quando vamos despertar e anúnciar a Verdade da Fé? Quando vamos chamar os pais e os filhos para o rebanho do Senhor, único Caminho, Verdade e Vida pelo qual podemos alcançar a salvação?
Deus quer salvar-nos e quer que todos se salvem, está sempre pronto a nos acolher, mas é necessário que Lhe dê-mos a mão, O recebamos no baptismo e permaneçamos com Ele na Sua Graça.

Que o encontro com o pequeno Emanuel seja para nós um despertar, para que sejamos verdadeiros discípulos do Senhor anúnciando a Verdade para que todos encontrem a salvação no nome de Jesus.

Precisamos de uma Igreja com discípulos que ensinem a guardar os mandamentos, a rezar, transmitam a Fé dos Apóstolos, ensinem a amar a Deus sobre todas as coisas o que engloba amar o próximo mas vai muito para além disso, que nos mostrem a misericórdia e a justiça, a reconciliação, o abandonar o pecado, a rocha sobre qual assenta a nossa vida, a missa que é culto e oferecimento a Deus realizado por Cristo e não apenas um convivio comunitário, ensinem a Verdade e a doutrina que foi nos dada por Cristo, ensinem e ajudem a vivermos na Graça de Deus que é um amor que vai além do amor da providência divina, é o próprio Deus que se dá a nós, ensinem a estarmos no mundo sem sermos do mundo, santificando-o.

Queremos o Deus verdadeiro, não o antropocêntrico "Deus bom" que não julga e apenas nos veio dizer que nos "ama". Queremos o Deus verdadeiro que nos veio dar a vida, elevarmos além da nossa condição humana, nos deu um caminho, mostrou-nos a nossa verdadeira casa, no Céu como no plano original de Deus. Queremos a Fé Católica, a Fé dos Apóstolos, e não apenhas humanismo cristão.

Sem Cristo não tinhamos como ir para o Pai, Deus ama-nos e vê-mos o verdadeiro amor e misericórdia quando compreendemos o que nos quer dar e o que fez por nós. Ensinem-nos a compreender e escolher, a ter a Fé dos Apostolos que viram e acreditaram.
A Fé não é apenas sentimento, uma relação de amor com Jesus, começa pela escuta de toda a Verdade, quer as coisas boas e fáceis quer as dificeis e exigentes, pedindo a Graça de Deus para acreditar, dizendo sim a Deus e ao que nos revelou.

Por favor ajudem, acolham e levem o pedido a cada um dos trabalhadores da vinha do Senhor.

"Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação" (Lc 22, 46).


O Concílio Vaticano II no documento Lumen Gentium no ponto 14 dirige-se a nós que somos católicos e fomos baptizados na Igreja, falando-nos da Salvação.

Leia-mos com atenção:
"14. Os fiéis católicos; a necessidade da Igreja
O sagrado Concílio volta-se primeiramente para os fiéis católicos. Fundado na Escritura e Tradição, ensina que esta Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com efeito, só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos presente no Seu corpo, que é a Igreja; ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Baptismo (cfr. Mc. 16,16; Jo. 3,15), confirmou simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta do Baptismo. Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela ou nela não querem perseverar.

São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dós sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos. Não se salva, porém, embora incorporado à Igreja, quem não persevera na caridade: permanecendo na Igreja pelo «corpo», não está nela com o coração (26). Lembrem-se, porém, todos os filhos da Igreja que a sua sublime condição não é devida aos méritos pessoais, mas sim à especial graça de Cristo; se a ela não corresponderem com os pensamentos, palavras e acções, bem longe de se salvarem, serão antes mais severamente julgados (27)."

As notas de rodapé 26 e 27 são as seguintes:
(26) - Cfr. S. Agostinho, Bapt. c. Donat. V, 28, 39: PL 43, 197: «C'erte manifestum est, id quod dicitur, in Ecclesia intus et foris, in corde, non in corpore cogitandum». Cfr. ib., III, 19, 26: col. 152; V, 18, 24: col. 189; In Io. Tr. 61, 2: PL 35, 1800, etc. etc.
(27) - Cfr. Lc. 12, 48: « Omni autem, cui multum datum est, multum quaeretur ab eo». Cfr. Mt. 5, 19-20; 7, 21-22; 25, 41-46; Tg. 2,14. 

As passagens do Evangelho indicadas na nota de rodapé 27, que se referem a que no caso de não correspondermos com os pensamentos, palavras e acções à graça de Cristo bem longe de nos salvarmos seremos mais severamente julgados, são as seguintes:
(Lc. 12, 48) "A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito será pedido."

(Mt 5, 19-20) "Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu."

(Mt 7, 21-22) "Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?"

(Mt 25, 41-46) "Em seguida dirá aos da esquerda: ‘Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus anjos! Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede e não me destes de beber, era peregrino e não me recolhestes, estava nu e não me vestistes, doente e na prisão e não fostes visitar-me.’ Por sua vez, eles perguntarão: ‘Quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?’ Ele responderá, então: ‘Em verdade vos digo: Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.’ Estes irão para o suplício eterno, e os justos, para a vida eterna."

(Tg. 2,14) "De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo?"

Por estas leituras dá para compreender porque o Senhor nos indicou que o caminho é estreito e largo é o caminho que leva à perdição. Realmente necessitamos da Graça e ajuda de Deus para chegarmos até Ele.

A todos nós, católicos, lembro a exortação do Senhor "Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação" (Lc 22, 46).

Disse Nossa Senhora do Rosário de Fátima na 3ª aparição: "Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da Fé", coloquemos isso em prática, coloquemos o coração em Deus e pratiquemos a verdadeira Caridade, ignorar e relativizar a Fé é abandonar o caminho de Salvação.

Qual é então a verdadeira Caridade?
É amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus.
Deus é o princípio e fim de todas as coisas, é onde temos e recebemos o amor para como Cristo servirmos o próximo, levando-lhes o amor de Deus.

Sem esta Caridade, realizada no amor de Deus e ao próximo não existe salvação. "Porque dormis? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação".
Alimentemos a Fé, meditando na Verdade e praticando a Caridade, assim "Em Portugal conservar-se-á sempre o dogma da Fé" e estaremos com o Senhor no Seu Reino.

Explica assim o Catecismo o que é a Caridade:
388. O que é a caridade?
A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus.
Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei.
A caridade é «o vínculo da perfeição» (Col 3,14) e o fundamento das outras virtudes, que ela anima, inspira e ordena: sem ela «não sou nada» e «nada me aproveita» (1 Cor 13,1-3).

1822. A caridade é a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus.

1823. Jesus faz da caridade o mandamento novo (75). Amando os seus «até ao fim» (Jo 13, 1), manifesta o amor do Pai, que Ele próprio recebe. E os discípulos, amando-se uns aos outros, imitam o amor de Jesus, amor que eles recebem também em si. É por isso que Jesus diz: «Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor» (Jo 15, 9). E ainda: «É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei» (Jo 15, 12).

1824. Fruto do Espírito e plenitude da Lei, a caridade guarda os mandamentos de Deus e do seu Cristo: «Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor» (Jo 15, 9-10) (76).

