quinta-feira, 8 de agosto de 2019

Porquê a missa tradicional?

Porque é que por todo o mundo existem católicos a pedir a celebração da missa na forma tradicional, também chamada de forma extraordinária do rito romano?

Primeiro resposta a algumas ideias erradas:

Quem pede a forma extraordinária não a pede por causa de ser em latim, nem por nostalgia do latim, mas sim por tudo o que ela contém, o latim nem é o mais importante.

As pessoas entendem a missa em português mas pelo que vemos (falta de vocações, poucos cristãos vão à missa, sacramentos tratados como serviços que a Igreja presta) a vasta maioria não a compreende, vai uma grande distancia entre entender o que é dito em oração até o compreendermos e vivermos. Além de que o que temos em português é uma tradução do missal de 1969 e não do missal usado na forma extraordinária, o texto que supostamente não compreendemos por ser em latim continuamos a não compreender porque o que temos em português é uma tradução de outro texto.

A Igreja sempre teve e tem uma diversidade de ritos, isso não é factor de desunião, antes pelo contrário é ir ao encontro das necessidades das pessoas e da forma que melhor as ajuda a viver uma vida cristã.

Procurar a forma extraordinária não leva a nenhum relativismo litúrgico, pelo contrário, é pelo facto de querermos uma expressão clara da nossa Fé e da liturgia que procuramos a forma extraordinária. 

Porque pedimos então a forma extraordinária?
O motivo é porque queremos conhecer, viver e transmitir a Fé da Igreja, a Fé que sempre foi conhecida, vivida e transmitida ao longo dos séculos, desde os Apóstolos passando pelos mártires e diversos Santos. Sendo a missa fonte e centro da vida cristã e a Fé a virtude sobrenatural que alimenta a Esperança e a Caridade e nos leva a uma vida cristã, pedimos então uma missa que de facto nos ajude a viver a Fé da Igreja. A forma extraordinária de facto é verdadeira fonte e expressão da Fé da Igreja.

O que tem a forma extraordinária para de facto ser verdadeira fonte e expressão da Fé?
Em primeiro lugar tem claramente um sacerdote e um altar no qual se oferece o sacrifício da nossa redenção em glória e louvor a Deus e para a nossa salvação e santificação.

Nela vemos claramente que existe uma acção e que essa acção não é nossa mas de Cristo e que não somos nós o centro da atenção mas sim Deus e é a essa acção de Cristo tendo Deus como centro para a qual somos chamados a participar como povo de Deus.

Nela temos uma riqueza de textos e orações que abrangem todas as características do ser cristão: humildade de nos reconhecermos pecadores necessitados da Graça de Deus, contrição para pedirmos perdão, impetração e propiciação por nós e pelos que faleceram, louvor e glória a Deus vendo no nosso Pai as características do que é bom, justo e verdadeiro, a alegria da salvação, a esperança de alcançarmos o Céu que é a nossa verdadeira morada e o amor e união de reconhecermos o nosso próximo como nosso irmão.

Nela temos os salmos de impetração, as orações à Santíssima Trindade, a Avé Maria, a invocação do Espírito Santo, o ofertório que é todo ele uma oração magnífica do pecador que encontra o seu Salvador, que expressa claramente a acção que está a acontecer na missa. Temos as três línguas colocadas na Cruz do Senhor: latim, grego e hebraico. Temos a leitura de São Paulo a alertar-nos para nos examinarmos antes de recebermos o Corpo e Sangue do Senhor. Textos que nos recordam dos requisitos da Fé, da exigência dos preceitos morais, da justiça de Deus, do fim-dos-tempos. Temos o contacto e o realce de importantes e exigentes aspectos da doutrina que nos é transmitida pela Sagrada Escritura e que foi constantemente transmitida ao longo dos séculos praticamente desde os Padres da Igreja. Temos o contacto com a plenitude da Verdade que nos encaminha para a conversão e santificação, sendo este o verdadeiro fim da Sagrada Escritura.

Na evocação e memória dos santos temos um todo uniforme e rico em que as orações os evocam e honram, as leituras salientam as suas virtudes dando-os como exemplo, e o sacrifício eucarístico manifesta a ligação da Igreja Triunfante, representada pela lista de santos no Canon, a todos nós, peregrinos na Igreja Militante. Toda a liturgia expressa a unidade da santificação, mostrando-nos o caminho de santidade: Jesus na Eucaristia e o modelo de santidade que os Santos alcançaram.

