sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Dar testemunho da verdade

Do livro «Imitação de Cristo»: "Muitos seguem Jesus até ao partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão.".

Infelizmente hoje em dia a grande maioria já nem «até ao partir do pão» segue Jesus.
Perdemos o sentido religioso, seguimos as modas protestantes e de Deus apenas queremos consolações.

Em vez de correspondermos ao amor de Deus que se revelou na Cruz queremos que o amor de Deus se revele agora melhorando a nossa vida. Partimos do amor próprio e do amor ao mundo em vez de partirmos do amor de Deus.

Ser cristão é estar verdadeiramente entregue a Cristo, cheio do espírito vivo de Deus, andar em rectidão e justiça na Sua Igreja, una, santa, católica e apostólica, com fome e sede do Senhor, com o coração ansiando pelo Céu. É ser santo, homem ou mulher de verdade feitos à imagem e semelhança de Deus que simplesmente acreditam e ajustam a sua vida de acordo com a vontade de Deus. É meditar sobre a lei do Senhor, guardar os mandamentos, viver a Graça sacramental, louvando e adorando o Senhor na prática do bem e das boas obras. É a alegria de no Domingo prestar o culto a Deus, dar-Lhe louvor e glória no Sacrifício perfeito do Altar. É reconhecer Cristo como Rei, nas nossas vidas, casas, famílias, é a Ele que servimos e é pelo Seu Reino que trabalhamos cooperando com a Graça de Deus.

Viva Cristo-Rei!

"É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz".

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Semana dos seminários

Para compreendermos o que pedimos nesta semana de oração pelos seminários.

Do Vaticano II, decreto Optatam Totius sobre a formação sacerdotal último parágrafo:

"Os Padres deste sagrado Concílio, continuando a obra começada pelo Concílio de Trento, ao mesmo tempo que, esperançados, confiam aos Superiores e professores dos Seminários o encargo de formarem os futuros sacerdotes de Cristo no espírito de renovação promovida por este mesmo Concílio, exortam ardentemente aqueles que se preparam para o ministério sacerdotal a que sintam vivamente que a esperança da Igreja e a salvação das almas lhes está confiada e que, aceitando de ânimo generoso as normas deste decreto, dêem frutos abundantíssimos que permaneçam para sempre."

Na ordenação sacerdotal o propósito do ministério que vão exercer é:
- exercer digna e sabiamente o ministério da palavra, na pregação do Evangelho e na exposição da fé católica
- celebrar com fé e piedade os mistérios de Cristo, segundo a tradição da Igreja, para louvor de Deus e santificação do povo cristão, principalmente no sacrifício da Eucaristia e no sacramento da reconciliação
- implorar a misericórdia divina para o povo a vós confiado, cumprindo sem desfalecer o mandato de orar
- unir-se cada vez mais a Cristo, Sumo Sacerdote, que por nós Se ofereceu ao Pai como vítima santa, e com Ele consagrar-se a Deus para salvação dos homens

A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, pela Igreja renascemos para a Vida em Cristo e somos resgatados do pecado e da morte eterna. A missão principal da Igreja é a salvação das almas.

Muitas vezes ouvimos que a missão do padre é anunciar o amor de Deus e a alegria do Evangelho. Penso que infelizmente estes são termos genéricos, que não convertem e nos deixam ficar instalados comodamente.

O amor de Deus mostra-se nisto, no que fez e faz por nós e que nós não conseguimos fazer sozinhos:  
- Deus não tem necessidade de nós mas mesmo assim, por puro amor, deu-nos a existência.
- O Filho de Deus veio ao mundo para pela Sua morte e sofrimento na Cruz nos resgatar do pecado e da morte eterna, pagando por nós a desobediência nos nossos primeiros pais.
- Temos a possibilidade de receber o perdão dos nossos pecados, desde que tenhamos pelo menos contrição.
- Temos a possibilidade de receber em nós a Vida divina de Deus, dentro dos limites do mundo.
- A Vida divina de Deus que recebemos em nós, é a Graça, ajuda-nos a evitar o pecado, a desejar e procurar a santidade e a chegarmos ao Céu.

E é esta a alegria do Evangelho, sabermos que somos amados por Deus mesmo que não estejamos sempre felizes, alegres e em festa.

O padre é então ministro de Deus, que como Cristo dá a vida pela salvação das almas. Ajuda-nos a alcançar a Graça de Deus e ajuda-nos a cooperar e viver com ela para não perdermos o tesouro que nos foi dado, e desta forma podermos alcançar o Céu.

Tudo o resto que possamos receber no mundo, são graças adicionais, são os bens temporais que nos ajudam a desejar e procurar os bens eternos.

Dá-nos Senhor santos sacerdotes e que nós ajudemos as nossas famílias a conhecer e viver a verdadeira Fé no Vosso amor para que delas surjam vocações, doações da própria vida pela salvação das almas.

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Porque há-de um jovem ser cristão?

Muitas vezes vemos indicado que os jovens serão cristãos a partir do momento em que existir um «encontro com Jesus». 

Penso que o «encontro com Jesus» não resulta se não mostrar aquilo que Jesus pede na oração sacerdotal em João 17:
- Vejamos a manifestação da glória do Filho que manifesta a glória do Pai.
- Procuremos a vida eterna que Jesus nos quer dar.
- Conheçamos o Deus único e verdadeiro.
- Conheçamos Jesus como Filho de Deus enviado pelo Pai para no salvar.
- Recebamos o Evangelho como verdadeira Palavra de Deus.
- Reconheçamos e creiamos verdadeiramente que Jesus veio e foi enviado pelo Pai.
- Sabermos que não somos do mundo mas estamos no mundo.
- Sejamos inteiramente de Deus por meio da Verdade.
- Que sejamos todos nós um só como Jesus e o Pai são um só.
- Que a união entre nós e com Deus sirva para que o mundo acredite em Deus.

O «encontro com Jesus» também não resulta se não virmos em Jesus o Caminho, a Verdade e a Vida, que ninguém pode ir até ao Pai senão por Jesus. Tudo o que possa haver de salvação de outra forma apenas a Deus cabe.

Penso então que um jovem há-de ser cristão se:
- descobrir que foi criado por amor por Deus para conhecer, amar e servir a Deus.
- descobrir que a sua alma é eterna e que foi criado para o Céu, é aí que está a nossa casa comum.
- descobrir que no mundo estamos como num barco a caminho da eternidade, devemos trabalhar para um mundo melhor não porque vamos criar o paraíso na terra mas por amor a Deus e ao próximo.
- descobrir que Deus enviou o Seu Filho para salvar a nossa alma da morte eterna e do pecado, que pelo Seu sacrifício abriu-nos as portas do Céu.
- descobrir que enquanto estamos no mundo sofremos as tentações do mundo, diabo e da carne e necessitamos da ajuda da graça de Deus para nos salvarmos.
- descobrir que a alegria cristã não consiste em estar sempre alegre e feliz mas em saber que somos amados por Deus.
- descobrir que existe uma Verdade pela qual lutar e trabalhar, que aí encontra os verdadeiros valores, a justiça, a misericórdia e o amor.
- descobrir que existe uma Vida maior do que a vida material no mundo, o que fazemos no mundo deve servir para a glória de Deus, para a nossa santificação e salvação, para o bem do próximo e para que o próximo também conheça Deus e se salve.
- descobrir que existe um Caminho para chegarmos até Deus, que é estreito, contém um ensinamento moral e doutrinal, que é o Caminho do Bem e que a indiferença e a relativização nos leva para fora do Caminho e nos afasta de Deus.
- descobrir que o pecado é uma ofensa para com Deus e que é recusar levar o amor de Deus ao próximo.
- descobrir que Cristo é Rei, a Ele deve estar tudo direccionado e submetido como Rei bom e justo.
- descobrir que a missão da Igreja é a santificação e salvação das almas.

É isto que a Igreja tem para oferecer aos jovens que eles não encontram noutro lugar: a possibilidade de conhecerem o Deus único e verdadeiro, pela transmissão da Fé de uma forma clara e com amor verdadeiro que os ajuda a viver segundo a Verdade.

Precisamos de Bispos e sacerdotes para santificar os jovens, ajudar a salvar as suas almas, ajudá-los a viver segundo a Graça de Deus, dar-lhes os alicerces de uma Fé firme, serem testemunhas da Verdade. Se acontecer isto vamos descobrir que os jovens são capazes se serem bons cristãos e de amarem verdadeiramente a Deus e ao próximo.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A Verdade e a Vida

Num país distante existe uma criança que não conheces e de quem não sabes nada, não te é possível entrar em contacto com ela, no entanto sabes que existe. Para ti, essa criança tem valor e importância?
Claro que sim, tem valor e importância, mas de onde vem esse valor e importância se não te é possível entrar em contacto com ela?
O valor e importância dessa criança não está dependente de ti, está nela própria, tem um valor e importância que lhe são próprios. Existe algo nela de valor e importância que não és tu que lhe atribuis, mas antes sim descobres nela esse valor que ela já possuía.

Estás a começar a descobrir a Vida.
Cada ser possui um valor e importância próprios que são independentes do que cada um de nós possa encontrar nesse ser. Esse valor e importância é a Vida. Esta é também independente da vida material no mundo, pois mesmo que esse ser tenha uma vida material no mundo que seja infeliz e desafortunada nunca é um ser descartável, sem valor e importância.
Esta Vida é dada por Deus a cada ser, e para vermos em cada ser a Vida temos de nos abstrair de nós mesmos de forma a não cairmos no erro de lhe atribuirmos nós um valor de forma subjectiva.
Jesus abre-nos os horizontes e o olhar mostrando-nos que há algo mais do que a vida material no mundo, existe esta Vida maior. Jesus ensina-nos que a alma vive eternamente e que um dia Ele voltará para estabelecer o Seu Reino definitivamente, aqui vemos que esta Vida vai muito para além da vida material no mundo.

Agora imagina uma árvore que dá fruto, esta também tem um valor que lhe é próprio. Esta árvore mostra-nos a beleza do Criador, a ordem e o ciclo da vida que vem da Criação e o fruto com que o Criador atende às nossas necessidades. Portanto o simples facto de a árvore existir já demonstra o seu valor próprio. Se tu não poderes colher o fruto que esta árvore dá, a árvore deixa de ter o seu valor próprio?
Não, a árvore continua a ter o mesmo valor e continua a comunicar-nos o valor do Criador independentemente de lhe podermos colher o fruto. Se vamos responder que sim, deixa de ter valor vamos cair no erro do utilitarismo em que os seres e as coisas têm valor conforme nos são ou não úteis.

Temos então a Vida em que cada ser tem o seu próprio valor, independente de nós e temos dois erros: o subjectivismo em que nós é que atribuímos o valor e o utilitarismo em que ignoramos o valor próprio se o ser não nos for útil.