1825. Cristo morreu por amor de nós, sendo nós ainda «inimigos» (Rm 5, 10). O Senhor pede-nos que, como Ele, amemos até os nossos inimigos (77), que nos façamos o próximo do mais afastado (78), que amemos as crianças (79) e os pobres como a Ele próprio (80).

    O apóstolo São Paulo deixou-nos um incomparável quadro da caridade: «A caridade é paciente, a caridade é benigna; não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa; não é inconveniente, não procura o próprio interesse, não se imita, não guarda ressentimento, não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade; tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» (1Cor 13, 4-7).

1826. Sem a caridade, diz ainda o Apóstolo, «nada sou». E tudo o que for privilégio, serviço, ou mesmo virtude..., se não tiver caridade «de nada me aproveita» (81). A caridade é superior a todas as virtudes. É a primeira das virtudes teologais: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13).

1827. O exercício de todas as virtudes é animado e inspirado pela caridade. Esta é o «vínculo da perfeição» (Cl 3, 14) e a forma das virtudes: articula-as e ordena-as entre si; é a fonte e o termo da sua prática cristã. A caridade assegura e purifica a nossa capacidade humana de amar e eleva-a à perfeição sobrenatural do amor divino.

1828. A prática da vida moral animada pela caridade dá ao cristão a liberdade espiritual dos filhos de Deus. O cristão já não está diante de Deus como um escravo, com temor servil, nem como o mercenário à espera do salário, mas como um filho que corresponde ao amor «d'Aquele que nos amou primeiro» (1 Jo 4, 19):

    «Nós, ou nos desviamos do mal por temor do castigo e estamos na atitude do escravo, ou vivemos à espera da recompensa e parecemo-nos com os mercenários; ou, finalmente, é pelo bem em si e por amor d'Aquele que manda, que obedecemos [...], e então estamos na atitude própria dos filhos» (82).

1829 Os frutos da caridade são: a alegria, a paz e a misericórdia; exige a prática do bem e a correcção fraterna; é benevolente; suscita a reciprocidade, é desinteressada e liberal: é amizade e comunhão:

    «A consumação de todas as nossas obras é o amor. É nele que está o fim: é para a conquista dele que corremos; corremos para lá chegar e, uma vez chegados, é nele que descansamos» (83).

1844. Pela caridade, amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. A caridade é o «vínculo da perfeição» (Cl 3, 14) e a forma de todas as virtudes.

O que o Magistério da Igreja nos tem indicado sobre esta verdade da Fé?
Concílio Vaticano II, Decreto Ad Gentes - Sobre a actividade missionária da Igreja, 7 de Dezembro de 1965
7. A razão desta actividade missionária vem da vontade de Deus, que «quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Ora há um só Deus, e um só que é mediador de Deus e dos homens, o homem Cristo Jesus, que se deu a si mesmo como preço de resgate por todos» (l Tim. 2, 4-6), «e não há salvação em nenhum outro» (Act. 4,12). Portanto, é preciso que todos se convertam a Cristo conhecido pela pregação da Igreja e que sejam incorporados, pelo Baptismo, a Ele e à Igreja, seu corpo. O próprio Cristo, aliás, ao inculcar por palavras expressas a necessidade da fé e do Baptismo (37), confirmou também, por isso mesmo, a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Baptismo, que é como que a porta de entrada. Por isso, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando que Deus fundou por intermédio de Jesus Cristo a Igreja católica como necessária, não quisessem, apesar disso, entrar nela ou nela perseverar» (38). Por isso também, embora Deus, por caminhos que só Ele sabe, possa conduzir à fé, sem a qual é impossível ser-se-Lhe agradável (39), os homens que ignoram o Evangelho sem culpa sua, incumbem à Igreja, apesar de tudo, a obrigação (40) e o sagrado direito de evangelizar. Daí vem que a actividade missionária conserve ainda hoje e haja de conservar sempre toda a sua eficácia e a sua necessidade.
Proémio e Capítulo I
38. Cfr. Conc. Vat. II, Const. dogm. De Ecelesia Lumen Gentium, n.° 14: AAS 57 (1965), p. 18.

Capítulo II
Enfim, o estado jurídico dos catecúmenos deve ser fixado claramente no novo Código. Pois eles estão já unidos à Igreja (22), já são da casa de Cristo (23), e, não raro, eles levam já uma vida de fé, de esperança e de caridade.
22. Cfr. Concilio Vat. II, Const. dogm. De Ecclesia, Lumen gentium, n. 14: AAS 57 (1965), p. 19.



Credo do povo de Deus, 30 de Junho de 1968
23. Cremos que a Igreja é necessária para a Salvação, pois só Cristo é o Mediador e caminho da salvação, e Ele se torna presente a nós no seu Corpo que é a Igreja [28]. Mas o desígnio divino da Salvação abrange a todos os homens; e aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo e sua Igreja, procuram todavia a Deus com sincero coração, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir com obras a sua vontade, conhecida pelo ditame da consciência, também esses, em número aliás que somente Deus conhece, podem conseguir a salvação eterna [29].
[28] cf. ibid. 14.

«Aperite portas Redemptori», Bula de proclamação do Jubileu pelo 1950º aniversário da Redenção, 6 de Janeiro de 1983
4. A extraordinária celebração jubilar da Redenção visa, antes de mais nada, reavivar nos filhos da Igreja católica a consciência de « que a sua condição privilegiada não se deve atribuir aos próprios méritos, mas sim a uma graça especial de Cristo; pelo que, se a ela não corresponderem com os pensamentos, palavras e acções, bem longe de se salvarem, serão antes mais severamente julgados ».[17] Por consequência, todos os fiéis devem sentir-se sobretudo chamados a uma aplicação especial à penitência e à renovação, dado que é este o estado permanente da própria Igreja, a qual, sendo « simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, não descura nunca a penitência e a renovação de si mesma »,[18] seguindo a exortação dirigida por Cristo às multidões, no início do seu ministério: « Fazei penitência e acreditai na Boa Nova ».[19]
[17] Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja, Lumen gentium, 14.