Na Palavra que é lida temos além do Jesus que nos ama e procura o nosso bem-estar e felicidade temos também o Jesus que nos recorda do pecado, nos chama à conversão, nos alerta para os perigos que nos afastam de Deus e nos podem levar à condenação eterna.

Ao existirem apenas duas leituras é proporcionado um equilíbrio de distribuição do tempo dando maior ênfase ao Sacrifício Eucarístico como centro e motivo da missa, tornando as leituras num momento de oração e preparação da alma para depois nos unirmos a Jesus no oferecimento do Altar e O recebermos em comunhão.

Ao existir apenas um ciclo anual de leituras facilita a memorização e interiorização dessas leituras, tornando-as em acção de santificação.

Na forma extraordinária temos os sinais e símbolos do Mistério Pascal que celebramos, a sacralidade e beleza do espaço e dos gestos, o silêncio, a beleza e elevação do canto que nos ajudam a elevar a alma a Deus. São aspectos que nos levam à admiração, louvor e gratidão por tudo o que Deus fez por nós. Nela temos o mais sublime acto de oração da Igreja em adoração a Deus, onde de facto podemos dar o nosso melhor.

O facto de ser celebrada orientada para o oriente litúrgico, com o sacerdote como pastor a ir na frente do povo de Deus encaminhando-o e orientando-o no caminho da salvação e da oração, coloca o foco da atenção em Deus mostrando-nos o verdadeiro motivo porque estamos ali. Evoca a nossa esperança enquanto aguardamos a vinda do Senhor no fim-dos-tempos. É uma prática antiga e usada de forma consistente pela Igreja ao longo dos séculos, que sempre foi entendida como sendo uma forma adequada para louvor e glória de Deus. É simplesmente colocar o olhar em Cristo como o ponto de encontro em Deus e o Homem.

A forma como é tratado e reverenciado o Corpo e Sangue do Senhor mostra-nos claramente a verdade da transusbtanciação, que de facto estamos perante já não do pão e do vinho mas do Corpo e Sangue do Senhor, que o alimento que tomamos é de facto do Cordeiro de Deus com o olhar posto no banquete celeste e na vinda do Senhor no fim dos tempos.

Esta forma, pela virtude da religião, chama-nos à santidade, sendo a santidade a nossa união com Deus, a preparação da alma para se unir a Deus, o desejo e vislumbre da bem-aventurança eterna para a qual fomos criados. É esta santidade a verdadeira fonte das boas obras e do amor ao próximo, é ela que nos leva à humildade, castidade, caridade e fraternidade, obediência, penitência, pobreza de espírito, generosidade, à alegria e ao amor.

Com a forma extraordinária temos também os exorcismos do baptismo, as bênçãos, indulgências, devoções tradicionais, o ofício divino, missa de requiem pela alma de quem faleceu, as temporas, um tempo litúrgico após o Pentecostes, e tantos outros elementos que formam a nossa identidade católica.

Em relação ao suposto problema do latim, a leitura da Palavra pode ser feita em português como bem indicou o Papa Emérito Bento XVI, numa época em que felizmente já é elevada a alfabetização, facilmente se acompanha e participa na missa com um missal latim/português. Esse missal será depois bastante útil se for usado em casa como livro de oração pessoal e familiar.

Assim quando pedimos a forma extraordinária pedimos o mesmo que se pede no rito do baptismo segundo a forma extraordinária:
- Que vens pedir à Igreja de Deus?
- A Fé.
- E para que te serve a Fé?
- Para alcançar a vida eterna.
- Então se queres possuir a vida eterna, tens de cumprir os mandamentos: "amarás ao Senhor teu Deus como todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento; e amarás ao teu próximo como a ti mesmo."


A forma extraordinária de facto ajuda-nos a procurar o fim para que fomos criados: a bem-aventurança eterna.
A vós, pastores da Igreja, pedimos a generosidade de a facultardes para que nela possamos participar, pela graça de Deus e pela salvação das almas.