Agora em relação a Deus, conseguimos ver em Deus o valor próprio que tem e a Vida que nos deu ou caímos no erro do subjectivismo e utilitarismo em que o valor vai estar dependente do que dá à minha vida, vai estar dependente da experiência que faço de Deus, vai estar dependente da relação pessoal que possa ter com Deus?

Por isso a Fé Católica é um assentimento que damos livremente a Deus e ao que nos revelou, não está dependente da subjectividade e utilidade que possamos encontrar ou sentir. Dizemos sim a Deus e ao que nos revelou vendo em Deus e na revelação o valor próprio que têm.

Estás a começar a descobrir a Verdade.
Se a Vida e cada ser têm valor independente do que cada um de nós sentir e pensar e têm esse valor mesmo se nós não existíssemos então existe algo que dá ordem e equilibro ao valor de cada ser e à relação entre eles.
Como sabemos qual a medida correcta para a justiça, a misericórdia e para o próprio amor? Se o valor de cada ser é independente de nós, é absoluto e não subjectivo, então a justiça, a misericórdia e o próprio amor terão de ser também independentes de nós, terão de ter uma forma absoluta e não subjectiva.
Essa medida correcta é a Verdade, esta é absoluta e não subjectiva, foi estabelecida e foi-nos dada por Deus, assim não existem "verdades" contrárias entre si ou dependentes da opinião e sentimentos de cada um.

Por isso a Fé Católica é um assentimento que damos livremente a Deus e ao que nos revelou, pois na Fé é transmitida a Verdade que Deus estabeleceu. A Fé é baseada na Verdade e não em sentimentos.

Com a Fé aprendemos a Verdade sobre nós, em que pecado original destruiu a comunhão do Homem com Deus, é por isso necessário o baptismo para removermos o pecado original. No mundo continuamos sobre a influência das tentações e do pecado e por isso necessitamos da ajuda da Graça de Deus. Jesus estabeleceu a Igreja e os sacramentos como meios de salvação, a partir dos quais nos é comunicada a Graça de Deus.

Abrir os olhos para Verdade e a Vida
Infelizmente a sociedade moderna edificou-se na soberba (orgulho e vaidade), a partir do renascimento o Homem foi tentando iluminar-se por si mesmo e libertar-se de qualquer forma de autoridade, foi-se afastando de Deus , da Igreja e criando um Jesus que deixa de ser Rei para passar a ser apenas amigo e mestre: é o Homem em busca da liberdade e igualdade absolutas, ignorando a Verdade e a Vida estabelecidas por Deus.

Jesus tornou-nos livres mas essa liberdade contém a Verdade e a Vida: "Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres" (Jo 8, 31-32). Como contém a Verdade a liberdade contém a ordem, hierarquia, justiça, não é uma liberdade qualquer, é uma liberdade estabelecida segundo a ordem de Deus. Como contém a Vida a liberdade não está dependente dos nossos sentimentos.

A liberdade de Jesus é sermos livres do pecado e do materialismo do mundo, é sermos livres fazendo parte da Verdade e da Vida estabelecidas por Deus. 
A sociedade moderna afastou-se da liberdade de Jesus pois comete o erro de sentir a Verdade e a Vida como falta de liberdade. É a tentação da soberba, afastou-se assim de Deus e voltou ao paganismo. A partir daqui apenas procura Deus dentro de si mesmo, no sentido subjectivo e útil de uma vida melhor.

Faz o Papa São João XXIII um diagnóstico preciso da nossa sociedade:
"A causa e a raiz de todos os males que, por assim dizer, envenenam os indivíduos, os povos e as nações, e tantas vezes perturbam o espírito de muitos, está na ignorância da verdade. E não só na ignorância, mas às vezes até no desprezo e no temerário afastamento dela. Daqui erros de toda a espécie, que penetram como peste nas profundezas da alma e se infiltram nas estruturas sociais, desorganizando tudo, com grave ruína dos indivíduos e da sociedade humana. Mas Deus dotou-nos duma razão capaz de conhecer as verdades naturais. Seguindo a razão, seguimos ao próprio Deus, que é o autor dela e ao mesmo tempo legislador e guia da nossa vida; mas, se por loucura ou preguiça, ou, pior ainda, por má vontade, nos afastamos do recto uso da razão, apartamo-nos ao mesmo tempo do sumo bem e da lei moral.

Como dissemos, ainda que possamos atingir com a razão as verdades naturais, contudo, este conhecimento - sobretudo no que se refere à religião e à moral - nem todos podem facilmente consegui-lo; e, se o conseguem, muitas vezes vem misturado com erros. Além disso, as verdades, que ultrapassam a capacidade natural da razão, não podemos de modo nenhum atingi-las sem a ajuda duma luz sobrenatural. Por isso o Verbo de Deus, que "habita a luz inacessível" (1 Tm 6,16), com imenso amor e compaixão do género humano "fez-se carne e habitou entre nós" (Jo 1,14), para iluminar "todo o homem que vem a este mundo" (Jo 1,9) e conduzir todos, não só à plenitude da verdade, mas também à virtude e à eterna bem-aventurança. Todos estão, portanto, obrigados a abraçar a doutrina do Evangelho. Uma vez rejeitada, vacilam os próprios fundamentos da verdade, da honestidade e da civilização." (Ad Petri Cathedram (4))


Como católicos temos de acordar, o modernismo encontra-se por todo o lado, mesmo na própria Igreja muitos membros abraçando o modernismo anunciam um outro Evangelho, abandonando a Verdade anunciam apenas a ilusão de um mundo melhor. Vemos isso quando na pregação quando apenas falam do mundo e do lado material da vida, neles não há vida sobrenatural, é uma pregação espiritualmente seca, sem nos elevar ao Alto, à Verdade, onde a Graça foi abandonada por um "sermos felizes".

Continua o Papa São João XXIII:
"Como é evidente, trata-se duma questão gravíssima inseparavelmente ligada com a nossa salvação eterna. Aqueles que, como adverte o Apóstolo das gentes, estão "sempre aprendendo mas sem jamais poder atingir o conhecimento da verdade" (2 Tm 3,7), e negam à razão humana a possibilidade de chegar a qualquer verdade certa e segura, e rejeitam as verdades reveladas por Deus, necessárias para a salvação eterna: esses infelizes estão bem longe da doutrina de Jesus Cristo e do pensamento do mesmo Apóstolo das gentes, que exorta a "alcançar todos nós à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus..  Assim não seremos mais crianças, joguete das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens, e da sua astúcia que nos induz ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo, cujo corpo, em sua inteireza, bem ajustado e unido por meio de toda junta e ligadura, com a operação harmoniosa de cada uma das suas partes, realiza o seu crescimento para a sua própria educação no amor" (Ef 4,13-l6)." (Ad Petri Cathedram (5))

Estas palavras do Papa São João XXIII parecem dirigidas a nós católicos quando na missa passamos a ter um convívio comunitário, numa refeição de acção de Graças em vez do culto a Deus no oferecimento do Sacrifício do Altar:
"Não faltam também os que, sem impugnarem de propósito a verdade, tomam uma atitude de negligência e sumo descuido, como se Deus não nos tivesse dado a razão para procurar e alcançar a verdade. Este reprovável modo de proceder conduz, quase espontâneamente, à afirmação absurda de que todas as religiões se equivalem, sem nenhuma diferença entre a verdade e o erro. "Este princípio - para usar palavras do mesmo nosso predecessor - leva necessariamente à ruína de todas as religiões, especialmente da católica, que, sendo a única verdadeira entre todas, não pode sem grandíssima ofensa ser colocada no mesmo plano que as outras". Além disso, negar toda a diferença entre coisas tão contraditórias, pode levar à ruinosa conclusão de excluir todas as religiões na teoria e na prática. Como poderia Deus, que é a própria verdade, aprovar ou tolerar a indiferença, a negligência e a apatia daqueles que, em questões de que depende a salvação eterna de todos, não fazem nenhum caso nem se importam de procurar e encontrar as verdades necessárias, nem prestar a Deus o culto que lhe é devido?

Hoje tanto empenho e diligência se põem no estudo e no progresso do saber humano, e a nossa época bem se pode gloriar das admiráveis conquistas alcançadas na investigação científica. Então, por que não se há de pôr igual empenho, até mesmo maior, na aquisição segura daquele saber que diz respeito, não já a esta vida terrena e caduca, mas à celeste que nunca terá fim? Só quando tivermos alcançado a verdade que deriva do Evangelho, e que deve traduzir-se na prática da vida, só então a nossa alma poderá gozar a tranquila posse da paz e alegria; alegria imensamente superior à que pode vir dos descobrimentos da ciência e daquelas maravilhosas invenções de hoje, que todos os dias são exaltadas, e elevadas, por assim dizer, até às estrelas." (Ad Petri Cathedram (5))

Sobre a Fé católica e a missa:
"A Igreja Católica manda crer fiel e firmemente tudo o que Deus revelou, isto é, o que está contido na Sagrada Escritura e na Tradição tanto oral como escrita e, no decurso dos séculos, desde o tempo dos apóstolos foi estabelecido e definido pelos Sumos Pontífices e pelos legítimos Concílios Ecumênicos. Sempre que alguém se afastou desta verdade, a Igreja com a sua materna autoridade não deixou de o chamar repetidamente ao reto caminho. Pois sabe muito bem e defende que há uma só verdade e que não podem admitir-se "verdades" contrárias entre si; faz sua a afirmação do Apóstolo das gentes: "Nada podemos contra a verdade, mas pela verdade" (2 Cor 13,8)." (Ad Petri Cathedram (37))

"Quem ignora que a Igreja Católica, desde o tempo dos Apóstolos e pelo decurso dos séculos, teve sempre sete sacramentos, nem mais nem menos, recebidos de Jesus Cristo como herança sagrada, os quais ela distribui em todo o orbe católico, para alimento da vida sobrenatural dos fiéis? E quem ignora que nela se celebra um só sacrifício, o Eucarístico, em que o próprio Cristo, nosso Salvador e Redentor, de modo incruento mas real, como outrora pregado na cruz do Calvário, se imola cada dia por nós todos, e difunde misericordiosamente sobre nós os tesouros infinitos da sua graça? Por isso, com muita razão notou S. Cipriano: "Não é lícito estabelecer outro altar e um novo sacerdócio, além do único altar e do único sacerdócio"." (Ad Petri Cathedram (40))

A paz
" Vinde; "compreendei-nos" (2 Cor 7,2); não queremos outra coisa, não desejamos outra coisa, não pedimos a Deus outra coisa senão a vossa salvação, a vossa eterna felicidade. Vinde; desta suspirada unidade e concórdia, que deve ser alimentada pela caridade fraterna, nascerá grande paz; aquela paz "que supera todo o entendimento (Fl 4,7), porque desce do céu; aquela paz que, por meio do concerto angélico sobre o seu presépio, Cristo anunciou aos homens de boa vontade (cf. Lc 2,4), e que depois da instituição da Eucaristia como sacramento e sacrifício, deu com estas palavras: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá " (Jo 14,27). Paz e alegria; sim também a alegria porque aqueles que pertencem real e eficazmente ao corpo místico de Cristo, que é a Igreja Católica, participam daquela vida, que da Cabeça divina deriva para todos os membros. Esta fará que todos os que obedecem aos preceitos e mandamentos do nosso Redentor possam gozar já nesta existência mortal aquela alegria que é o penhor e anúncio da eterna felicidade do céu.

