O Modernismo

No Evangelho Jesus diz-nos que o mundo e a lógica do mundo é contrária a Deus, devido ao pecado. E na sociedade actual vêmos isso, os valores e sentido da vida que é promovido é contrário ao Evangelho. Em muitos casos são propostos de forma tentadora valores opostos aos de Jesus. Por exemplo, hoje em dia é habitual ouvirmos falar de orgulho como um bem, como uma virtude a valorizar, ouvimos falar do orgulho de ser mulher, do orgulho da nossa orientação sexual, do orgulho da nossa raça ou etnia, etc. Mas Jesus o que nos pede é humildade, precisamente o contrário do orgulho, além de que o orgulho é um pecado capital. Se não estivermos atentos facilmente somos levados, mesmo inconscientemente, a seguir valores contrários à vida cristã. Tão longe está a sociedade de Jesus!
Esta oposição que é natural devido ao pecado, como indica o Evangelho, agravou-se devido às filosofias e ideologias que foram sendo criadas no sentido puramente humanista, ou seja, ignorando a Igreja e Deus.

O grande problema nisto tudo não é a sociedade estar assim, disso Jesus nos avisou. Os próprios Apóstolos, os primeiros cristãos e os primeiros missionários evangelizadores tiveram que enfrentar uma sociedade assim, contrária ao Evangelho. O império romano e os povos bárbaros eram contrários ao Evangelho e no entanto foram evangelizados, levaram-lhes a luz: a Fé e a conversão.

O grande problema é então quando este espírito do mundo entra nas mentes e corações daqueles que deviam ser o sal e a luz do mundo: os próprios cristãos, principalmente os pastores. E é isso que vêmos acontecer. Este mal tem um nome e fomos avisados para ele: é o modernismo. É o espírito do mundo, com as suas filosofias e ideologias alternativas à Igreja e a Deus, que entra nos corações e nas mentes dos cristãos e dos nossos pastores.

Vamos ver do que se trata.

O que não é o modernismo
O modernismo não é termos, pensarmos ou usarmos coisas modernas, ou fazermos as coisas de uma maneira mais moderna. Não existe um erro ou mal nisso por si mesmo. Como indica Santo Inácio de Loyola, devemos usar as coisas na medida em que nos aproximam de Deus e deixá-las na medida em que nos afastam de Deus. Assim, não existe um problema com o uso de coisas modernas, podemos usar computadores, telemóveis avançados, etc., o critério é sempre que nada nos leve ao afastamento de Deus.

O que é o modernismo?
O modernismo é anúnciar um Evangelho adaptado e moldado conforme às ideias e filosofias modernas, no sentido humanista, segundo o liberalismo e materialismo. É uma adaptação das doutrinas cristãs para se adequarem ao sentimento de liberdade do Homem e um obscurecimento da Verdade reduzindo-a ao seu lado material e natural, esquecendo tudo o que de sobrenatural nela existe.
Em vez de anúnciarmos o Evangelho e o Homem acreditar e se converter edificando a sua vida em Deus e para Deus é feito o contrário. O Homem vive a sua vida no mundo normalmente como qualquer pessoa de qualquer religião e o Evangelho vem apenas ajudar a viver uma vida melhor, mais realizada.
Assim vêmos que se o modernismo não é heresia facilmente pode-nos levar a ela.


Como se detecta e onde se torna evidente o modernismo?
O modernismo vê-se sobretudo pelo seguinte aspecto: o Homem é colocado no centro de tudo, é o princípio e fim do que se faz ou pensa. A medida do Bem e da justiça é o Homem e o mundo e não Deus.
Assim, sobressaiem na prática quatro aspectos:
- A incapacidade de fazer alguma coisa apenas para Deus, sem colocar-se a si ou alguém no centro da atenção. Segundo o modernista nada faz sentido se não tiver o Homem como fim ou se do que se faz não for obtido algo para o Homem ou para a vida do Homem na terra.

- O olhar e pensamento parte sempre do Homem e da sua experiência e a partir daí chega-se a uma conclusão sobre Deus, enquanto que o sentido cristão seria partir da revelação divina e tirar daí conclusões sobre o Homem e para o Homem. Portanto segundo o modernista o Homem imagina Deus enquanto que no sentido cristão seria Deus a iluminar o Homem. Daqui vem todo o relativismo moral e os mandamentos apenas como um ideal, onde tudo se adapta para o suposto bem do Homem, em que o próprio Homem define qual é o seu bem.