Encíclica Redemptoris Missio, Papa São João Paulo II, 7 de Dezembro de 1990
9. A primeira beneficiária da salvação é a Igreja: Cristo adquiriu-a com o Seu sangue (cf. Act 20, 28) e tornou-a Sua cooperadora na obra da salvação universal. Com efeito, Cristo vive nela, é o seu Esposo, realiza o seu crescimento, e cumpre a Sua missão através dela. O Concílio deu grande realce ao papel da Igreja, em favor da salvação da humanidade. Enquanto reconhece que Deus ama todos os homens e lhes dá a possibilidade de se salvarem (cf. 1 Tim 2, 4), [15] a Igreja professa que Deus constituiu Cristo como único mediador e que ela própria foi posta como instrumento universal de salvação. [16] « Todos os homens, pois, são chamados a esta católica unidade do Povo de Deus (...) à qual, de diversos modos, pertencem ou estão ordenados quer os fiéis católicos, quer os outros crentes em Cristo, quer universalmente todos os homens, chamados à salvação pela graça de Deus ». [17] É necessário manter unidas, estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação. Ambas facilitam a compreensão do único mistério salvífico, permitindo experimentar a misericórdia de Deus e a nossa responsabilidade. A salvação, que é sempre um dom do Espírito, exige a colaboração do homem, para se salvar tanto a si próprio como aos outros. Assim o quis Deus, e por isso estabeleceu e comprometeu a Igreja no plano da salvação. « Este povo messiânico — diz o Concílio — estabelecido por Cristo como uma comunhão de vida, amor e verdade, serve também, nas mãos d'Ele, de instrumento da redenção universal, sendo enviado a todo o mundo, como luz desse mundo e sal da terra ». [18]
15 Cf. Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14-17; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 3.
« Não podemos calar-nos » (Act 4, 20)
11. Que dizer então das objecções, atrás referidas, relativamente à missão ad gentes? Respeitando todas as crenças e todas as sensibilidades, devemos afirmar antes de mais, com simplicidade, a nossa fé em Cristo, único Salvador do homem — fé que recebemos como um dom do Alto, sem mérito algum da nossa parte. Dizemos com S. Paulo: « eu não me envergonho do Evangelho, o qual é poder de Deus para salvação de todo o crente » (Rm 1, 16). Os mártires cristãos de todos os tempos — também do nosso — deram e continuam a dar a vida para testemunhar aos homens esta fé, convencidos de que cada homem necessita de Jesus Cristo, o Qual, destruindo o pecado e a morte, reconciliou os homens com Deus.
Cristo proclamou-se Filho de Deus, intimamente unido ao Pai e, como tal, foi reconhecido pelos discípulos, confirmando as suas palavras com milagres e sobretudo com a ressurreição. A Igreja oferece aos homens o Evangelho, documento profético, capaz de corresponder às exigências e aspirações do coração humano: é e será sempre a « Boa Nova ». A Igreja não pode deixar de proclamar que Jesus veio revelar a face de Deus, e merecer, pela cruz e ressurreição, a salvação para todos os homens.
À pergunta porquê a missão?, respondemos, com a fé e a experiência da Igreja, que abrir-se ao amor de Cristo é a verdadeira libertação. N'Ele, e só n'Ele, somos libertos de toda a alienação e extravio, da escravidão ao poder do pecado e da morte. Cristo é verdadeiramente « a nossa paz » (Ef 2,14), e « o amor de Cristo nos impele » (2 Cor 5, 14), dando sentido e alegria à nossa vida. A missão é um problema de fé, é a medida exacta da nossa fé em Cristo e no Seu amor por nós.
A tentação hoje é reduzir o cristianismo a uma sabedoria meramente humana, como se fosse a ciência do bom viver. Num mundo fortemente secularizado, surgiu uma « gradual secularização da salvação », onde se procura lutar, sem dúvida, pelo homem, mas por um homem dividido a meio, reduzido unicamente à dimensão horizontal. Ora nós sabemos que Jesus veio trazer a salvação integral, que abrange o homem todo e todos os homens, abrindo-lhes os horizontes admiráveis da filiação divina.
Porquê a missão? Porque a nós, como a S. Paulo, « nos foi dada esta graça de anunciar aos gentios a insondável riqueza de Cristo » (Ef 3, 8). A novidade de vida n'Ele é « Boa Nova » para o homem de todos os tempos: a ela todos são chamados e destinados. Todos, de facto, a buscam, mesmo se às vezes confusamente, e têm o direito de conhecer o valor de tal dom e aproximar-se dele. A Igreja, e nela cada cristão, não pode esconder nem guardar para si esta novidade e riqueza, recebida da bondade divina para ser comunicada a todos os homens.
Eis por que a missão, para além do mandato formal do Senhor, deriva ainda da profunda exigência da vida de Deus em nós. Aqueles que estão incorporados na Igreja Católica devem-se sentir privilegiados, e, por isso mesmo, mais comprometidos a testemunhar a fé e a vida cristã como serviço aos irmãos e resposta devida a Deus, lembrados de que « a grandeza da sua condição não se deve atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não correspondem a essa graça por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrem num julgamento ainda mais severo ». [20]
20 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14.
Na verdade, o próprio Senhor, « ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do baptismo, ao mesmo tempo corroborou a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pela porta do baptismo », [101] O diálogo deve ser conduzido e realizado com a convicção de que a Igreja é o caminho normal de salvação e que só ela possui a plenitude dos meios de salvação. [102]
101 Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14; cf. Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 7.
102 Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Decreto sobre o ecumenismo Unitatis redintegratio, 3; Decreto sobre a actividade missionária da Igreja Ad gentes, 7.




Discurso do Papa São João Paulo II aos participantes na assembleia plenária da congregação para a doutrina da Fé, 28 de Janeiro de 2000
4. Em conexão com a unidade da mediação salvífica de Cristo coloca-se a unicidade da Igreja por Ele fundada. Com efeito, o Senhor Jesus constitui a sua Igreja como realidade salvífica: como seu Corpo, mediante o qual Ele mesmo actua na história da salvação. Assim como há um só Cristo, também existe o seu único Corpo: "Igreja una, católica e apostólica" (cf. Símbolo de fé, DS 48). A este respeito, o Concílio Vaticano II afirma: "O santo Concílio... assente na Sagrada Escritura e na Tradição, ensina que esta Igreja peregrina na terra é necessária para a salvação" (Constituição dogmática Lumen gentium, 14).
Efectivamente, é erróneo considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado daqueles constituídos por outras religiões, que seriam complementares à Igreja e convergentes com esta, rumo ao Reino de Deus escatológico. Portanto, deve-se excluir uma certa mentalidade de indiferentismo "caracterizada por um relativismo religioso, que considera que uma religião vale outra" (cf. Carta Encíclica, Redemptoris missi, 36).
É verdade que os não-cristãos recordou o Concílio vaticano II podem "alcançar" a vida eterna "sob a acção da graça", se "buscarem a Deus na sinceridade do coração" (Lumen gentium, 16). Todavia, na sua busca sincera da verdade de Deus eles são de facto "ordenados" para Cristo e o seu Corpo, que é a Igreja (cf. ibid.). De qualquer forma, encontram-se numa situação deficitária, se se comparar esta com aquela das pessoas que na Igreja têm a plenitude dos meios salvíficos. Portanto é compreensível que, seguindo o mandato do Senhor (cf. Mt 28, 19-20) e como exigência do amor por todos os homens, a Igreja "anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é "o Caminho, a Verdade e a Vida" (Jo 14, 6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo (cf. 2 Cor 5, 18-19)" (Declaração Nostra aetate, 2).