Mas esta paz, esta felicidade, enquanto percorremos o árduo caminho nesta terra de exílio, é ainda imperfeita. Não é paz completamente tranqüila, de todo serena. É paz operosa, não ociosa nem inerte. Sobretudo é paz militante contra todo o erro, mesmo que dissimulado sob aparências de verdade, contra o atrativo e seduções do vício, e contra toda a espécie de inimigos da alma, que procuram enfraquecer, manchar e arruinar os bons costumes ou a nossa fé católica; e também contra os ódios, rivalidades, dissídios que a podem quebrar ou lacerar. Por isso, o Divino Redentor nos deu e recomendou a sua paz.

A paz, portanto, que devemos procurar e esforçar-nos por conseguir, deve ser a paz que não cede ao erro, que não se compromete de nenhum modo com fautores do erro, que não se entrega aos vícios e que evita toda a discórdia. É paz que exige, da parte dos que a desejam, a pronta renúncia às comodidades e vantagens próprias por causa da verdade e da justiça, segundo a recomendação evangélica: "Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça..." (Mt 6,33)." (Ad Petri Cathedram (48-50))

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Amor desordenado

O Amor desordenado

A grande tentação da sociedade actual é esquecer Deus e tentar apenas por si própria edificar um mundo perfeito. Aqui surge a forma desordenada do amor, em que o amor é direccionado apenas ao mundo e aos Homens esquecendo Deus. Noutros casos Deus é lembrado apenas para melhorar a vida do Homem, pois o bem supremo tornou-se a felicidade do Homem no mundo em vez de ser o próprio Deus e a nossa comunhão com Ele na vida da Graça.

A correcta ordem do Amor

Cada um de nós como cristãos tem o dever de trabalhar e cooperar para que o mundo seja um lugar melhor, para que o próximo seja feliz e tenha uma vida feliz, plena. Este nosso dever é realizado na correcta ordem do Amor:
- O que fazemos é para glória e louvor de Deus.
- As boas obras têm pelo menos o desejo de que o próximo conheça e reconheça o Deus único e verdadeiro, acredite, se converta e salve a sua alma.
- Sabemos que para praticarmos o bem e as boas obras e trabalharmos a nossa salvação e do próximo não o conseguimos fazer sozinhos, necessitamos da Graça de Deus.
- Sabemos que nos tornaremos pó e o mundo passará.

A heresia pelagiana

A heresia pelagiana consiste em considerar que nos podemos salvar por nós mesmos, apenas com boas obras, esquecendo de que necessitamos da Graça de Deus e esquecendo o que é o pecado original. Isto pode acontecer quando nos preocupamos em criar um mundo melhor seguindo a forma desordenada do amor.

A teologia da libertação

A teologia da libertação é uma teologia condenada pela Igreja, (por exemplo aqui),em que o Evangelho se torna no anúncio da libertação do Homem de qualquer opressão social, económica e política, de tendência marxista em que os pobres se libertam da opressão dos ricos e poderosos e em que a salvação e o Reino se tornam numa vida melhor no mundo.
Esta forma tentadora e alterada do Evangelho altera os conceitos cristãos mantendo as mesmas palavras:
- O pecado deixa de ser uma realidade pessoal que afasta a pessoa de Deus e da Sua Graça para se tornar na ausência de fraternidade e amor nos relacionamentos entre os Homens.
- A salvação é vista não principalmente como sendo a vida após a morte do indivíduo, mas em trazer o reino de Deus: uma nova ordem social onde haverá igualdade para todos.
- Embora os teólogos da libertação não neguem abertamente a Divindade de Cristo, não há confissão inequívoca de que Jesus Cristo é Deus Encarnado. O "significado" de Jesus Cristo está em Seu exemplo de lutar para ajudar os pobres e os marginalizados.
- A encarnação é reinterpretada para representar a total imersão de Deus na história de conflito e opressão do homem. Cristo veio libertar os pobres e oprimidos e ensinar-nos a construir um mundo melhor. Eles convenientemente ignoram que Jesus disse: "Pobres, sempre os tereis convosco; mas a mim nem sempre me tereis." (Mt 26, 11).
- Consideram que a missão da Igreja não é mais uma noção "quantitativa" de salvar as almas mas em vez disso, a Grande Comissão da Igreja trata de melhorar a "qualidade de vida" na Terra; assim, apoiando os pobres e os oprimidos.

As tentações no deserto

Relembremos as tentações que o Senhor teve no deserto (Mt 4, 1-11) para não cairmos nós nesta tentação de criarmos um mundo melhor sem Deus:

Tentação do diaboResposta de JesusTentação do mundo actual
Ordena que estas pedras se convertam em pãesEstá escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.Querermos apenas a felicidade no mundo esquecendo Deus e a Verdade. É esquecermos de edificarmos a nossa vida segundo a vontade de Deus, querendo seguir apenas a nossa vontade.
Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!Querermos a salvação apenas por nós mesmos, apenas sendo "bons", esquecendo a necessidade da Graça de Deus, o pecado original e a necessidade da ajuda de Deus para realmente sermos bons.
Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.Esquecermos de prestar culto e adorar Deus. Esquecermos de reconhecer Deus como criador em que tudo Lhe pertence. Esquecermos a correcta ordem do Amor. Abandonarmos a virtude da religião para ficarmos apenas por uma espiritualidade "enriquecedora".

O relativismo

Todo este movimento pode-nos levar ao relativismo pois a medida do Bem deixou de ser Deus para passar a ser a felicidade do Homem.
Vejamos a lista de relativismos em que podemos cair seguindo a forma desordenada do amor:

RelativismoFé Católica
O pecado é uma opressão na vida do Homem, é uma relação opressora entre os Homens.O pecado é o que nos afasta de Deus e da Sua Graça.
A Salvação e o Reino consistem em criar um mundo melhor.A Salvação é a possibilidade de após a morte alcançarmos a vida eterna junto de Deus. O Reino de Deus será constituído plenamente no fim dos tempos e agora no mundo está presente na Igreja.
A Vida Eterna é uma vida plena e realizada no mundo.A Vida Eterna é após a morte podermos viver eternamente junto de Deus e no mundo a nossa participação na Vida consiste em vivermos na Graça de Deus.
A missão da Igreja é ajudar os Homens a serem felizes, levando-lhes o amor de Deus. A missão da Igreja é a salvação das almas, anunciando o Evangelho, chamando os Homens à conversão e praticando as boas obras.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Reflexões várias

Dignidade e liberdade Humana:
O documento do Vaticano II, Dignitatis Humanae, ao falar da liberdade e dignidade do Homem alicerça-a na busca de Deus e da Verdade. Só existe verdadeira liberdade e dignidade Humana se procuramos Deus e a Verdade e se quando encontramos a Fé a Verdade nelas permanecemos.

"Em primeiro lugar, pois, afirma o sagrado Concílio que o próprio Deus deu a conhecer ao género humano o caminho pelo qual, servindo-O, os homens se podem salvar e alcançar a felicidade em Cristo. Acreditamos que esta única religião verdadeira se encontra na Igreja católica e apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou o encargo de a levar a todos os homens, dizendo aos Apóstolos: «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizando os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos prescrevi» (Mt. 28, 19-20). Por sua parte, todos os homens têm o dever de buscar a verdade, sobretudo no que diz respeito a Deus e à sua Igreja e, uma vez conhecida, de a abraçar e guardar."
...
"Mas a verdade deve ser buscada pelo modo que convém à dignidade da pessoa humana e da sua natureza social, isto é, por meio de uma busca livre, com a ajuda do magistério ou ensino, da comunicação e do diálogo, com os quais os homens dão a conhecer uns aos outros a verdade que encontraram ou julgam ter encontrado, a fim de se ajudarem mutuamente na inquirição da verdade; uma vez conhecida esta, deve-se aderir a ela com um firme assentimento pessoal."
...
"Pelo que este Concílio Vaticano exorta a todos, mas sobretudo aos que têm a seu cargo educar outros, a que se esforcem por formar homens que, fiéis à ordem moral, obedeçam à autoridade legítima e amem a autêntica liberdade; isto é, homens que julguem as coisas por si mesmos e à luz da verdade, procedam com sentido de responsabilidade, e aspirem a tudo o que é verdadeiro e justo, sempre prontos para colaborar com os demais."
...
"Deus chama realmente os homens a servi-lo em espírito e verdade; eles ficam, por esse facto, moralmente obrigados, mas não coagidos. Pois Deus tem em conta a dignidade da pessoa humana, por Ele mesmo criada, a qual deve guiar-se pelo próprio juízo e agir como liberdade."
...
"Os fiéis, por sua vez, para formarem a sua própria consciência, devem atender diligentemente à doutrina sagrada e certa da Igreja. Pois, por vontade de Cristo, a Igreja Católica é mestra da verdade, e tem por encargo dar a conhecer e ensinar autenticamente a Verdade que é Cristo, e ao mesmo tempo declara e confirma, com a sua autoridade, os princípios de ordem moral que dimanam da natureza humana."

Porque se esvaziam as igrejas?
A ida à igreja não pode estar dependente de o que vou lá fazer e escutar ser para mim "interessante", de estar dependente do que o padre faz ou diz.
Penso que este é o problema de colocarmos a nossa felicidade como o valor mais alto. A ida à igreja faz-se porque queremos prestar culto a Deus e viver na Graça de Deus nos Sacramentos. Se as igrejas se esvaziam é porque se perdeu a ligação a Deus e nós nos tornamos no centro e destino. Acontece quando em vez da Graça se procura a felicidade e acontece quando a nossa vida se torna mais importante do que a Verdade e a Vida que existem para além da nossa existência aqui no mundo. Ao concentrar-nos em nós e na nossa felicidade estamos a construir a casa pelo telhado.

A missa é culto a Deus, vem da virtude da religião, vem do desejo de darmos a Deus toda a honra e glória, do desejo da Graça de oferecermos com Cristo no Altar e nos alimentarmos do alimento da vida eterna, o centro de atenções da missa é Deus e não nós.