- O modernista demonstra uma grande incoerência, devido à subjectividade e relativização. É capaz de dizer uma coisa com convicção e logo depois fazer ou dizer o seu contrário. Por exemplo, é capaz de ao referir as pessoas que faleceram dizer que estão junto de Deus mas na oração eucarística pedir a Deus que as receba. Nesta incoerência é usada a ambiguidade e a falta de clareza como forma de agradar a quem o ouve.

- O modernista revela um gosto e vontade de novidades, de movimento. Devido à falta do lado sobrenatural não é capaz de sair de si mesmo e entregar-se a Deus. Assim, para não se aborrecer no silêncio e na tradição necessita sempre de alterar e introduzir novidades que o despertem.


O mundo actual
Na sociedade actual existe um grande esquecimento de Deus, vive-se como se Deus não existisse. Ao mesmo tempo, enquanto se ignora a mensagem cristã na morte espera-se alcançar um acolhimento da parte de Deus. Existe um sentimento generalizado de que o que devemos ser é "boas pessoas".
Este estado da sociedade moderna começou a ser edificado no renascimento, onde o Homem desenvolve todo o seu pensamento e acção baseando-se nas referências da antiguidade clássica em contraposição ao existente dogmatismo religioso. Esta edificação aprofundou-se ainda mais com o iluminismo, onde a partir de um movimento intelectual e filosófico centram-se as ideias na razão como fonte para alcançar os ideias de liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação da Igreja do Estado.
O mundo actual edificou-se ignorando Deus e a Igreja, está edificado na areia!
Vêmos assim já aqui dois pontos que nos afastam de Cristo: um renascimento do Homem realizado por si mesmo, intelectualmente, em contraposição ao renascimento do baptismo. E um iluminismo em que o Homem racionalmente tenta alcançar a paz e liberdade em contraposição à Luz de Cristo, única capaz de alcançar a verdadeira paz e liberdade.

As sementes
Temos então duas sementes da sociedade moderna:
- O liberalismo, em que o Homem pretende alcançar uma liberdade absoluta tendo apenas como limite a liberdade de outros Homens, esquecendo os deveres para com Deus, esquecendo Cristo como nosso Rei e Rocha edificadora da sociedade e esquecendo os deveres e caminho que devemos seguir para sermos dignos de receber as promessas de Cristo e fazermos parte do Seu Reino.

- O materialismo, em que se ignora todo o lado sobrenatural da existência limitando-nos apenas ao mundo natural e material.Todo o pensar e agir do Homem se refere à sua vida na terra e se alguma vez pensa em Deus é para o ajudar na vida na terra, reduzindo o ser cristão apenas a uma espiritualidade que o completa.

Os frutos
Como fruto principal destas sementes temos o utilitarismo em que quer a vida, quer o que se faz e pensa apenas tem valor se tiver utilidade para o Homem. Daqui surgem facilmente ideias que aceitam o aborto e a eutanásia. O próprio Deus e a religião ficam limitadas a este sentido de utilidade, apenas servem se forem para ajudar a vida na terra.
Outro fruto é o agnosticismo, como o ponto de partida são as filosofias modernas em vez da revelação divina o Homem nada sabe sobre Deus. Parte da dúvida sobre Deus, se existe ou não e a partir dessa dúvida edifica na areia o seu pensar religioso.
Segue-se assim o fruto da imanência vital, como o Evangelho e a revelação divina foram esquecidas e todo o seu pensar é reduzido ao materialismo, ao mundo visível, o Homem parte então do agnosticismo, da dúvida se Deus existe, e procura Deus dentro de si mesmo. O Homem intui por si mesmo como será Deus, se existe e que relação poderá ter connosco.

Em que o modernismo afecta o nosso ser cristão
O modernismo é completamente contrário ao Evangelho, ignora a conversão e não aproxima o Homem de Deus. Ao Homem apenas é dado algo mais para uma vida melhor. Em vez de ser o Homem que se converte a Deus é Deus que se adapta ao Homem.
Numa tabela podemos comparar o que nos diz o modernismo e o que na verdade nos diz o Evangelho, assim vêmos que este pensamento e "evangelização" na forma modernista é contrário ao Evangelho.