Congregação para a doutrina da Fé - Declaração "DOMINUS IESUS" sobre a unicidade e a universalidade salvífica de Jesus Cristo e da Igreja, 6 de Agosto de 2000
16. O Senhor Jesus, único Salvador, não formou uma simples comunidade de discípulos, mas constituiu a Igreja como mistério salvífico: Ele mesmo está na Igreja e a Igreja n'Ele (cf. Jo 15,1ss.; Gal 3,28; Ef 4,15-16; Actos 9,5); por isso, a plenitude do mistério salvífico de Cristo pertence também à Igreja, unida de modo inseparável ao seu Senhor. Jesus Cristo, com efeito, continua a estar presente e a operar a salvação na Igreja e através da Igreja (cf. Col 1,24-27),47 que é o seu Corpo (cf. 1 Cor 12,12-13.27; Col 1,18).48 E, assim como a cabeça e os membros de um corpo vivo, embora não se identifiquem, são inseparáveis, Cristo e a Igreja não podem confundir-se nem mesmo separar-se, constituindo invés um único « Cristo total ».49 Uma tal inseparabilidade é expressa no Novo Testamento também com a analogia da Igreja Esposa de Cristo (cf. 2 Cor 11,2; Ef 5,25-29; Ap 21,2.9).50
Assim, e em relação com a unicidade e universalidade da mediação salvífica de Jesus Cristo, deve crer-se firmemente como verdade de fé católica a unicidade da Igreja por Ele fundada. Como existe um só Cristo, também existe um só seu Corpo e uma só sua Esposa: « uma só Igreja católica e apostólica ».51 Por outro lado, as promessas do Senhor de nunca abandonar a sua Igreja (cf. Mt 16,18; 28,20) e de guiá-la com o seu Espírito (cf. Jo 16,13) comportam que, segundo a fé católica, a unicidade e unidade, bem como tudo o que concerne a integridade da Igreja, jamais virão a faltar.52
(47) Cf. Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14.
Antes de mais, deve crer-se firmemente que a « Igreja, peregrina na terra, é necessária para a salvação. Só Cristo é mediador e caminho de salvação; ora, Ele torna-se-nos presente no seu Corpo que é a Igreja; e, ao inculcar por palavras explícitas a necessidade da fé e do Baptismo (cf. Mc 16,16; Jo 3,5), corroborou ao mesmo tempo a necessidade da Igreja, na qual os homens entram pelo Baptismo tal como por uma porta ».77 Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus (cf. 1 Tim 2,4); daí « a necessidade de manter unidas estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação ».78 A Igreja é « sacramento universal de salvação »,79 porque, sempre unida de modo misterioso e subordinada a Jesus Cristo Salvador, sua Cabeça, tem no plano de Deus uma relação imprescindível com a salvação de cada homem.80
(77) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14. Cf. Decr. Ad gentes, n. 7; Decr. Unitatis redintegratio, n. 3.
22. Com a vinda de Jesus Cristo Salvador, Deus quis que a Igreja por Ele fundada fosse o instrumento de salvação para toda a humanidade (cf. Act 17,30-31).90 Esta verdade de fé nada tira ao facto de a Igreja nutrir pelas religiões do mundo um sincero respeito, mas, ao mesmo tempo, exclui de forma radical a mentalidade indiferentista « imbuída de um relativismo religioso que leva a pensar que “tanto vale uma religião como outra” ».91 Se é verdade que os adeptos das outras religiões podem receber a graça divina, também é verdade que objectivamente se encontram numa situação gravemente deficitária, se comparada com a daqueles que na Igreja têm a plenitude dos meios de salvação.92 Há que lembrar, todavia, « a todos os filhos da Igreja que a grandeza da sua condição não é para atribuir aos próprios méritos, mas a uma graça especial de Cristo; se não corresponderem a essa graça, por pensamentos, palavras e obras, em vez de se salvarem, incorrerão num juízo mais severo ».93 Compreende-se, portanto, que, em obediência ao mandato do Senhor (cf. Mt 28,19-20) e como exigência do amor para com todos os homens, a Igreja « anuncia e tem o dever de anunciar constantemente a Cristo, que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6), no qual os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou todas as coisas consigo ».94
(93) Conc. Vaticano II, Const. dogm. Lumen gentium, n. 14.



Encíclica Ecclesia de Eucharistia, Papa São João Paulo II, 17 de Abril de 2003
36. A comunhão invisível, embora por natureza esteja sempre em crescimento, supõe a vida da graça, pela qual nos tornamos « participantes da natureza divina » (cf. 2 Ped 1, 4), e a prática das virtudes da fé, da esperança e da caridade. De facto, só deste modo se pode ter verdadeira comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Não basta a fé; mas é preciso perseverar na graça santificante e na caridade, permanecendo na Igreja com o « corpo » e o « coração »; (72) ou seja, usando palavras de S. Paulo, é necessária « a fé que actua pela caridade » (Gal 5, 6).
A integridade dos vínculos invisíveis é um dever moral concreto do cristão que queira participar plenamente na Eucaristia, comungando o corpo e o sangue de Cristo. Um tal dever, recorda-o o referido Apóstolo com a advertência seguinte: « Examine-se cada qual a si mesmo e, então, coma desse pão e beba desse cálice » (1 Cor 11, 28). Com a sua grande eloquência, S. João Crisóstomo assim exortava os fiéis: « Também eu levanto a voz e vos suplico, peço e esconjuro para não vos abeirardes desta Mesa sagrada com uma consciência manchada e corrompida. De facto, uma tal aproximação nunca poderá chamar-se comunhão, ainda que toquemos mil vezes o corpo do Senhor, mas condenação, tormento e redobrados castigos ».(73)
(72)Cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14.
38. A comunhão eclesial, como atrás recordei, é também visível, manifestando-se nos vínculos elencados pelo próprio Concílio Vaticano II quando ensina: « São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo, aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da profissão da fé, dos sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na sua estrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos ».(77) A Eucaristia, como suprema manifestação sacramental da comunhão na Igreja, exige para ser celebrada um contexto de integridade dos laços, inclusive externos, de comunhão. De modo especial, sendo ela « como que a perfeição da vida espiritual e o fim para que tendem todos os sacramentos »,(78) requer que sejam reais os laços de comunhão nos sacramentos, particularmente no Baptismo e na Ordem sacerdotal. Não é possível dar a comunhão a uma pessoa que não esteja baptizada ou que rejeite a verdade integral de fé sobre o mistério eucarístico. Cristo é a verdade, e dá testemunho da verdade (cf. Jo 14, 6; 18, 37); o sacramento do seu corpo e sangue não consente ficções.
(77)Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 14.




Congregação para a doutrina da Fé - Nota doutrinal sobre alguns aspectos da evangelização, 3 de Dezembro de 2007
1. Enviado pelo Pai a anunciar o Evangelho (cf. Mc 1, 14), Jesus Cristo convida todos os homens à conversão e à fé (cf. Mc 1, 14-15), confiando aos Apóstolos, depois da sua ressurreição, a continuação da sua missão evangelizadora (cf. Mt 28, 19-20; Mc 16, 15; Lc 24, 4-7; Act 1, 3): «como o Pai me enviou também Eu vos envio» (Jo 20, 21; cf. 17, 18). Na verdade, através da Igreja, Ele quer atingir cada época da história, cada lugar da terra e cada âmbito da sociedade, chegar a cada pessoa, para que haja um só rebanho e um só pastor (cf. Jo 10, 16): «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo, mas quem não acreditar será condenado» (Mc 16, 15-16).
Com efeito, os Apóstolos, «movidos pelo Espírito, convidavam todos a mudar de vida, a converter-se e a receber o Baptismo»[1], porque a «Igreja peregrinante é necessária à salvação»[2]. É o próprio Senhor Jesus Cristo que, presente na sua Igreja (cf. Mt 28, 20), precede a obra dos evangelizadores, a acompanha e a segue, fazendo frutificar o trabalho. Aquilo que aconteceu nas origens do cristianismo continua ao longo de toda a história.
[2] Lumen gentium, n. 14; Ad gentes, n. 7; Unitatis redintegratio, n. 3. Esta doutrina não se contrapõe à vontade salvífica universal de Deus, que «quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade» (1 Tim 2, 4); por isso «é necessário manter unidas, estas duas verdades: a real possibilidade de salvação em Cristo para todos os homens, e a necessidade da Igreja para essa salvação» (J. PAULO II, Redemptoris missio, n. 9: AAS 83 (1991) 258).







segunda-feira, 16 de abril de 2018

A alegria da Páscoa - o caminho e a misericórdia

Neste Domingo, a Palavra de Deus dirigiu-se-nos mostrando o que nos foi alcançado, o que nos é pedido e a beleza da misericórdia que é tanto mais bela quanto mais exigente é o caminho e quanto mais elevado é o destino.