Melhorar as homilias é um bom caminho, mas não vamos estancar ou alterar o esvaziamento das igrejas enquanto as pessoas não compreenderem a edificarem a casa pelo que é eterno, pela Verdade, pela Vida, pelo Bem que é o próprio Deus. Tudo isto é bom e justo independentemente de nós, da nossa existência, da nossa vida e felicidade, estas penso que vamos encontrar no telhado desta edificação. Ainda na edificação, nos alicerces encontra-se a Fé firme e esclarecida, mesmo que seja simples, mas que sabe e dá o assentimento ao que a Igreja sempre ensinou desde o tempo dos Apóstolos.


A felicidade e a alegria cristã:
As palavras «felicidade» e «alegria» podem ser mal interpretadas se forem consideradas como o mundo as promove.
Se as não compreendermos à luz da Salvação podemos pensar que são promessas de felicidade e alegria como tantas outras que nos são feitas por anúncios, pelo consumismo, pelo niilismo, pelo egoísmo do Eu. E nesse caso a mensagem da Igreja deixa de ser credível, torna-se uma promessa como tantas outras.

A alegria cristã se for considerada como a alegria normal da vida no mundo, apenas num plano sentimental e afectivo perde a verdadeira dimensão que tem.
A alegria cristã não é apenas um estado afectivo, uma emoção feliz que por vezes está ligada ao amor humano ou à interacção social.
A alegria cristã é fruto da virtude da Caridade, e a Caridade é caracterizada pela correcta ordem do Amor: colocar Deus primeiro e a partir daí ordenar todo o amor em referência a Deus.

A alegria cristã não pode estar desligada da Cruz.
Termos alegria cristã não significa que estamos livres de sofrimento e dor, estas fazem parte da vida cristã, de levarmos a Cruz.
Na alegria cristã não significa que estamos sempre "felizes" e alegres.
O caminho da alegria cristã e da vida cristã não vai levar-nos sempre a sentir felicidade.

A missão da Igreja não é levar-nos a sentirmos o amor de Deus mas sim em primeiro lugar a missão da Igreja é levar-nos a saber e confiar que somos amados por Deus, independentemente do que sentirmos no momento.

Muitas vezes não vamos sentir alegria e felicidade, mas sabemos e confiamos que Deus nos ama, e apesar de no momento não sentirmos a alegria e felicidade temos na mesma em nós a alegria Cristã, porque sabemos que Deus nos ama.

Assim, a nossa missão de levar a alegria e felicidade no mundo tem de partir da virtude da Caridade, de ordenar primeiro o amor a Deus e sabermos e confiarmos que Deus nos ama.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

O Sagrado Coração de Jesus esquecido pelos Homens

A primeira sexta-feira do mês é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, partilho as orações deste dia:
Estão aqui na página 26, são o Acto de Desagravo ao Sagrado Coração de Jesus e o Acto de Consagração ao Sagrado Coração de Jesus.

Estas orações dizem tanto à nossa sociedade, lembram-nos os "esquecimentos, friezas e desprezos dos Homens para com a infinita caridade de Jesus" e lembram "aqueles que, errando longe do caminho da salvação, ou se obstinam na sua infidelidade, não vos querendo como pastor e guia, ou, conculcando as promessas do baptismo, sacudiram o suavíssimo julgo da Vossa santa lei".

Para quem quiser reflectir e ler sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus deixo também a encíclica do Papa Pio XII sobre esta devoção.

Vejamos o quanto tão longe estamos do Sagrado Coração constatando a diferença de mensagem dos nossos Bispos, que passou da união das almas com Deus para a simples união fraternal entre os Homens:

Mensagem dos Bispos de Portugal em 1967

“A Mensagem de Nossa Senhora aos pastorinhos da Cova da Iria põe de frente e em cheio este problema: não ofendam mais Nosso Senhor. A guerra é castigo do pecado neste mundo, e, se não houver emenda, o castigo final será a irreparável condenação eterna do Inferno. Quando Nossa Senhora pede que se reze o terço para que a guerra acabe, Ela desencadeia uma grande ofensiva de paz, que não é apenas a paz das armas, mas sobretudo a paz das almas com Deus...
Cada pecado mortal que nós conseguimos evitar, cada alma que nós conseguimos trazer à reconciliação com Deus, é um passo enorme no caminho da paz.”

http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Fatima50/N01/N01_master/Fatima50_A1_N01_13Mai1967.pdf

Pastoral colectiva do episcopado português, revista Fátima 50 Ano 1 n.º 1, 13 de Maio de 1967, pág.16 (14 no pdf)
 Mensagem dos Bispos de Portugal
em 2016

“Fiéis ao carisma de Fátima, somos chamados a acolher o convite à promoção e defesa da paz entre os povos, denunciando e opondo-nos aos mecanismos perversos que enfrentam raças e nações: a arrogância racionalista e individualista, o egoísmo indiferente e subjetivista, a economia sem moral ou a política sem compaixão. Fátima ergue-se como palavra profética de denúncia do mal e compromisso com o bem, na promoção da justiça e da paz, na valorização e respeito pela dignidade de cada ser humano.”

http://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/wp-content/uploads/CEP_CartaPastoral_CentenarioFatima.pdf

Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa no Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, 8 de dezembro de 2016, pág. 11.

Esquecendo o que Deus nos deu e fez por nós abandonamos a Verdade e a Vida, passamos a querer apenas ter uma vida melhor, mais preenchida. Em vez de Deus ser a fonte e destino da Vida passou a ser um melhoramento para a nossa vida.
Perante esta triste constatação seguem-se então as orações ao Sagrado Coração, tão esquecido pelos Homens:





Depois de rezarmos ao Sagrado Coração podemos ler toda a mensagem dos nossos Bispos de 1967, perante o que nos diziam e o que não nos dizem agora ressoa a questão que Josué há poucos dias nos colocava: «Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir: se os deuses que os vossos pais serviram no outro lado do rio, se os deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha família serviremos o Senhor».

Quem vamos servir? O Senhor, Deus da Igreja de todos os tempos que nos chama à conversão ou o Mundo em que apenas nos lembramos de Deus para melhorar e tornar a nossa vida mais preenchida?

Mensagem dos Bispos de Portugal em 1967:
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/Fatima50/N01/N01_master/Fatima50_A1_N01_13Mai1967.pdf








quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Os fariseus do século XXI

Excelente texto e explicação do padre Paulo Ricardo sobre os fariseus e como a sociedade actual se afastou tanto de Deus, pode-se ler aqui: «Os fariseus do século XXI»


Os fariseus do século XXI

Se, como ensina Jesus, os fariseus são aqueles que abandonaram “o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”, nossa época está cheia deles. E nem é preciso procurar muito.

No Evangelho deste domingo, Nosso Senhor repreende com dureza os fariseus:
Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos” (Is 29, 13). Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens (Mc 7, 6-8).
Nessa passagem, Jesus põe em contraste o “mandamento” de Deus e a “tradição” dos homens. À luz da história da salvação, porém, nós sabemos que se trata de duas tradições (já que traditio vem do verbo latino trado, “transmitir, entregar”): os Mandamentos são uma tradição divina, pois tem como origem o próprio Deus. Foi o próprio Senhor que entregou a Moisés as tábuas da Antiga Lei. Por isso, desde o início, a tradição judaico-cristã é não uma tradição como outra qualquer, mas a Tradição por excelência.

Nas religiões naturais, são os homens que repassam aos outros o que pensam e acreditam a respeito da divindade, num plano meramente horizontal. No judaísmo e no cristianismo, ao contrário, é Deus mesmo que vem ao encontro do homem. Deixar essa tradição, portanto — a Tradição —, é renunciar ao relacionamento com Deus, que é vertical, reduzindo tudo às coisas deste mundo.
Sobre esse abandono do sobrenatural, o Venerável Fulton Sheen se pronunciou certa vez nos termos seguintes:
Antigamente, vivia o homem em um universo tridimensional onde, de uma terra que ele habitava com seus vizinhos, avistava acima o céu e abaixo o inferno. Esquecendo Deus, a sua visão do homem ficou ultimamente reduzida a uma só dimensão. Acha agora que sua atividade esteja limitada à superfície da terra: um plano sobre o qual se move, não subindo para Deus ou descendo para Satanás, mas somente para a direita ou para a esquerda. A velha divisão teológica dos que se acham no estado de graça e dos que não estão deu lugar à separação política entre direitistas e esquerdistas. A alma moderna limitou definitivamente seus horizontes [1].
Embora faça menção explícita a uma “separação política”, Fulton Sheen está falando aqui de um problema fundamentalmente de : o homem moderno deixou de acreditar na Igreja, em Cristo e, em última instância, até no próprio Deus. Com isso, e porque o homem é um ser essencialmente religioso, ele passou a acreditar em outras coisas — ou até, como dizia Chesterton, em qualquer coisa. A imagem bíblica dos salvos e condenados, a distinção agostiniana entre “cidade de Deus” e “cidade dos homens” foi deixada de lado, dando lugar às mais variadas distinções: direita e esquerda, ricos e pobres, homens e mulheres, brancos e negros etc. Não sem razão nossa época vive em conflitos constantes e intermináveis.
Mas a falta de fé de nosso século está atrelada principalmente a um problema de natureza moral. Chesterton já havia “profetizado”, por assim dizer, que a “próxima grande heresia” seria “um ataque à moralidade, especialmente à moral sexual” [2]. Como as duas coisas se conectam é muito fácil entender:
A transgressão contínua e culpável da lei de Deus (desonestidades, negócios sujos etc.) produz na alma do pecador um desassossego cada vez maior contra a lei de Deus, que o proíbe de entregar-se com tranquilidade a suas desordens. Essa situação psicológica deve desembocar logicamente, mais cedo ou mais tarde, em uma destas duas soluções: o abandono do pecado ou o abandono da fé. Se a isso acrescentamos que Deus vai retirando cada vez mais suas graças e suas luzes como castigo pelos pecados cometidos, não é de se maravilhar que o desgraçado pecador acabe apostatando da fé.

Não há dúvida: a imoralidade desenfreada que reina no mundo de hoje é uma das causas principalíssimas — a mais importante depois da propaganda materialista e ateia — da descristianização cada vez maior da sociedade moderna. O mesmo Cristo nos avisa no Evangelho que “todo o que pratica o mal odeia a luz” (Jo 3, 20). Não há nada que cegue tanto como a obstinação no pecado. [3]
Em suma, nossa época abandonou a Tradição e a prática dos Mandamentos porque deixou o seu coração corromper-se com o que Jesus fala ainda no Evangelho dos fariseus: “as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7, 21-22).