Modernismo
Evangelho
Parte da ignorância se Deus existe ou nãoJesus revelou-nos a existência do Deus único e verdadeiro, toda a sua vida, a explicação da Palavra de Deus e os milagres deram testemunho da existência de Deus e de que Ele é na verdade o Filho de Deus. Partimos então da certeza de que Deus existe.
O fim do Evangelho e do Reino de Deus é o Homem ter uma vida feliz e plena na terra numa comunidade de irmãos. O fim do Evangelho e do Reino de Deus é o Homem salvar a sua alma e alcançar o Céu e fazer parte do Reino de Deus quando o Senhor voltar. Isto faz-se abandonando o pecado, renascendo pelo baptismo, tendo Fé em Deus, amando a Deus com toda a alma e todas as forças e amando o próximo como a nós mesmos.
O horizonte é apenas a vida na terra, nada sabe, pensa ou diz sobre a eternidade, o Céu e o Reino de Deus quando o Senhor vier.O nosso horizonte é o Céu e o Reino de Deus quando o Senhor voltar, a vida na terra é uma peregrinação.
Os valores cristãos são reduzidos à sua utilidade na vida do dia a dia, à fraternidade, paz e felicidade entre os Homens.Os valores cristãos fazem parte do caminho que fazemos para amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Fazem parte da vida cristã e ajudam-nos para que Deus viva em nós e nós n'Ele.
O único pedido e insistência de conversão é na relação entre os Homens, o pecado e o mal apenas afectam a relação entre os Homens e o mundo.A principal conversão é colocarmos o coração em Deus, amá-lO com toda a alma e todas as forças. Se amar-mos a Deus de verdade daremos bons frutos e ama-mos de verdade o nosso próximo. O pecado e o mal afectam principalmente a relação entre os Homens e Deus.
Nada sabe, pensa ou diz sobre o que acontece depois da morte. Tem uma ideia vaga de que todos vão para Deus, mas não se pensa ou fala sobre isso.Depois da morte seremos julgados no juizo particular conforme a nossa Fé e obras, quando o Senhor voltar para instaurar o Seu Reino seremos julgados no juizo universal onde seremos separados conforme a nossa Fé e as nossas obras.
Os mandamentos e toda a doutrina são apenas um ideal em que o que cada um faz depende do seu caso concreto. O fundamental é a felicidade e fraternidade entre os Homens.Os mandamentos e toda a doutrina não são um fardo, são a base para podermos viver a vida cristã e estarmos na Graça de Deus. São para os guardarmos e seguirmos com amor, justiça e misericórdia onde a medida do Bem é a Graça de Deus.
A Fé é subjectiva, é acreditar em algo que não se sabe bem ou em algo de que pouco se sabe porque nos ultrapassa, é acreditar em algo que será Deus e que nos ajuda. Ter Fé depende da experiência que cada um fizer, isto devido ao principio da imanência vital e ao esquecimento do sobrenatural e da revelação divina.A Fé é acreditar em Deus e no que nos revelou por Jesus. É acreditar em algo concreto que é Deus e na Verdade. Ainda que algumas coisas pertençam aos mistérios divinos o fundamental para termos Fé e o fundamental que devemos acreditar foi-nos revelado por Jesus. A sua transmissão e o acreditar é feito então com algo concreto, com os artigos da Fé, do Credo e do Pai-Nosso levando a uma conversão real de vida.
A Esperança é de uma vida melhor no mundo, é a paz no mundo, é vivermos todos fraternalmente no mundo.A Esperança é de alcançarmos o Céu e o Reino de Deus e de que Deus nos ajuda a alcançarmos esse fim para o qual fomos criados.
A Caridade é solidariedade entre os Homens, amarmo-nos uns aos outros independentemente do amor de Deus.A Caridade é amarmos a Deus com toda a nossa alma e todas as nossas forças e por esse amor amarmos o nosso próximo como a nós mesmos.
Deus é apenas amor, onde o amor no sentido humano será colocado no lugar de Deus, devido ao esquecimento da justiça e da santidade.Deus é amor, justiça e santidade. O maior atributo é o amor, mas por ser verdadeiro amor não se esquece da justiça e da santidade de chamar-nos e elevar-nos a valores mais altos.
A Vida que Jesus nos quer dar é uma vida feliz, plena e realizada no mundo.A Vida que Jesus nos quer dar é a Graça e a comunhão com Deus. Sermos um só com Deus como Jesus é um só com o Pai. E o pecado impede ou dificulta essa Graça e comunhão.
O Reino de Deus é a comunidade fraternal de irmãos no mundo, de qualquer religião.O Reino de Deus na terra é a Igreja, Corpo Místico de Cristo, onde Cristo é a cabeça e nós somos os membros. Quando o Senhor voltar instaurará o Seu Reino, onde de acordo com a nossa Fé e as nossas obras podemos ou não estar eternamente com Deus.
Não existe apenas uma Verdade, cada um faz o seu caminho de busca e procura. Jesus deu-nos a Verdade, nela encontramos o que precisamos de saber sobre Deus, sobre nós e sobre a Vida.
Todas as religiões são boas, sendo porventura a cristã a que, de forma imanente, consegue mais perfeitamente dizer-nos mais sobre Deus. Todas as religiões podem ter algo de verdadeiro mas contêm erros. Jesus é o verdadeiro Filho de Deus, único Caminho, Verdade e Vida, indicou-nos que ninguém pode ir para o Pai senão por Ele. Só pela religião cristã e na Igreja Católica por Ele fundada temos os elementos todos da salvação. Fora da Igreja não existe salvação é dogma e é o que está no catecismo, fora da Igreja só Deus sabe quem se salva.
A salvação é todos os Homens terem uma vida feliz, plena e realizada no mundo e/ou uma salvação universal, todos vão para Deus desde que sejam "boas pessoas". É algo que não se sabe bem, não podemos limitar a misericórdia de DeusA salvação é salvarmos a alma e alcançarmos o Céu e um lugar no Reino de Deus. Jesus deixou-nos a Igreja como barca de salvação, onde temos os elementos necessários para a alcançarmos. Para a salvação é necessário termos Fé e obras, fora da Igreja não existe salvação é dogma e é o que está no catecismo, fora da Igreja só Deus sabe quem se salva.

"Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema.
Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo." (Gl 1, 6-10)

Crise de Fé
A Fé é um todo em que se acredita, não se pode ignorar ou retirar algo que não se aceita ou compreende, ou se tem ou não se tem. É um tesouro que é transmitido de geração em geração, para que nós, os nossos filhos e netos um dia também acreditem, com aquela alegria de acreditar sem ter visto.
É importante focarmos a missão neste ponto, no persevar e transmitir a Fé, com toda a Verdade, todos os artigos do Credo, Pai-Nosso e doutrina. É importante ajudar a conhecer bem a Fé, compreender, ajudar a acreditar, à conversão, pedindo a Graça de Deus para acreditar e ajudar a transmitir. Tudo o resto vem daqui, da Fé.

Nós acreditamos em alguém e no que ele nos diz porque esse alguém é de confiança. Assim é com a Fé, acreditamos em Deus e no que nos revelou porque em Deus podemos confiar. É com a nossa livre vontade, ajudados pela Graça de Deus que acreditamos no que nos foi transmitido. É isto ter Fé, acreditar em Deus e no todo que Deus nos revelou, é este o nosso tesouro.
Por isso a Fé não está dependente de fazermos ou não a experiência de Deus, a Fé não é acreditar em algo que nos ajuda e não é termos apenas um enriquecimento espiritual, também não é não saber o sentido da vida e o que acontece depois da morte, não é ter Jesus apenas como amigo e não é encontrar Deus por intuição nossa.

"Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé" disse Nossa Senhora de Fátima, e é este o ponto fundamental da nossa missão pois é onde assenta tudo o resto. Ter Fé, acreditar, em Deus que nos criou e na Verdade que nos revelou, com a Graça e conversão moldando a nossa vida na Vida que nos quer dar.

A crise que vivemos é uma crise de Fé porque moldamos tudo a um acreditar que sabe mais de nós do que de Deus. É uma crise presente não só entre os não crentes mas muitas vezes também entre nós em que a Fé que possuimos já não é a Fé católica, igual à dos Apóstolos e transmitida ao longo dos séculos. Muitas vezes parecemos católico-protestantes ou com gestos pagãos de uma crença incerta.