Na primeira leitura (Actos 3, 13-15.17-19) é nos indicado o padecimento do Messias por isso: "arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados".

Na segunda leitura (1 Jo 2, 1-5) temos cinco momentos magníficos:
  • A Fé que nos é transmitida é para que não pequemos.
  • Jesus Cristo "é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro".
  • O conhecimento de Jesus Cristo e da Verdade realiza-se se guardamos e vivemos os Seus mandamentos.
  • O amor de Deus atinge a perfeição ao guardarmos os mandamentos, a Sua Palavra.
  • Se alguém pecar tem sempre em Jesus Cristo como advogado junto do Pai.
No Evangelho (Lc 24, 35-48) temos em primeiro lugar a indicação da realidade da Ressurreição, de uma forma real de Corpo e Alma. Temos ainda a indicação do que é a compreensão das Escrituras: "o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações."

Aqui temos um quadro belissimo da alegria da Páscoa.
Jesus Cristo é o Messias, vítima de propriciação pelos nossos pecados. Agora que nos foi transmitida a Fé e pela Graça de Deus a alcançamos, e nela perseveramos, não devemos pecar. O encontro com Jesus Cristo e com a Verdade leva-nos a uma vida nova em Deus, de abandono do pecado e do que é mundano. Se pecarmos temos a misericórdia de Deus, com arrependimento e conversão temos Jesus Cristo, que deu a vida por nós, para nos reunirmos de novo nos braços do Pai.

Alegremo-nos porque fomos restituídos à glória da adopção divina, elevemos o olhar na esperança da felicidade eterna.

Estar no mundo sem ser do mundo - Carta a Diogneto

Carta a Diogneto de autor anónimo, escrita no século II, consultada aqui.
Nesta carta sobre as primeiras comunidades cristãs podemos compreender melhor o que significa o estar no mundo sem ser do mundo.

"V.
1 Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem pela língua, nem pelos costumes. 2 Nem, em parte alguma, habitam cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. 3 Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjectura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana. 4 Habitando cidades Gregas e Bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social.

5 Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo, como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira. 6 Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os neonatos. 7 Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito. 8 Encontram-se na carne, mas não vivem segundo a carne. 9 Moram na terra e são regidos pelo céu. 10 Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas.

11 Amam todos e por todos são perseguidos.

12 Não são reconhecidos, mas são condenados à morte; são condenados à morte e ganham a vida.

13 São pobres, mas enriquecem muita gente; de tudo carecem, mas em tudo abundam.

14 São desonrados, e nas desonras são glorificados; injuriados, são também justificados.

15 Insultados, bendizem; ultrajados, prestam as devidas honras.

16 Fazendo o bem, são punidos como maus; fustigados, alegram-se, como se recebessem a vida.

17 São hostilizados pelos Judeus como estrangeiros; são perseguidos pelos Gregos,
e os que os odeiam não sabem dizer a causa do ódio.


VI.
1 Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo.

2 A alma está em todos os membros do corpo
e os cristãos em todas as cidades do mundo.

3 A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo;
também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo.

4 A alma invisível vela no corpo visível;
Também os cristãos sabe-se que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível.

5 A carne odeia a alma, e, apesar de não a ter ofendido em nada, faz-lhe a guerra, só porque se lhe opõe a que se entregue aos prazeres; da mesma forma, o mundo odeia os cristãos que não lhe fazem nenhum mal, porque se opõem aos seus prazeres.

6 A alma ama a carne, que a odeia, e os seus membros;
Também os cristãos amam os que os odeiam.

7 A alma está encerrada no corpo, é todavia ela que sustém o corpo.
Também os cristãos se encontram retidos no mundo como em cárcere, mas são eles que sustêm o mundo.

8 A alma imortal habita numa tenta mortal;
Também os cristãos habitam em tendas mortais, esperando a incorrupção nos céus.

9 Provada pela fome e pela sede, a alma vai-se melhorando; também os cristãos, fustigados dia-a-dia, mais se vão multiplicando.

10 Deus pô-los numa tal situação, que lhes não é permitido evadir-se.


VII.
1 Não foi, pois, como dizia, uma invenção terrena esta que lhes foi transmitida, nem, deste modo, professam guardar com tal cuidado uma ideia mortal, nem é a administração de mistérios humanos que lhes é confiada.

2 Mas o próprio, verdadeiramente Omnipotente, o Criador de todas as coisas, o Deus invisível, ele próprio enviando do alto dos céus a Verdade, o seu Verbo santo e incompreensível aos homens que inseriu nos seus corações: não, como alguém poderia imaginar, que tenha enviado aos homens algum subordinado, anjo ou arconte, ou algum dos que governam as coisas terrenas, ou daqueles a quem foram confiadas as administrações dos céus, mas o próprio Artífice e Demiurgo de todas as coisas, por quem fundou os céus, encerrou os mares nos seus próprios limites; cujos mistérios todos os elementos guardam fielmente; da parte do qual o sol recebeu as medidas a observar no seu curso quotidiano; ao qual a Lua obedece, quando lhe ordena que brilhe durante a noite; aoqual obedecem os astros que acompanham o curso da Lua; Por ele todas as coisas foram ordenadas, delimitadas e submetidas: os céus e o que há nos céus; a terra e as coisas que há na terra; o mar e tudo o que há no mar; o fogo, o ar e os abismos; as coisas que há nas alturas e nas profundezas e no espaço intermédio: foi Ele que Deus lhes enviou.

3 Acaso, como algum dos homens pensaria, na tirania, no temor e no pavor? 4 De modo nenhum, mas enviou-o na clemência e na doçura, como um Rei que enviou o Filho Rei, enviou-o como Deus. Como Homem enviou-o aos homens: enviou-o para salvar, pela persuasão e não pela força. Efectivamente, a violência não se ajusta a Deus. 5 Enviou-o como quem chama, não como quem persegue; enviou-o como quem ama, não como quem condena. 6 Efectivamente, enviá-lo-á para julgar. E quem suportará a Sua manifestação?

7 (Não vês) que são lançados às feras, para que neguem o Senhor, e não se deixam vencer? 8 Não vês que quanto mais perseguidos são, mais numerosos se tornam? 9 Estas coisas não me parece que sejam obras do homem: elas são força de Deus, elas são manifestações da Sua presença."


sexta-feira, 13 de abril de 2018

A Fé na Verdade revelada - Beato Papa Paulo VI

Homilia do Beato Papa Paulo VI no último ano do seu pontificado, em 29 de Junho de 1978, onde salienta a importância da Fé e dos documentos do seu pontificado que para a Fé apontam.