Como consequência dessa falta de fé, a modernidade criou seus próprios “sistemas” morais; assim como os fariseus da época de Jesus, também nossos contemporâneos possuem as suas “tradições”. Por não viverem de acordo com aquilo em que acreditavam, passaram a acreditar no modo como vivem. Eles abandonaram a doutrina católica pelo “politicamente correto”: pecado, agora, é não aceitar o aborto, o “casamento” entre pessoas do mesmo sexo, as relações pré-matrimoniais e tudo o que o mundo apoia, aplaude e incentiva.

O farisaísmo de nossa época é este: a despeito da Palavra de Deus, que é muito clara a respeito do “salário do pecado” (Rm 6, 23) — e do que seja pecado! —, que mui claramente afirma que “nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes possuirão o Reino de Deus” (1Cor 6, 9-10), nós estamos convencidos de que o inferno não existe e, se existe, está vazio e não precisamos nos preocupar com ele; nós deixamos de falar do Céu para concentrar nossos esforços na “construção de um mundo melhor”; e também, como consequência disso, não falamos mais de pecado e a única coisa que tememos agora é, quando muito, o juízo dos homens. 

De onde quer que nossos contemporâneos tenham tirado todas essas coisas, uma coisa nós sabemos: dos Mandamentos e da Tradição é que não foi. Quem folhear todas as páginas das Escrituras, dos Santos Padres e dos Concílios não achará uma linha sequer em defesa de suas teses mirabolantes — porque, afinal, é disso que se trata: ideias fabricadas, “fábulas” inventadas tão-somente para o prazer daqueles que escutam. Estamos no período profetizado pelo Apóstolo: “tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação” e, “levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si, apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas” (2Tm 4, 3-4).

Foi a estas pessoas que Jesus chamou “hipócritas”: as que abandonam “o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. São os fariseus do século XXI.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Eram como ovelhas sem pastor

"Naquele tempo, os Apóstolos voltaram para junto de Jesus e contaram-Lhe tudo o que tinham feito e ensinado. Então Jesus disse-lhes: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém. Vendo-os afastar-se, muitos perceberam para onde iam; e, de todas as cidades, acorreram a pé para aquele lugar e chegaram lá primeiro que eles. Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas." (Mc 6, 30-34)

Seguindo o exemplo de Jesus paremos também nós um pouco para descansar. Sigamos também para um lugar isolado, para o nosso quarto mais secreto e na proximidade de Deus contemplemos a grande multidão e tenhamos dela compaixão. Tenhamos compaixão dos que vão distraídos no mundo como se Deus não existisse, daqueles a quem não foi transmitida a Verdade, daqueles a quem não foi mostrada a Vida, daqueles a quem não foi ensinado o Caminho, dos que desconhecem a Fé e a doutrina, dos que procuram o Amor mas esquecem os mandamentos, dos que procuram a felicidade no mundo e não lhes foi mostrada a felicidade do Céu, dos que não são chamados à conversão cuja salvação da alma fica abandonada à sorte, dos pequeninos que ficam a desconhecer o Deus que os criou e ficam apenas a conhecer uma parte, dos que procuram ser católicos mas ficam abandonados num cómodo protestantismo à medida de cada um, dos que desconhecem a necessidade de salvação da alma, dos que esquecem de receber o Senhor como Pastor e Guia.
Nos nossos dias é grande a multidão que são como ovelhas sem pastor!


"Antes da vinda de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de numerosos crentes. A perseguição, que acompanha a sua peregrinação na Terra, porá a descoberto o «mistério da iniquidade», sob a forma duma impostura religiosa, que trará aos homens uma solução aparente para os seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A suprema impostura religiosa é a do Anticristo, isto é, dum pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo, substituindo-se a Deus e ao Messias Encarnado"

Neste tempo de crise de Fé, de abandono da Verdade, de relativização da Fé em troca de uma aparente solução dos problemas no mundo coloquemos mãos à obra. Tenhamos compaixão da multidão e comecemos a ensinar-lhes muitas coisas, a ajudar que a Fé não se perca!


Como ovelhas sem pastor está a multidão, abandonada no modernismo, na solução aparente dos problemas no mundo esquecendo o motivo principal porque veio Jesus. Quem as ajuda a viver na Graça de Deus, a procurar a sua santificação e a salvação da alma? Quem as ajuda a conhecer Jesus e não apenas um cómodo amigo? Quem lhes lembra que nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus? Quem os chama a procurar o alimento de vida eterna? Quem confirma os irmãos na Fé? Quem lhes mostra a Esperança do Céu e a ajuda que Deus dá para lá chegar? Quem ensina a amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo o entendimento e com todas as forças? Quem lhes ensina o motivo porque foram criados?

Redenção e salvação
Jesus deu a vida na Cruz por todos, é essa a Redenção e esta foi realizada por todos, para que todos se salvem. Mas nem todos se aproximam de Jesus, nem todos O recebem e reconhecem de forma a poderem alcançar a salvação que Ele nos oferece. Se existisse uma salvação universal em que todos vão para o Céu porque havia de Jesus nos deixar a Igreja e os Sacramentos? É porque realmente precisamos da Sua ajuda para alcançarmos a Salvação e chegarmos ao Céu. É porque existe realmente um destino diferente se acolhemos ou não Jesus.

"Também Eu te digo: Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Abismo nada poderão contra ela." (Mt 16, 18) 

"Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado." (Mc 16, 16)

"Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus." (Jo 3, 5)

"Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim jamais terá sede. Mas já vo-lo disse: vós vistes-me e não credes. Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu não o rejeitarei, porque desci do Céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade daquele que me enviou é esta: que Eu não perca nenhum daqueles que Ele me deu, mas o ressuscite no último dia. Esta é, pois, a vontade do meu Pai: que todo aquele que vê o Filho e nele crê tenha a vida eterna; e Eu o ressuscitarei no último dia." (Jo 6, 40)

"Eu sou o pão vivo, o que desceu do Céu: se alguém comer deste pão, viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a minha carne, pela vida do mundo." (Jo 6, 51)

Salvação e o Reino de Deus
Jesus quer nos dar um lugar no Reino de Deus, a plenitude desse Reino será alcançada no fim-dos-tempos quando Jesus voltar. Aí seremos separados conforme a nossa Fé e as nossas obras. A Salvação que Jesus nos dá é o caminho para alcançarmos o Seu Reino.
Agora no mundo durante a nossa vida colocamos no mundo as sementes do Reino, trabalhando com Fé e obras, criamos um mundo melhor mas sempre com o objectivo de edificação de um lugar no Céu, no Seu Reino. Como cristãos é nosso dever trabalharmos para termos um mundo melhor, mas esse não é o nosso objectivo final, o nosso objectivo é sempre o Céu! Assim a Salvação que vamos vivendo no mundo é vivermos na Graça de Deus a caminho do Céu!

"Não acumuleis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração."(Mt 6, 19-21)

"Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? Ou que poderá dar o homem em troca da sua vida?" (Mt 16, 24-26)

O mundo
O mundo foi criado por Deus com muito amor e nele podemos ver reflectido o Amor e a beleza de Deus. Por isso sempre com o olhar no Céu, desejando conhecer, amar e servir a Deus, trabalhando para a santificação e salvação nossa e do nosso próximo, vamos construindo um mundo melhor. Onde se possa viver as sementes do Reino, com justiça e misericórdia. Vamos vivendo as bem-aventuranças, procurando a santidade que começa nas coisas simples do dia a dia e que vai até ao desejo de contemplar Deus e viver apenas da Sua Graça.
Contudo no mundo se esquecermos Deus facilmente ficamos escravos do pecado, por isso tudo o que fazemos não é para servir o Homem ou o mundo, o que fazemos faz parte do Amor de Deus, faz parte de conhecer, amar e servir a Deus, faz parte do caminho e do desejo de alcançarmos um lugar no Seu Reino.

"Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." (Mt 6, 24).

"Vós, porém, não quereis vir a mim, para terdes a vida! Eu não ando à procura de receber glória dos homens; a vós já vos conheço, e sei que não há em vós o amor de Deus. Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis; se outro viesse em seu próprio nome, a esse já o receberíeis. Como vos é possível acreditar, se andais à procura da glória uns dos outros, e não procurais a glória que vem do Deus único?" (Jo 5, 40-44)

Católicos ou protestantes?
A grande diferença entre ser católico e protestante está na relação e na forma como recebemos a Fé. No caso protestante estuda-se a Fé e as Escrituras e chegamos a uma opinião de como se aplicam a nós, em que se acredita e em que não se acredita.
No caso católico recebemos a transmissão da Fé de forma completa, é nos transmitida a Verdade e perante ela nós convertemo-nos de forma a passarmos a viver segundo a Verdade. Acreditamos em todo o depósito da Fé, está ali a Verdade que Jesus nos deu e nós procuramos compreender e viver o que pertence à Verdade, pois ali está o que é justo e verdadeiro. Se alguma coisa não compreendemos ou temos dificuldade de aceitar não a vamos descartar ou ignorar, fazemos um caminho para compreender pois sabemos que o que está certo é o que Jesus nos deu e não a nossa dificuldade de compreensão.


A divisão
Como o espírito do mundo e a relativização entraram no meio de nós, vamos muitas vezes como ovelhas sem pastor pois infelizmente temos situações que ocorrem habitualmente mas que vão contra o que a Igreja ensina e definiu como norma.
  • Sacerdotes e religiosos vestidos como leigos, quando o Vaticano II não pediu isso e a conferência episcopal indica que devem usar batina ou roupa que os identifique como sacerdotes e religiosos.
  • Na oração Eucarística dizer «por todos» em vez de «por muitos» durante a consagração do vinho no Sangue do Senhor, quando nas Escrituras sempre esteve escrito «por muitos» e tendo os Papas São João Paulo II e Bento XVI pedido que se alterasse e se passasse a dizer «por muitos».
  • Ter-se tornado a comunhão na mão como prática habitual, quando a norma definida pela Igreja é comungar na boca e a comunhão na mão é apenas uma opção, tendo sido iniciada essa forma em desobediência ao Papa Beato Paulo VI e tendo o Papa Beato Paulo VI pedido para se conservar como prática habitual a comunhão na boca.
  • Ter ministros extraordinários da comunhão em todas as missas de Domingo quando a Igreja e os Papas São João Paulo II e Bento XVI pediram para só se utilizarem em situações excepcionais.
  • Termos a celebração da missa voltada para o povo, quando o Vaticano II não pediu isso, estando as instruções do missal a dar a entender que a celebração é voltada para o oriente litúrgico, e a única indicação sobre ser voltada para o povo é com base numa tradução errada da instrução do missal.
  • Ter-se removido o Sacrário do centro da Igreja, quando o Vaticano II não pediu isso.
  • Ter-se abandonado o canto gregoriano, quando o Vaticano II não pediu isso, pelo contrário incentivou-o.
  • Ter-se acabado com o latim na missa, quando o Vaticano II não pediu para abandonar o latim completamente, pelo contrário incentivou os fiéis a conseguirem dar respostas em latim.
"Se um reino se dividir contra si mesmo, tal reino não pode perdurar; e se uma família se dividir contra si mesma, essa família não pode subsistir." (Mc 3, 24-25)

Esperança
Tenhamos esperança pois "Deus quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade" (1Tm 2, 4). A Salvação faz-se ao longo do Caminho no mundo e mesmo que a multidão se tenha afastado do Caminho há sempre a possibilidade de ajudar, pois Deus está sempre pronto a receber e a perdoar. Ponhamos mãos à obra para lhes mostrarmos a Vida maior do que a vida no mundo, por mostrarmos a Verdade e ajudarmos à conversão, a acreditarem. Por amor a Deus e ao próximo ponhamos mãos à obra pois há sempre esperança!