A crise de Fé leva à crise moral presente não só no mundo mas também por vezes em nós quando o nosso modo de vida não difere muito de quem não acredita. Como diz São Paulo, devemos ser irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo (Fl 2, 15). Mas muitas vezes pouca diferença e brilho existe, com uma Fé frágil, vazia e sem substância não temos a força para formar e edificar a nossa vida cristã.
Por aqui já temos casos de quem não coloca os filhos na catequese em nome de uma suposta liberdade, isto é crise de Fé, e também é quando em casa não se transmite a Fé e se deixa tudo para a catequese, também é quando não se leva o filho à missa, também é quando se reduz a missa a um convivio/celebração da comunidade.
A Igreja existe para ajudar nestes casos, e o mundo precisa que brilhemos e façamos um esforço adicional.

Por isso não nos conformemos porque actualmente a pessoa comum que vive de forma normal, mesmo sem cair em extremos, já está afastada da vida cristã e da Fé que Cristo nos veio dar, colocando a salvação em risco e onde o tesouro da Fé não foi recebido nem é transmitido aos seus filhos e netos.

"Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2, 3-4) façamos a nossa parte para persevar o dogma da Fé para que todos conhecendo a Verdade se salvem.

O mundo
Nos Evangelhos Jesus fala diversas vezes sobre a oposição que existe entre Ele e o mundo.
"Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo.
Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade." (Jo 17, 14-19)


O mundo onde nascemos não é compatível com Deus por causa do pecado e da nossa natureza, fruto do pecado original. Por isso necessitamos de salvação, sem Jesus já estavamos condenados. É o abismo que existe entre o mundo e Deus, "entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós." (Lc 16, 26).

Pela salvação que Jesus alcançou esse abismo deixa de existir, e em vez de um abismo temos a possibilidade de uma forte comunhão, "Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou." (Jo 14, 23-24).

Mas para isto é necessário da nossa parte cooperarmos com a Graça de Deus, acreditarmos na Fé e convertermo-nos.

O mundo e a lógica do mundo onde existe o abismo continua, mesmo após o baptismo precisamos de ajuda para perseverarmos na Fé. Para isso Jesus deu-nos a Igreja e os sacramentos, principalmente a Hóstia Sagrada o como alimento da vida eterna.
Não é necessário retirarmo-nos todos para longe do mundo, temos de nele permanecer mas vivemos de maneira diferente, passamos a viver para Deus santificando o mundo.

Assim, a nossa Esperança não é de um mundo melhor ou uma vida feliz, esses são os nossos deveres de cristãos que devemos fazer e proporcionar mesmo aos pecadores e a quem não acredita, tendo sempre Deus como medida do Bem e não apenas o Homem ou o mundo. Na verdade a nossa Esperança é o Céu, a vida eterna no Reino de Deus quando o Senhor voltar, aqui na terra somos peregrinos, dirigimo-nos para a nossa pátria que é o Céu, como no plano original de Deus, antes do pecado original.

Por isso no mundo temos uma tarefa importante: escolher e preparar onde vamos passar a eternidade.
Ajudemo-nos uns aos outros para que seja no Céu, junto do Deus único e verdadeiro que nos criou por amor, para o conhecermos, amarmos e servirmos.

É isto que temos de conseguir dar às nossas crianças e jovens, a Fé e ajudá-los a converter-se. O maior amor que lhes podemos desejar é que alcancem o Céu para o qual foram criados! E o Céu não está garantido à partida, é necessário conversão, acreditar.

A Fé e o dever
No Evangelho na cura do servo do centurião Jesus mostra-nos o que é ter Fé, vejamos:

"Entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos:
«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.»
Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» Respondeu-lhe o centurião:
«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.»
Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.»
Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado." (Mt 8, 5-13)


A grande Fé que Jesus encontra no centurião é esta: O centurião reconhece a existência de Deus e que Jesus é na verdade o Filho de Deus, a Deus tudo é possível basta dizer e assim se faz e reconhece a humildade e diferença que existe entre nós e Deus.

É este o sentido da Fé, acreditar em Deus e no que nos revelou em Jesus e acreditando vivemos como servos e filhos de Deus.

A Fé não está dependente de uma experiência ou encontro, a Fé é reconhecer e acreditar em Deus. E como Homens e Mulheres que acreditam edificam a sua vida em Deus e para Deus.