O texto completo pode ser lido aqui, não tem em português, como dá para compreender coloco o texto em espanhol.

Começa o Papa por recordar a importância e a centralidade da Fé:
"Nuestro ministerio es el mismo de Pedro, al que Cristo confió el mandato de confirmar a los hermanos (cf. Lc 22. 32) : es la misión de servir a la verdad de la fe y ofrecer esta verdad a cuantos la buscan, según una expresión estupenda de San Pedro Crisólogo: Beatus Petrus, qui in propria sede et vivit et praesidet, praestat quarentibus fidei veritatem (Ep. ad Eutichem, ínter Ep. S. Leonis Magni, XXV. 2; PL 54, 743-4).

En efecto, la fe es "más preciosa que el oro" (1 Pe 1. 7), dice San Pedro; no basta recibirla, sino que hay que conservarla incluso en medio de las dificultades ("per ignem, probatur", ib.).

Los Apóstoles fueron predicadores de la fe, incluso en la persecución, sellando su testimonio con la muerte, a imitación de su Maestro y Señor quien, según la hermosa fórmula de San Pablo, "hizo la buena confesión en presencia de Poncio Pilato" (1 Tim 6, 13).

Ahora bien, la fe no es resultado de la especulación humana (cf. 2 Pe 1, 16), sino el "depósito" recibido de los Apóstoles, quienes a su vez lo recibieron de Cristo al que ellos han "visto, contemplado y escuchado" (1 Jn 1, 1-3). Esta es la fe de la Iglesia, la fe apostólica.

La enseñanza recibida de Cristo se mantiene intacta en la Iglesia gracias a la presencia en ella del Espíritu Santo y a la misión especial confiada a Pedro, por quien Cristo oró: "Yo he rogado por ti para que no desfallezca tu fe" (Lc 22, 32), y por la misión también del Colegio de los Apóstoles en comunión con él: "El que a vosotros oye, a mí me oye" (Lc 10, 16).

La función de Pedro se perpetúa en sus sucesores; tanto es así que los obispos del Concilio de Calcedonia pudieron decir, después de haber escuchado la Carta que les envió el Papa León: "Pedro ha hablado por boca de León" (cf. H. Grisar, Roma alla fine del tempo antico, I, 359).

El núcleo de esta fe es Jesucristo, verdadero Dios y verdadero hombre; Cristo, a quien Pedro confesó con estas palabras: "Tú eres el Mesías, el Hijo de Dios vivo" (Mt 16, 16).

He ahí, hermanos e hijos, el propósito incansable, vigilante, agobiador que nos ha movido durante estos quince años de pontificado. Fidem servavi, podemos decir hoy, con la humilde y firme conciencia de no haber traicionado nunca "la santa verdad" (A. Manzoni)."


Sobre os documentos do seu pontificado salienta:
"Recordemos, como confirmación de este convencimiento y para confortar nuestro espíritu que continuamente se prepara al encuentro con el justo Juez (cf. 2 Tim 4, 8), algunos documentos principales del pontificado que han querido señalar las etapas de este nuestro sufrido ministerio de amor y de servicio a la fe y a la disciplina; entre las Encíclicas y las Exhortaciones pontificias:

— Ecclesiam suam (6 de agosto de 1964; cf. AAS 56, 1964, págs. 609-659), que, en el alba del pontificado, trazaba las -líneas de acción de la Iglesia en sí misma y en su diálogo con el mundo de los hermanos cristianos separados, de los no cristianos, de los no creyentes;

— Mysterium fidei sobre la doctrina eucarística (3 de septiembre de 1965; cf. AAS 57, 1965, págs. 753-774);

— Sacerdotalis caelibatus (24 de junio de 1967; cf. AAS, ib., págs. 657-697), sobre la donación total de sí que caracteriza el carisma y el ministerio presbiteral;

— Evangelica testificatio (29 de junio de 1971; cf. AAS, ib., págs. 497-526), sobre el testimonio que, en perfecto seguimiento de Cristo, está llamada a dar hoy ante el mundo la vida religiosa;

— Paterna cum benevolentia (8 de diciembre de 1974; cf. AAS 67, 1975, págs. 5-23), en vísperas del Año Santo, sobre la reconciliación dentro de la Iglesia;

— Gaudete in Domino (9 de mayo de 1975; cf. AAS, ib., págs. 289-322), sobre la riqueza desbordante y transformadora de la alegría cristiana;

— y finalmente la Evangelii nuntiandi (8 de diciembre de 1975; cf. AAS 68, 1976, págs. 5-76), que ha querido trazar el panorama exultante y múltiple de la acción evangelizadora de la Iglesia hoy día.

Pero sobre todo, no queremos olvidar aquella nuestra "Profesión de fe" que justamente hace diez años, el 30 de junio de 1968, pronunciamos solemnemente en nombre y cual empeño de toda la Iglesia como "Credo del Pueblo de Dios" (cf. AAS 60, 1968, págs. 436-445). para recordar, para reafirmar, para corroborar los puntos capitales de la fe de la Iglesia misma, proclamada por los más importantes Concilios Ecuménicas, en un momento en que fáciles ensayos doctrinales parecían sacudir la certeza de tantos sacerdotes y fieles y qua requerían un retorno a las fuentes."

 

O Papa faz o seguinte apelo para estarmos atentos ao conhecimento e transmissão da Fé:
"Gracias al Señor, muchos peligros se han atenuado; no obstante, frente a las dificultades que todavía hoy debe afrontar la Iglesia tanto en el plano doctrinal como disciplinar, nosotros seguimos apelando enérgicamente a aquella sumaria profesión de fe, que consideramos un acto importante de nuestro magisterio pontificio, porque sólo con fidelidad a las enseñanzas de Cristo y de la Iglesia, transmitidas por los Padres, podemos tener esa fuerza de conquista y esa luz de la inteligencia y del alma que proviene de la posesión madura y consciente de la verdad divina.

Queremos además, hacer una llamada, angustiada sí, pero también firme, a cuantos se comprometen personalmente a sí mismos y arrastran a los demás con la palabra, con los escritos, con su comportamiento, por las vías de las opiniones personales y después por las de la herejía y del cisma, desorientando las conciencias de los individuos y la comunidad entera, la cual debe ser ante todo koinonía en la adhesión a la verdad de la Palabra de Dios, para verificar y garantizar la koinonía en el único Pan y en el único Cáliz. Los amonestamos paternamente: que se guarden de perturbar ulteriormente a la Iglesia; ha llegado el momento de la verdad, y es preciso que cada uno tenga conciencia clara de las propias responsabilidades frente a decisiones que deben salvaguardar la fe, tesoro común que Cristo, el cual es Piedra, es Roca, ha confiado a Pedro, Vicarius Petrae, Vicario de la Roca, como lo llama San Buenaventura (Quaest. disp. de perf. evang., q. 4, a. 3; ed. Quaracchi, V, 1891, pág. 195)."



A Verdade e o tesouro da Igreja

"A Igreja não tem outra vida fora daquela que lhe dá o seu Esposo e Senhor. De facto, precisamente porque Cristo no seu mistério de Redenção se uniu a ela, a Igreja deve estar fortemente unida com cada um dos homens.