"Protegei, Senhor, o vosso povo que saciastes nestes divinos mistérios e fazei-nos passar da antiga condição do pecado à vida nova da graça."
Oração depois da comunhão.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Porque alguns não acreditam?

Partilho aqui as minhas respostas a duas questões que me colocaram «Que é acreditar em Deus?» e «O problema não é gramatical. É saber como se acredita na prática, como se reliza isso?».

Podem também partilhar as vossas respostas e colocar dúvidas para encontrarmos a melhor forma de ajudar quem não acredita.


«Que é acreditar em Deus?»
É acreditar no Deus único e verdadeiro que Jesus nos revelou.
Aqui inclui-se acreditar na Vida que vai para além do mundo, onde Deus nos amou ainda antes de existirmos e que quer que alcancemos essa Vida plena no Seu Reino.
Inclui-se acreditar na Verdade que nos indica que no mundo somos peregrinos para a nossa verdadeira casa que é o Céu e que no mundo estamos presos ao pecado e à morte eterna, cuja libertação obtemos pela Graça de Deus. Que fomos criados por Deus para O conhecermos, amarmos e servirmos.
Inclui-se acreditar no Caminho que é o próprio Jesus, Verbo de Deus, nosso Pastor e Guia que nos conduz na Graça de Deus para alcançarmos o Seu Reino, cumprindo a vontade de Deus. Caminho que mais do que nos humanizar e ajudar a formar uma comunidade de irmãos nos inscreve no Livro da Vida.
Inclui-se compreender o abismo que nos separava de Deus e que só com o Seu auxilio conseguimos alcançar a Salvação, que devemos perserverar na Fé e nas boas obras, permanecer na Igreja por Ele fundada, que é o Corpo Místico de Cristo, começo e semente do Seu Reino na Terra.
Inclui-se compreender que o pecado para além de nos desumanizar e afastar dos irmãos nos afasta da Graça de Deus e da Salvação.


«O problema não é gramatical. É saber como se acredita na prática, como se reliza isso?».
Realiza-se da seguinte forma:
A Fé é acreditar em Deus e no que nos revelou.
Perante a transmissão do depósito da Fé (o que indiquei na outra resposta) o Homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, dá assentimento a Deus revelador, auxiliado pela Graça de Deus.
Mas para ser movido a acreditar e procurar a Fé é necessário primeiro ser movido pela Graça de Deus, o Homem sozinho não o consegue fazer.
Porque então alguns não acreditam e não procuram, Deus não lhes dá essa Graça?
Pelo contrário, dá e deu-lhes possívelmente várias vezes, mas o Homem se estiver ocupado e distraído em obras que não são boas não repara na Graça e afasta-a:
"Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus." (Jo 3, 18-21)

Assim na prática são necessárias duas coisas:
- Transmitir a Verdade, o depósito da Fé completo e não apenas as coisas boas e humanamente bonitas
- Proporcionar às pessoas momentos onde a Graça possa agir e elas se possam abrir e descobrir a Graça que lhes está a ser dada para se moverem a caminho da Fé

Por isso para o primeiro ponto é importante não reduzirmos Jesus a um bom amigo, à alegria do Evangelho, ao amor, esquecendo que somos chamados a ser Filhos de Deus, falar da salvação e do pecado de forma clara, temos de falar do Caminho, da Verdade e da Vida e não apenas numa espécie de salvação no mundo, numa vida melhor, temos de falar na vida na Graça de Deus. Tudo não porque é bom para nós mas porque é o justo e verdadeiro.

Por isso para o segundo ponto é tão importante não se reduzir a missa a convivio comunitário, celebração da alegria e da fraternidade entre os irmãos mas dar espaço ao oferecimento, ao silêncio, aprender a rezar intimamente, ver o Calvário no Altar, dar espaço à devoção e à piedade, aprender a simplesmente estar na casa de Deus e não estar sempre ocupado num levanta/senta/canta/responde.

Por isso para o segundo ponto é tão importante aprendermos a fazer as coisas para Deus sem termos de colocar-nos sempre no centro das atenções, a área do santuário da igreja é um bom exemplo onde em vez de se tornar sagradamente um espaço onde tudo é dedicado a Deus como quem abre uma janela para o Céu não faltam ali elementos humanos como faixas com palavras, adornos como se fosse um palco a falar da nossa vida no mundo, onde se retiraram os santos e a beleza, onde se retirou o sacrário, onde o padre se torna o centro da atenção, tudo coisas que tapam a vista da janela para o Céu.

Por isso para o segundo ponto é tão importante termos igrejas belas onde se entra e se respira logo uma atmosfera diferente. Precisamos de tornar o nosso agir e as nossas comunidades em espaço de devoção e piedade.

Transformamos tudo de forma a ser humanamente enriquecedor, onde se celebra a alegria e o amor, isto para quem acredita até pode ser bom mas esquecemo-nos dos que não acreditam, colocamo-nos entre eles e a Graça que lhes estava a ser dada. Estamos a dizer-lhes vê-de como é belo acreditar mas eles sem a Graça inicial não vão perceber.
 

terça-feira, 10 de julho de 2018

Jesus de Nazaré

Hoje em dia é comum ter-se uma ideia romântica de Jesus como alguém que veio anunciar o amor e a paz, que é inclusivo, tolerante, não julgava ninguém, veio promover um mundo melhor e uma forma de vida mais humana e solidária. Muitas vezes falamos e ouvimos falar de Jesus como um bom amigo, como quem nos quer dar uma vida mais preenchida, como quem vem realizar a verdadeira humanização da vida.

Estes são alguns dos atributos de Jesus mas ficar por aqui com esta imagem cómoda de Jesus é um dos motivos da crise de Fé que vivemos. É uma imagem construída por influência do modernismo, do espírito do mundo em que nós e a nossa felicidade são o nosso absoluto, o nosso fim e desejo, assim a religião e a Fé serão para nos completar e ajudar. É esta uma imagem cómoda e confortável, diferente do Jesus real do Evangelho, é uma imagem que nos transforma de certa forma em católico-protestantes, construindo um Evangelho à nossa medida. Este erro não nos vai chamar à conversão, a acreditar.


Hoje em dia não falamos sobre a Verdade, tudo é relativo. Falamos de verdades, que no fundo são preferências. O que uma pessoa acredita é tão importante como o que outra pessoa acredita independentemente do que seja verdade ou não. A sociedade moderna abandonou a Verdade em favor da preferência. Este é um dos frutos da sociedade moderna. Ela determina que isso é igualdade e tolerância. Mas na verdade a tolerância não é indiferença, assim se o próximo está errado é uma obra de misericórdia corrigir quem erra e ensinar quem não sabe.

Vamos então descobrir o verdadeiro Jesus, pois só poderemos compreender quanto nos ama se virmos as coisas pelo olhar de Deus que é o Bem. E como podemos amar Jesus se O não conhecermos?


"Certo chefe perguntou-lhe, então: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?» Respondeu-lhe Jesus: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus.»" (Lc 18, 18-19) 

Jesus ensina-nos que a medida do Bem e da nossa felicidade é Deus e só aí descobriremos o verdadeiro amor, justiça e misericórdia. Sem a Verdade e o Bem de Deus não existe o verdadeiro amor.

A Boa Nova
A mensagem principal do Evangelho não é o amor a Deus e ao próximo. Esses ensinamentos são essenciais para sermos cristãos e essenciais para alcançar a vida eterna, mas eles não são a Boa Nova. De certa forma eles já eram conhecidos no antigo testamento. A Boa Nova também não é entender a vida como um dom em entrega por amor aos irmãos, nem é descobrirmos que ser feliz significa fazer os outros felizes. Tudo isso faz parte do ser cristão mas a Boa Nova vai ainda mais longe.
A Boa Nova do Evangelho é a Ressurreição de Cristo, e consequentemente a Divindade de Cristo (da qual a Sua ressurreição corporal é a prova suprema), assim como o facto de que a Paixão, Morte, Ressurreição e Ascensão de Jesus nos redimiu e abriu para nós as portas do céu, as quais podemos alcançar através da cooperação com a graça de Deus, levando-nos ao arrependimento e à conversão.
Assim, a Boa Nova é que Jesus é Deus e Ele nos redimiu, fundou uma Igreja para preservar os Seus ensinamentos e os Seus Sacramentos, e que podemos entrar na vida eterna e no Seu Reino se cooperarmos com Sua graça salvadora.

São Paulo explica da seguinte forma este ponto central e fundamental da Fé: "Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. E resulta até que acabamos por ser falsas testemunhas de Deus, porque daríamos testemunho contra Deus, afirmando que Ele ressuscitou a Cristo, quando não o teria ressuscitado, se é que, na verdade, os mortos não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados. Por conseguinte, aqueles que morreram em Cristo, perderam-se. E se nós temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens." (1 Cor 15, 14-19).

Conversão
No anúncio da Boa Nova Jesus ensinou claramente que o arrependimento e a conversão são necessários para a aceitação da mensagem do Evangelho e a entrada na vida eterna:
"Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho." (Mc 1, 14-15).
"A partir desse momento, Jesus começou a pregar, dizendo: «Convertei-vos, porque está próximo o Reino do Céu.»" (Mt 4, 17).
A partir do momento em que acreditamos que Jesus é mesmo o Filho de Deus a conversão é fundamental para O conhecermos e recebermos. No fundo conversão significa colocar o coração em Deus.