Nas XIV jornadas catequéticas da diocese do Porto vem indicado que o catequista é testemunha porque se deixou encontrar, tocar, amar, transformar por Jesus Cristo e pela comunidade. Ainda que seja sem intenção, tentando mostrar o lado belo, é apresentada a Fé e a nossa resposta moldada no sentido do mundo e não no sentido do Evangelho. Isto reduz a Fé a um sentimento e a nossa resposta deixa de ser humilde para passar a ser edificada nos beneficios que a Fé me possa dar.

Esta ideia de uma Fé que se adquire ou transmite por causa de um sentimento ou experiência é contrário ao Evangelho, segue a lógica do mundo centrada no «Eu». Jesus diversas vezes lamentava-se porque as pessoas se não vissem sinais extraordinários e prodígios não acreditavam (por exemplo Jo 4, 48). Querendo que a Fé seja adquirida ou transmitida por causa da um sentimento ou experiência caímos no mesmo erro! A Fé do centurião era grande porque acreditava em Deus e que Jesus era na verdade o Filho de Deus e as suas acções correspondiam ao que acreditava.

Assim, o catequista é testemunha porque tem Fé, acredita em Deus e no que nos revelou, assim ama-O, conhece-O e serve-O porque é Deus, e daí amando o próximo no amor de Deus quer que também eles se salvem e conheçam, amem e sirvam a Deus.

Precisamos de recuperar o sentido da humildade, do dever, de praticar o Bem, a justiça, a santidade. Se acreditamos em Deus e no que nos revelou temos de ser verdadeiros Filhos de Deus, devemos reconhecer o dever de sermos bons servos e bons filhos, o dever de praticar o Bem, a justiça, a santidade. Não somos cristãos e levamos uma vida cristã apenas porque isso é bom para nós, nós somos e fazemos porque é isso que é justo e verdadeiro.

Jesus sofreu e deu a vida por nós e indicou-nos o caminho (da porta estreita) que devemos seguir para recebermos os frutos da Sua redenção e da salvação. É um convite que nos faz, explicando qual a realidade da vida. A esse convite respondemos sim ou não. Como podemos perante Jesus que sofreu e deu a vida por nós dizer-Lhe que primeiro temos de fazer a experiência, o encontro para vermos se é bom e importante para mim?

Às nossas crianças ensinamos que devem respeitar e escutar os mais velhos, não lhes dizemos para fazerem a experiência de estar com os mais velhos e depois decidem se os respeitam e escutam.

Temos de aprender a conversão, aprender a abandonar o «Eu» e colocar o coração em Deus, o mundo está edificado no orgulho mas Jesus pede-nos para nos edificarmos na humildade. Somos a criatura que reconhece o seu criador e tudo o que fez e faz por ela.

Não é verdade que na missa rezamos "Dêmos graças ao Senhor nosso Deus. É nosso dever, é nossa salvação. Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte por Cristo, nosso Senhor.
", não rezamos também que "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo"?

Não é verdade que no Pai-Nosso rezamos "Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu"? Pois o vir a nós o Vosso Reino é para Deus ser Nosso Senhor, um Rei bom, justo e misericordioso para com o qual temos deveres como servos e como filhos. A vontade que queremos que seja feita na Terra como no Céu é a vontade de Deus, seguirmos os Seus mandamentos, amá-lO com toda a alma e todas as nossas forças.

É esta entrega, este amor de colocarmos Deus sempre em primeiro lugar, este nosso dever e nossa salvação de darmos graças sempre e em toda a parte que Jesus nos fala no episódio de Maria e Marta (Lc 10, 38-42). Maria escolheu a melhor parte, que é escutar Jesus a falar-lhe de Deus e do Seu Reino. Nesse momento diz-nos também Jesus que está é a única coisa necessária.

"Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento." (Mt 22, 37-38).

A transmissão da Fé e o acreditar está aqui, entregamo-nos à melhor parte, amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Acreditando é um dever que temos para com Deus, não depende de sentimentos, experiências ou dos benefícios que possamos receber.

É este amor, dever e entrega a fonte do amor ao próximo. Quem ama a Deus só pode fazer o que é bom, se pratica o mal mostra que deixou de amar a Deus. E quem deixa de amar a Deus nenhuma outra coisa lhe aproveita. É por isso que São Paulo indica "ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita." (1 Cor 13, 3). Nada do que façamos, mesmo que sejam boas obras, nos aproveitam se não vieram da melhor parte, do amar a Deus sobre todas as coisas. Do reconhecimento e entrega ao nosso Senhor e nosso Deus.

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