Uma tal união de Cristo com o homem é em si mesma um mistério, do qual nasce o « homem novo », chamado a participar na vida de Deus, criado novamente em Cristo para a plenitude da graça e da verdade. A união de Cristo com o homem é a força e a nascente da força, segundo a incisiva expressão de São João no prólogo do seu Evangelho: « O Verbo deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus ». É esta força que transforma interiormente o homem, qual princípio de uma vida nova que não fenece nem passa, mas dura para a vida eterna. Esta vida, prometida e proporcionada a cada homem pelo Pai em Jesus Cristo, eterno e unigénito Filho, encarnado e nascido da Virgem Maria « ao chegar a plenitude dos tempos », é o complemento final da vocação do homem; é, de alguma maneira, o cumprir-se daquele « destino » que, desde toda a eternidade, Deus lhe preparou. Este « destino divino » torna-se via, por sobre todos os enigmas, as incógnitas, as tortuosidades e as curvas, do « destino humano » no mundo temporal. Se, de facto, tudo isto, não obstante toda a riqueza da vida temporal, leva por inevitável necessidade à fronteira da morte e à meta da destruição do corpo humano, apresenta-se-nos Cristo para além desta meta: « Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em Mim ... não morrerá jamais ». Em Jesus Cristo crucificado, deposto no sepulcro e depois ressuscitado, « brilha para nós a esperança da feliz ressurreição... a promessa da imortalidade futura », em direcção à qual o homem caminha, através da morte do corpo, partilhando com tudo o que é creado e visível esta necessidade a que está sujeita a matéria. Nós intentamos e procuramos aprofundar cada vez mais a linguagem desta verdade que o Redentor do homem encerrou na frase: « O espírito é que vivifica, a carne para nada serve ». Estas palavras, malgrado as aparências, exprimem a mais alta afirmação do homem: a afirmação do corpo, que o espírito vivifica!

A Igreja vive esta realidade, vive desta verdade sobre o homem, o que lhe permite transpor as fronteiras da temporaneidade e, ao mesmo tempo, pensar com particular amor e solicitude em tudo aquilo que, nas dimensões desta temporaneidade, incide na vida do homem, na vida do espírito humano, onde se afirma aquela inquietude perene, expressa nas palavras de Santo Agostinho: « Fizestes-nos, Senhor, para Vós, e o nosso coração está inquieto, até que não repouse em Vós ». Nesta inquietude criativa bate e pulsa aquilo que é mais profundamente humano: a busca da verdade, a insaciável necessidade do bem, a fome da liberdade, a nostalgia do belo e a voz da consciência. A Igreja, ao procurar ver o homem como que com « os olhos do próprio Cristo », torna-se cada vez mais cônscia de ser a guarda de um grande tesouro, que não lhe é lícito dissipar, mas que deve continuamente aumentar. Com efeito, o Senhor Jesus disse: « Quem não ajunta comigo, dispersa ». Aquele tesouro da humanidade, enriquecido do inefável mistério da filiação divina, da graça de « adopção como filhos » no Unigénito Filho de Deus, mediante a qual dizemos a Deus « Abbá, Pai », é ao mesmo tempo uma força potente que unifica a Igreja sobretudo por dentro e que dá sentido a toda a sua actividade. Por tal força a Igreja une-se com o Espírito de Cristo, com aquele Espírito Santo que o Redentor havia prometido e que comunica continuamente, e cuja descida, revelada no dia do Pentecostes, perdura sempre. Assim, no homem revelam-se as forças do Espírito, os dons do Espírito, os frutos do Espírito Santo. E a Igreja do nosso tempo parece repetir cada vez com maior fervor e com santa insistência: « Vinde, Espírito Santo! ». Vinde! Vinde! « Lavai o que se apresenta sórdido! Regai o que está árido! Sarai o que está ferido! Abrandai o que é rígido! Aquecei o que está frígido! Guiai o que se acha transviado! »."


Papa São João Paulo II, Encíclica Redemptor Hominis, 4 de Março de 1979.

da vida de São Francisco de Assis

Da Santa Missa de hoje, final da leitura I Actos 5, 34-42:
"Chamaram de novo os Apóstolos à sua presença e, depois de os terem mandado açoitar, proibiram-nos falar no nome de Jesus e soltaram-nos. Os Apóstolos saíram da presença do Sinédrio cheios de alegria, por terem merecido serem ultrajados por causa do nome de Jesus. E todos os dias, no templo e nas casas, não cessavam de ensinar e anunciar a boa nova de que Jesus era o Messias."

Da vida de São Francisco de Assis:
"Um dia, estando ele a pregar ao povo de Terni, o bispo da cidade, terminado o sermão, levantou-se para o felicitar publicamente. Disse-lhe ele: «Nestes últimos tempos, quis Deus lustrar a sua Igreja escolhendo este homem pobrezinho, desprezível, simples e sem letras. Isto nos obriga a louvar sempre o Senhor, sabendo que nenhum outro povo foi assim favorecido».
A estas palavras ficou o Santo deveras entusiasmado: o bispo acabava de declarar expressamente que ele era um homem desprezível. Apenas entraram na igreja, lançou-se-lhe aos pés, dizendo: «Verdadeiramente, grande foi a honra que me dispensaste, senhor bispo, pois enquanto os outros me tiram o que me pertence, só tu deixas intacto o que é meu. Quero dizer: como homem de discernimento, soubeste distinguir o precioso do vil e deste a Deus o louvor e a mim o desprezo»".

"Ardia de amor em todas as fibras do seu ser para com o Sacramento do Corpo do Senhor, não acabando de se maravilhar com tão amorosa condescendência e generosíssima caridade.
Comungava com frequência e com tal devoção, que tornava devotos os que o viam. Como tinha em grande veneração tão augusto sacramento, oferecia nele o sacrifício de toda a sua pessoa e, ao receber o Cordeiro imaculado, imolava também a alma no fogo que lhe ardia incessantemente no altar do coração."


Tomás de Celano – Vida Segunda de São Francisco de Assis

Que a alegria da celebração da Páscoa produzam em nós fruto e levem ao mundo a Tua alegria.

Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Baptismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Deus, Pai santo, que na vossa benigna providência quisestes que o vosso Verbo assumisse verdadeira carne humana no seio da Virgem Maria, concedei-nos que, celebrando o nosso Redentor como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, mereçamos também participar da sua natureza divina.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Concedei ao vosso povo, Deus de misericórdia, a graça de manifestar na sua vida o poder de Cristo ressuscitado, para que o penhor da redenção que d’Ele recebemos nos alcance a plenitude dos seus dons. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Senhor, que pelo mistério pascal de Cristo restaurastes a dignidade da natureza humana e lhe destes a nova esperança da ressurreição, fazei-nos viver em amor constante o mistério que anualmente celebramos na fé. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Nós Vos pedimos, Deus misericordioso, que os dons recebidos neste tempo pascal dêem fruto abundante em toda a nossa vida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Senhor nosso Deus, que, para nos libertar do poder do inimigo, quisestes que o vosso Filho sofresse por nós o suplício da cruz, concedei aos vossos servos a graça da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Senhor nosso Deus, que nos enviastes o Salvador e nos fizestes vossos filhos adoptivos, atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Exulte sempre o vosso povo, Senhor, com a renovada juventude da alma, de modo que, alegrando-se agora por se ver restituído à glória da adopção divina, aguarde o dia da ressurreição na esperança da felicidade eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.  


quinta-feira, 12 de abril de 2018

O que nos pede o Senhor?