Arrependimento e pecado
Outra ideia incorrecta é pensarmos num Jesus inclusivo, que convivia com todos, justos e pecadores, para os fazer felizes, com todos é tolerante e não os julgava. A verdade é que Jesus convivia com todos, indicou até que veio principalmente para os pecadores, contudo ajudava-os sempre a reflectir sobre o pecado, levantava-os e ajudava-os a abandonar o pecado, indicando-lhes também para não voltarem a pecar."Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas os que estão doentes. Não foram os justos que Eu vim chamar ao arrependimento, mas os pecadores."(Lc 5, 31-32).
Nisto usava de paciência e indicava que devemos perdoar sempre ao nosso próximo, indicando também que assim como fizermos Deus fará connosco.
"Então, Pedro aproximou-se e perguntou-lhe: «Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete." (Mt 18, 21-22) e "Por isso, o Reino do Céu é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos...O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe: ‘Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; não devias também ter piedade do teu companheiro, como eu tive de ti?’ E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos até que pagasse tudo o que devia. Assim procederá convosco meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar ao seu irmão do íntimo do coração."(Mt 18, 23-35).
"Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas." (Mt 6, 14-15).


Jesus, os fariseus e os doutores da Lei
Muitas vezes quem refere a importância de se guardar os mandamentos é acusado de ser rígido, de ser como os fariseus. A ideia é que os fariseus e doutores da Lei obrigavam ao cumprimento da Lei e Jesus veio libertar as pessoas da Lei e dos mandamentos. É a ideia que agora tudo se resume ao amor e a fazer as pessoas felizes. Aqui existem várias ideias erradas.

Em primeiro lugar Jesus não veio abolir a Lei mas sim levá-la à perfeição:
"Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas. Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu. Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu." (Mt 5, 17-20).
Assim o que Jesus nos indica é que a observância da lei, por si só, sem caridade, não é o que agrada a Deus. É para se cumprir a Lei e os mandamentos, não é a nossa suposta felicidade que vai fazer-nos escolher se cumprimos ou não. Mas o seu cumprimento deve ser feito com amor e justiça, por amor a Deus e ao próximo.

Jesus indica também que quem O ama guarda os mandamentos, "Quem recebe os meus mandamentos e os observa esse é que me tem amor; e quem me tiver amor será amado por meu Pai, e Eu o amarei e hei-de manifestar-me a ele." (Jo 14, 21). Não se pode amar Jesus sem guardar e observar os mandamentos, fazendo isso sempre com amor, justiça e Caridade.

Jesus condenou os fariseus e doutores da Lei por causa da sua hipocrisia, em que diziam uma coisa e faziam outra. "Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés. Fazei, pois, e observai tudo o que eles disserem, mas não imiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem." (Mt 23, 2-3). Novamente Jesus indica que se deve seguir a Lei e os mandamentos mas não na forma como os fariseus e doutores da Lei o fazem, hipocritamente.

Jesus condena também os doutores da Lei que enquanto exibem um seguimento da Lei ao mesmo tempo se desviam dela quando é conveniente para eles e para serem vistos e bem considerados pelos outros. Aqui está um ponto fundamental para nós hoje em dia, pois actualmente sobre uma aparente tolerância sugere-se que perante alguém que peca não devemos julgar. Está correcto que não devemos julgar a pessoa mas devemos ajudá-la a ultrapassar o pecado, levantá-la, ajudá-la a olhar mais longe, a olhar para o Bem. Se por uma aparente tolerância simplesmente não julgamos e passamos adiante corremos o risco de sermos como os doutores da Lei aos quais Jesus dizia que "por fora pareceis justos aos olhos dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e de iniquidade" (Mt 23, 28).

Mesmo que muitos fariseus não gostassem de Jesus e fossem condenados por Ele existiram alguns que eram sinceros e procuravam a Verdade, tais como Nicodemos e José de Arimateia.

Também importante para os nossos dias é o exemplo que Jesus dá em relação aos Saduceus em (Marcos 12, 18-27): "Vieram ter com Ele os saduceus, que negam a ressurreição, e interrogaram-no...Disse Jesus: «Não andareis enganados por desconhecer as Escrituras e o poder de Deus?". Nesta passagem Jesus indica que os Saduceus estão errados no seu entendimento da Sagrada Escritura e na sua rejeição do sobrenatural. Isto acontece várias vezes também connosco quando esquecemos todo o lado sobrenatural e aplicamos o Evangelho apenas à nossa vida na terra.

"Descurais o mandamento de Deus, para vos prenderdes à tradição dos homens.» E acrescentou: «Anulais a vosso bel-prazer o mandamento de Deus, para observardes a vossa tradição. Pois Moisés disse: Honra teu pai e tua mãe; e ainda: Quem amaldiçoar o pai ou a mãe seja punido de morte. Vós, porém, dizeis: "Se alguém afirmar ao pai ou à mãe: ‘Declaro Qorban’ - isto é, oferta ao Senhor - aquilo que poderias receber de mim...", nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, anulando a palavra de Deus com a tradição que tendes transmitido. E fazeis muitas outras coisas do mesmo género.»" (Mc 7, 8-13).

Assim, Jesus tinha mais em comum doutrinalmente com os fariseus do que com os saduceus. Jesus apoiou o ensino dos fariseus sobre a lei. O Seu desacordo acontece devido à colocação de tradições puramente humanas ao mesmo nível da Lei e até mesmo permitir que tais tradições neguem a Lei, bem como acreditar que a mera observância da Lei pode nos salvar, em oposição à dependência da graça de Deus (que não significa expulsar a lei). Jesus disse "Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu." (Mt 5, 20) e que os cristãos devem ser "perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste" (Mt 5, 48). Esse tipo de perfeição só pode ser realizado pela graça de Deus, mas não envolve rejeitar a lei positiva divina.


O mundo
Nos Evangelhos Jesus fala diversas vezes sobre a oposição que existe entre Ele e o mundo. Ainda que o mundo tenha sido criado com amor por Deus o pecado e a morte entraram nele. Assim se vivermos no mundo indiferentes ou esquecidos de Deus é normal ficarmos escravos do pecado. É esta oposição que Jesus nos recorda, cuja salvação nos vem oferecer.
"Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo.
Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade." (Jo 17, 14-19)


O mundo onde nascemos não é compatível com Deus por causa do pecado e da nossa natureza, fruto do pecado original. Por isso necessitamos de salvação, sem Jesus já estavamos condenados. É o abismo que existe entre o mundo e Deus, "entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós." (Lc 16, 26).


A promoção da paz
No mundo pensamos na paz como tendo a humanidade a viver fraternalmente. Contudo a paz que Jesus nos vem dar é diferente da do mundo. Este viver fraternalmente da humanidade se for à custa do abandono e da relativização da Verdade e do esquecimento de Deus de forma a satisfazer as necessidades e a paz entre os Homens de pouco serve.
"Deixo-vos a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou." (Jo 14, 27).
"Todo aquele que se declarar por mim, diante dos homens, também me declararei por ele diante do meu Pai que está no Céu. Mas aquele que me negar diante dos homens, também o hei-de negar diante do meu Pai que está no Céu. Não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho do seu pai, a filha da sua mãe e a nora da sua sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares. Quem amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem amar o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim. Quem não tomar a sua cruz para me seguir, não é digno de mim. Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim, há-de salvá-la." (Mt 10, 32-39).
A paz que Jesus nos dá é vivermos na Graça de Deus, isto requer de nós conversão e acreditar. Se acreditamos a sério não podemos relativizar ou guardar o que acreditamos apenas para uma suposta paz fraternal entre os Homens. É normal então que exista divisão, diferenças.
Desta divisão também Jesus nos falou para quando ocorrer a Sua vinda no fim dos Tempos: "Quando o Filho do Homem vier na sua glória, acompanhado por todos os seus anjos, há-de sentar-se no seu trono de glória. Perante Ele, vão reunir-se todos os povos e Ele separará as pessoas umas das outras, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos. À sua direita porá as ovelhas e à sua esquerda, os cabritos." (Mt 25, 31- 33).


Ao mesmo tempo Jesus alertou os seus discípulos de que é normal existirem diferenças e serem julgados e condenados por outros Homens: "Felizes sereis, quando os homens vos odiarem, quando vos expulsarem, vos insultarem e rejeitarem o vosso nome como infame, por causa do Filho do Homem. Alegrai-vos e exultai nesse dia, pois a vossa recompensa será grande no Céu. Era precisamente assim que os pais deles tratavam os profetas." (Lc 6, 22-23).
Isto acontece hoje em dia na sociedade moderna que é "inclusiva" à custa da relativização da Verdade. Se alguém fala da verdadeira doutrina, da Verdade, da necessidade de abandonar o pecado é logo acusado de ser rígido e causador de divisões. A sociedade moderna esqueceu que a medida do Bem é Deus.


A condenação de quem não acreditar e seguir o caminho de salvação
Jesus mostrou-nos a Verdade e a Vida e qual o Caminho para alcançarmos a salvação. Na missão que deu aos discípulos foi claro sobre a necessidade de seguirmos esse Caminho, pois não acreditando seremos condenados.
"Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim." (Jo 14, 6).
"Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!" (Mt 7, 13-14).
"Apareceu, finalmente, aos próprios Onze quando estavam à mesa, e censurou-lhes a incredulidade e a dureza de coração em não acreditarem naqueles que o tinham visto ressuscitado. E disse-lhes: «Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas, quem não acreditar será condenado" (Mc 16, 14-16).

Os incrédulos e a falta de Fé
Jesus lamentou a incredulidade e a falta de Fé das pessoas, os Seus milagres e as Suas obras são sobretudo para confirmar que Ele é mesmo o Filho de Deus e por isso lamenta que apesar de tantos prodígios as pessoas não acreditem e se convertam.
"Se alguém não vos receber nem escutar as vossas palavras, ao sair dessa casa ou dessa cidade, sacudi o pó dos vossos pés. Em verdade vos digo: No dia do juízo, haverá menos rigor para a terra de Sodoma e de Gomorra do que para aquela cidade." (Mt 10, 14-15)
"Jesus começou então a censurar as cidades onde tinha realizado a maior parte dos seus milagres, por não se terem convertido: «Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres realizados entre vós, tivessem sido feitos em Tiro e em Sídon, de há muito se teriam convertido, vestindo-se de saco e com cinza. Aliás, digo-vos Eu: No dia do juízo, haverá mais tolerância para Tiro e Sídon do que para vós. E tu, Cafarnaúm, julgas que serás exaltada até ao céu? Serás precipitada no abismo. Porque, se os milagres que em ti se realizaram tivessem sido feitos em Sodoma, ela ainda hoje existiria. Aliás, digo-vos Eu: No dia do juízo, haverá mais tolerância para os de Sodoma do que para ti." (Mt 11, 20-24)
"Intervieram, então, alguns doutores da Lei e fariseus, que lhe disseram: «Mestre, queremos ver um sinal feito por ti.». Ele respondeu-lhes: «Geração má e adúltera! Reclama um sinal, mas não lhe será dado outro sinal, a não ser o do profeta Jonas. Assim como Jonas esteve no ventre do monstro marinho, três dias e três noites, assim o Filho do Homem estará no seio da terra, três dias e três noites. No dia do juízo, os habitantes de Nínive hão-de levantar-se contra esta geração para a condenar, porque fizeram penitência quando ouviram a pregação de Jonas. Ora, aqui está quem é maior do que Jonas! No dia do juízo, a rainha do Sul há-de levantar-se contra esta geração para a condenar, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. Ora, aqui está alguém que é maior do que Salomão!»" (Mt 12, 38-42).