O ser-se cristão compreende-se nestas palavras do Senhor: "Esta é a vida eterna: que te conheçam a Ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste" (Jn 17, 3). Portanto, o zelo da Igreja, por meio de seus sacerdotes e pastores em geral, foi e deve continuar a ser que os fiéis realmente desejem conhecer Jesus Cristo e Ele Crucificado, e que eles acreditem, piedosamente e com grande convicção, que não existe para os homens nenhum outro nome pelo qual nos podemos salvar.

O próprio Jesus Cristo é vítima da propiciação pelos nossos pecados, e sabemos que o conhecemos se guardarmos os Seus mandamentos, a fim de caminharmos pelo caminho que nos ensinou, e vivermos em Caridade, praticando a justiça, a piedade, a Fé e a humildade.

Nosso Senhor não só nos ensinou como mostrou pelo Seu exemplo, que a Lei e os Profetas se resumem na caridade, e este é o fim dos Mandamentos e o cumprimento da Lei, para o qual sua realização nos levará a amar a imensa bondade de Deus por nós, e a entender que a verdadeira felicidade consiste nestas palavras do Salmo (72, 25): "quem eu tenho no céu? Fora de Ti, eu não quero nada na terra". O Senhor quer que toda a nossa vida seja ordenada para a caridade. Mas, para isso é necessário conhecer a Lei do Senhor, os seus ensinamentos, as suas Palavras, os seus Mandamentos.

É esta a vida: amar e viver em Deus, colocando o próximo nesse amor de Deus.
No mundo quem reina é o princípe deste mundo, o que seduz, dá-nos dúvidas e tentações. Deus dá-nos confiança, certezas, a Verdade, e é ela que nos torna livres, para estarmos com Deus e o próximo, santificando o mundo.

A Igreja por si só não é importante, é antes sim importante porque é um dom do amor de Deus. A Igreja valoriza Deus porque conhece a Verdade que Ele revelou e segue fielmente a missão que recebeu: como Mãe e mestra de todos os povos, ao longo dos séculos, chama-nos para o seu seio e para o seu amor, de forma a que os Homens encontrem uma plenitude de vida mais elevada e o penhor seguro de salvação. A esta Igreja, "coluna e fundamento da verdade" (cf. 1 Tm 3, 15), o seu Fundador santíssimo confiou uma dupla missão: de gerar filhos, e de os educar e dirigir, orientando, com solicitude materna, a vida dos indivíduos e dos povos, cuja alta dignidade ela sempre desveladamente respeitou e defendeu.

Sem uma Fé firme, luminosa e a esperança na vida eterna, ficamos apenas pelo horizonte humano em busca da aprovação do mundo. Sem a Igreja como lugar da Esperança empobrecemos todos, desliga-se a luz e duvidamos.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Domingo na Oitava da Páscoa

As orações e leituras deste último Domingo mostram-nos que o Céu é a nossa morada. Tudo nesta celebração aponta para o Céu, mostra-nos o que o Senhor nos alcançou pela Sua morte e ressurreição.
O Senhor veio para nos elevar, colocarmos a Esperança em Deus a podermos viver a vida na Sua Graça e alcançarmos um dia a Sua presença no Céu.
Assim no mundo devemos estar sem sermos do mundo, mas estando nele santificando-o.


Oração colecta
Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Baptismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA II 1 Jo 5, 1-6
Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.

Evangelho Jo 20, 19-31
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

Oração sobre as oblatas (ofertório)
Aceitai benignamente, Senhor, as ofertas do vosso povo, de modo que, renovados pela profissão da fé e pelo Baptismo, mereçamos alcançar a bem-aventurança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Oração depois da comunhão
Concedei, Deus todo-poderoso, que a força do sacramento pascal que recebemos permaneça sempre em nossas almas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

O mundo natural ao serviço do sobrenatural

Nosso Senhor Jesus Cristo usou os cuidados naturais do mundo como um impulso para elevar as almas a um plano superior e comunicar uma verdade sobrenatural com a intenção de salvar-nos do castigo eterno no inferno. Por exemplo, vemos Nosso Senhor agindo dessa maneira quando alimenta a multidão. Ele satisfaz a fome natural por um momento, mas usa a ocasião para pregar sobre o Pão da Vida.

Outro exemplo é a conversa que Jesus teve com a mulher samaritana junto ao poço. A preocupação da mulher é natural: ela está a tirar água do poço para que ela e sua família possam beber. Essa preocupação é inteiramente legítima, claro - todos nós precisamos beber -, mas é natural: diz respeito ao corpo corruptível, não à alma imortal. Mesmo que ela precise de água para beber, chegará o dia em que ela morrerá, e nenhuma água no mundo poderá impedir que esse dia se aproxime. Se ela morrer sem se reconciliar com seu Criador, ela será punida eternamente por sua culpa, e toda a sua vida natural, com toda a sua água, comida e outras necessidades físicas e amenidades, terá sido em vão.

Nosso Senhor aproveita a ocasião de encontrá-la junto ao poço para elevá-la ao nível do sobrenatural. Ele transforma o seu anseio por água natural num anseio pela Verdade, pela Água Viva da Vida Eterna. Desta maneira maravilhosa, Nosso Senhor aproxima-se dos pecadores e atrai-os para Ele.

Aqueles que estão preocupados com os assuntos deste mundo o Senhor eleva-os para apresentar-lhes a uma realidade muito maior e mais significativa: os seus destinos eternos. Assim, enquanto as preocupações temporais podem ser bastante legítimas, é claro, elas devem, por fim, ceder às preocupações maiores e mais importantes da alma.
Cristo Jesus ensinou: “Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo. (João 6, 27),  “Aquilo que nasce da carne é carne, e aquilo que nasce do Espírito é espírito.(João 3, 6) e “É o Espírito quem dá a vida; a carne não serve de nada: as palavras que vos disse são espírito e são vida” (João 6, 63).

Aquele que permanece focado no natural, no mundano, no temporal, acabará por receber a morte: “quem semear na própria carne, da carne colherá a corrupção; quem semear no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna.” (Gl 6, 8). Nosso Senhor veio para nos libertar da excessiva preocupação com as coisas do mundo, ensinando-nos que Deus proveria se nós sinceramente procurássemos servi-Lo, e que em breve este mundo e tudo o que ele contém vão desaparecer de qualquer maneira.

Cristo colocou o natural ao serviço do sobrenatural. Ensinou-nos a colocar o olhar em Deus enquanto no mundo levamos a caridade, tendo como horizonte o Céu.

Para quem não acredita a vida natural deste mundo é o mais importante, mas para um católico a vida sobrenatural da graça e da felicidade na vida do mundo que há-de vir é infinitamente mais importante: “É que o salário do pecado é a morte; ao passo que o dom gratuito que vem de Deus é a vida eterna, em Cristo Jesus, Senhor nosso.” (Rom 6, 23).



"Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes aquele que pode fazer perecer na Geena o corpo e a alma." (Mt 10,28)

"E disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado" (Mc 16,15-16)