Advertência sobre o pecado
Jesus salientou a importância de abandonarmos o pecado. O pecado não é apenas algo que nos desumaniza é para além disso um viver segundo a lógica do mundo, longe da Graça de Deus. Foi para nos libertar do pecado que Jesus nos salvou, não podemos acreditar sem conversão, sem fazermos um caminho de abandono do pecado com a ajuda dos Sacramentos.
"«Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar ‘imbecil’ será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar ‘louco’ será réu da Geena do fogo.
Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois, volta para apresentar a tua oferta. Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes juntos, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá até que pagues o último centavo.»" (Mt 5, 21-26).

"Nem todo o que me diz: ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres?’ E, então, dir-lhes-ei: ‘Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.’" (Mt 7,21-23).

"«Mas, se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos; mas ai do homem por quem vem o escândalo!
Se a tua mão ou o teu pé são para ti ocasião de queda, corta-os e lança-os para longe de ti: é melhor para ti entrares na Vida mutilado ou coxo, do que, tendo as duas mãos ou os dois pés, seres lançado no fogo eterno. Se a tua vista é para ti ocasião de queda, arranca-a e lança-a para longe de ti: é melhor para ti entrares com uma só vista na Vida, do que, tendo os dois olhos, seres lançado na Geena do fogo.»" (Mt 18, 6-9).

"«Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Eu, porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração.
Portanto, se a tua vista direita for para ti origem de pecado, arranca-a e lança-a fora, pois é melhor perder-se um dos teus órgãos do que todo o teu corpo ser lançado à Geena. E se a tua mão direita for para ti origem de pecado, corta-a e lança-a fora, porque é melhor perder-se um só dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado à Geena.»" (Mt 5, 27-30).

"«Também foi dito: Aquele que se divorciar da sua mulher, dê-lhe documento de divórcio. Eu, porém, digo-vos: Aquele que se divorciar da sua mulher - excepto em caso de união ilegal - expõe-na a adultério, e quem casar com a divorciada comete adultério.»" (Mt 5, 31-32).

Perante estas palavras difíceis Jesus indica que com a Graça de Deus é possível abandonarmos o pecado e alcançarmos a Salvação: "Jesus disse, então, aos discípulos: «Em verdade vos digo que dificilmente um rico entrará no Reino do Céu. Repito-vos: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino do Céu.» Ao ouvir isto, os discípulos ficaram estupefactos e disseram: «Então, quem pode salvar-se?» Fixando neles o olhar, Jesus disse-lhes: «Aos homens é impossível, mas a Deus tudo é possível.»" (Mt 19, 23-26).

A condenação e o Inferno
Várias vezes Jesus nos alertou para o perigo de sermos condenados, não por Deus mas porque no mundo já estavamos condenados. Jesus veio nos salvar e para isso é necessário recebe-lo, acreditar e convertermo-nos.
"Digo-vos a vós, meus amigos: Não temais os que matam o corpo e, depois, nada mais podem fazer. Vou mostrar-vos a quem deveis temer: temei aquele que, depois de matar, tem o poder de lançar na Geena. Sim, Eu vo-lo digo, a esse é que deveis temer." (Lc 12, 4-5).
"Aquele, porém, que me tiver negado diante dos homens, será negado diante dos anjos de Deus. 10E a todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, há-de perdoar-se; mas, a quem tiver blasfemado contra o Espírito Santo, jamais se perdoará." (Lc 12, 9-10).
"Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá de responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar ‘imbecil’ será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar ‘louco’ será réu da Geena do fogo." (Mt 5, 21-22).
"se a tua vista direita for para ti origem de pecado, arranca-a e lança-a fora, pois é melhor perder-se um dos teus órgãos do que todo o teu corpo ser lançado à Geena. E se a tua mão direita for para ti origem de pecado, corta-a e lança-a fora, porque é melhor perder-se um só dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado à Geena." (Mt 5, 29-30).

Perante este perigo Jesus alerta-nos também para estarmos preparados pois não sabemos quando volta ou quando seremos chamados. Por isso devemos viver na Graça de Deus e acumular um tesouro no Céu.
"Depois, direi a mim mesmo: Tens muitos bens em depósito para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te.’ Deus, porém, disse-lhe: ‘Insensato! Nesta mesma noite, vai ser reclamada a tua vida; e o que acumulaste para quem será?’ Assim acontecerá ao que amontoa para si, e não é rico em relação a Deus." (Lc 12, 19-21).
"«Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas. Sede semelhantes aos homens que esperam o seu senhor ao voltar da boda, para lhe abrirem a porta quando ele chegar e bater. Felizes aqueles servos a quem o senhor, quando vier, encontrar vigilantes! Em verdade vos digo: Vai cingir-se, mandará que se ponham à mesa e há-de servi-los. E, se vier pela meia-noite ou de madrugada, e assim os encontrar, felizes serão eles.
Ficai a sabê-lo bem: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não teria deixado arrombar a sua casa. Estai preparados, vós também, porque o Filho do Homem chegará na hora em que menos pensais.»" (Lc 12, 35-40).


Salvação no mundo
Jesus falou-nos também para a sedução de pretendermos uma salvação no mundo, uma vida melhor, uma libertação de todas as opressões e dificuldades como se o nosso tesouro estivesse aqui no mundo. É dever do cristão ajudar e trabalhar para termos um mundo melhor, colocarmos nele as sementes do Reino, mas não é esse o fim para que veio Jesus. Jesus pede-nos para elevarmos os nossos olhares e corações para o Céu, é lá a nossa morada e o nosso tesouro. Tudo o que fazemos no mundo faz parte do caminho para chegarmos lá, à nossa verdadeira morada. Assim, Jesus censura aqueles que esperavam que Ele fosse um Messias libertador para a vida no mundo.
"Aquela gente, ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o Profeta que devia vir ao mundo!» Por isso, Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte." (Jo 6, 14-15).
"Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo." (Jo 6, 26-27).
"Jesus encontrava-se em Betânia, na casa de Simão, o leproso. Estando à mesa, chegou uma certa mulher que trazia um frasco de alabastro, com perfume de nardo puro de alto preço; partindo o frasco, derramou o perfume sobre a cabeça de Jesus.
Alguns, indignados, disseram entre si: «Para quê este desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de trezentos denários e dar-se o dinheiro aos pobres.» E censuravam-na. Mas Jesus disse:
«Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em mim uma boa acção! Sempre tereis pobres entre vós e podereis fazer-lhes bem quando quiserdes; mas a mim, nem sempre me tereis." (Mc 14, 3-7).

O momento do milagre da multiplicação dos pães é um exemplo deste desejo. Jesus sacia a multidão não apenas para os ajudar mas sobretudo para mostrar pelo milagre que as Suas obras são de Deus. Jesus pega na fome natural das pessoas para as ajudar a encontrarem a fome de Deus, a vontade de receber o alimento de Vida Eterna. É este milagre um anúncio da Eucaristia.

Correcção fraterna
Jesus ensina-nos a obra de misericórdia de corrigir e ensinar com Caridade: "Se o teu irmão pecar, vai ter com ele e repreende-o a sós. Se te der ouvidos, terás ganho o teu irmão. Se não te der ouvidos, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão fique resolvida pela palavra de duas ou três testemunhas. Se ele se recusar a ouvi-las, comunica-o à Igreja; e, se ele se recusar a atender à própria Igreja, seja para ti como um pagão ou um cobrador de impostos." (Mt 18, 15-17).
Não podemos simplesmente não julgar, é necessário ajudar o próximo.


Os maus frutos

"Ou admitis que a árvore é boa e o seu fruto será bom, ou admitis que a árvore é má e o seu fruto será mau. Porque pelo fruto se conhece a árvore. Raça de víboras! Como podeis falar de coisas boas, se sois maus? Porque a boca fala da abundância do coração. O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas; e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más. Ora, Eu digo-vos: de toda a palavra ociosa que os homens disserem, prestarão contas no dia do juízo. Porque pelas tuas palavras serás justificado e pelas tuas palavras serás condenado." (Mt 12, 33-37).

Falar com clareza e sem ambiguidade
"Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim; não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal." (Mt 5, 37).

Jesus mostrou-nos que fomos criados para conhecer, amar e servir a Deus
"Assim falou Jesus. Depois, levantando os olhos ao céu, exclamou: «Pai, chegou a hora! Manifesta a glória do teu Filho, de modo que o Filho manifeste a tua glória, segundo o poder que lhe deste sobre toda a Humanidade, a fim de que dê a vida eterna a todos os que lhe entregaste. Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste." (Jo 17, 1-3).
"Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor." (Jo 15, 9-10).
"Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro." (Mt 6, 24).
"Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos. Pois também o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por todos." (Mc 10, 43-44).

"E vós, quem dizeis que Eu sou?" (Mt 16, 15)
A esta questão Pedro respondeu que "Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo." (Mt 16, 16). Está aqui a resposta para conhecermos e reconhecermos o verdadeiro Jesus, Ele é o Messias, o Filho de Deus vivo. Não é apenas um bom amigo, um mestre espiritual, um mestre de vida, Ele é de verdade o Filho de Deus. E do Deus vivo, do Deus que nos criou. É assim também o Messias que nos veio salvar pois no mundo estávamos perdidos, presos no pecado e na morte eterna. É este Jesus que nos mostra o Caminho, a Verdade e a Vida.
Não desperdicemos o dom que Jesus nos dá permanecendo seduzidos a uma imagem cómoda de Jesus, procuremos a Verdade e passemos a viver segundo a Graça de Deus.

"Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há-de julgar os vivos e os mortos, peço-te encarecidamente, pela sua vinda e pelo seu Reino: proclama a palavra, insiste em tempo propício e fora dele, convence, repreende, exorta com toda a compreensão e competência.
Virão tempos em que o ensinamento salutar não será aceite, mas as pessoas acumularão mestres que lhes encham os ouvidos, de acordo com os próprios desejos. Desviarão os ouvidos da verdade e divagarão ao sabor de fábulas. Tu, porém, controla-te em tudo, suporta as adversidades, dedica-te ao trabalho do Evangelho e desempenha com esmero o teu ministério." (2 Tm 4, 1-5)