terça-feira, 26 de junho de 2018

Modernismo

No Evangelho Jesus diz-nos que o mundo e a lógica do mundo é contrária a Deus, devido ao pecado. E na sociedade actual vêmos isso, os valores e sentido da vida que é promovido é contrário ao Evangelho. Em muitos casos são propostos de forma tentadora valores opostos aos de Jesus. Por exemplo, hoje em dia é habitual ouvirmos falar de orgulho como um bem, como uma virtude a valorizar, ouvimos falar do orgulho de ser mulher, do orgulho da nossa orientação sexual, do orgulho da nossa raça ou etnia, etc. Mas Jesus o que nos pede é humildade, precisamente o contrário do orgulho, além de que o orgulho é um pecado capital. Se não estivermos atentos facilmente somos levados, mesmo inconscientemente, a seguir valores contrários à vida cristã. Tão longe está a sociedade de Jesus!
Esta oposição que é natural devido ao pecado, como indica o Evangelho, agravou-se devido às filosofias e ideologias que foram sendo criadas no sentido puramente humanista, ou seja, ignorando a Igreja e Deus.

O grande problema nisto tudo não é a sociedade estar assim, disso Jesus nos avisou. Os próprios Apóstolos, os primeiros cristãos e os primeiros missionários evangelizadores tiveram que enfrentar uma sociedade assim, contrária ao Evangelho. O império romano e os povos bárbaros eram contrários ao Evangelho e no entanto foram evangelizados, levaram-lhes a luz: a Fé e a conversão.

O grande problema é então quando este espírito do mundo entra nas mentes e corações daqueles que deviam ser o sal e a luz do mundo: os próprios cristãos, principalmente os pastores. E é isso que vêmos acontecer. Este mal tem um nome e fomos avisados para ele: é o modernismo. É o espírito do mundo, com as suas filosofias e ideologias alternativas à Igreja e a Deus, que entra nos corações e nas mentes dos cristãos e dos nossos pastores.

Vamos ver do que se trata.

O que não é o modernismo
O modernismo não é termos, pensarmos ou usarmos coisas modernas, ou fazermos as coisas de uma maneira mais moderna. Não existe um erro ou mal nisso por si mesmo. Como indica Santo Inácio de Loyola, devemos usar as coisas na medida em que nos aproximam de Deus e deixá-las na medida em que nos afastam de Deus. Assim, não existe um problema com o uso de coisas modernas, podemos usar computadores, telemóveis avançados, etc., o critério é sempre que nada nos leve ao afastamento de Deus.

O que é o modernismo?
O modernismo é anúnciar um Evangelho adaptado e moldado conforme às ideias e filosofias modernas, no sentido humanista, segundo o liberalismo e materialismo. É uma adaptação das doutrinas cristãs para se adequarem ao sentimento de liberdade do Homem e um obscurecimento da Verdade reduzindo-a ao seu lado material e natural, esquecendo tudo o que de sobrenatural nela existe.
Em vez de anúnciarmos o Evangelho e o Homem acreditar e se converter edificando a sua vida em Deus e para Deus é feito o contrário. O Homem vive a sua vida no mundo normalmente como qualquer pessoa de qualquer religião e o Evangelho vem apenas ajudar a viver uma vida melhor, mais realizada.
Assim vêmos que se o modernismo não é heresia facilmente pode-nos levar a ela.


Como se detecta e onde se torna evidente o modernismo?
O modernismo vê-se sobretudo pelo seguinte aspecto: o Homem é colocado no centro de tudo, é o princípio e fim do que se faz ou pensa. A medida do Bem e da justiça é o Homem e o mundo e não Deus.
Assim, sobressaiem na prática quatro aspectos:
- A incapacidade de fazer alguma coisa apenas para Deus, sem colocar-se a si ou alguém no centro da atenção. Segundo o modernista nada faz sentido se não tiver o Homem como fim ou se do que se faz não for obtido algo para o Homem ou para a vida do Homem na terra.

- O olhar e pensamento parte sempre do Homem e da sua experiência e a partir daí chega-se a uma conclusão sobre Deus, enquanto que o sentido cristão seria partir da revelação divina e tirar daí conclusões sobre o Homem e para o Homem. Portanto segundo o modernista o Homem imagina Deus enquanto que no sentido cristão seria Deus a iluminar o Homem. Daqui vem todo o relativismo moral e os mandamentos apenas como um ideal, onde tudo se adapta para o suposto bem do Homem, em que o próprio Homem define qual é o seu bem.

- O modernista demonstra uma grande incoerência, devido à subjectividade e relativização. É capaz de dizer uma coisa com convicção e logo depois fazer ou dizer o seu contrário. Por exemplo, é capaz de ao referir as pessoas que faleceram dizer que estão junto de Deus mas na oração eucarística pedir a Deus que as receba. Nesta incoerência é usada a ambiguidade e a falta de clareza como forma de agradar a quem o ouve.

- O modernista revela um gosto e vontade de novidades, de movimento. Devido à falta do lado sobrenatural não é capaz de sair de si mesmo e entregar-se a Deus. Assim, para não se aborrecer no silêncio e na tradição necessita sempre de alterar e introduzir novidades que o despertem.


O mundo actual
Na sociedade actual existe um grande esquecimento de Deus, vive-se como se Deus não existisse. Ao mesmo tempo, enquanto se ignora a mensagem cristã na morte espera-se alcançar um acolhimento da parte de Deus. Existe um sentimento generalizado de que o que devemos ser é "boas pessoas".
Este estado da sociedade moderna começou a ser edificado no renascimento, onde o Homem desenvolve todo o seu pensamento e acção baseando-se nas referências da antiguidade clássica em contraposição ao existente dogmatismo religioso. Esta edificação aprofundou-se ainda mais com o iluminismo, onde a partir de um movimento intelectual e filosófico centram-se as ideias na razão como fonte para alcançar os ideias de liberdade, progresso, tolerância, fraternidade, governo constitucional e separação da Igreja do Estado.
O mundo actual edificou-se ignorando Deus e a Igreja, está edificado na areia!
Vêmos assim já aqui dois pontos que nos afastam de Cristo: um renascimento do Homem realizado por si mesmo, intelectualmente, em contraposição ao renascimento do baptismo. E um iluminismo em que o Homem racionalmente tenta alcançar a paz e liberdade em contraposição à Luz de Cristo, única capaz de alcançar a verdadeira paz e liberdade.

As sementes
Temos então duas sementes da sociedade moderna:
- O liberalismo, em que o Homem pretende alcançar uma liberdade absoluta tendo apenas como limite a liberdade de outros Homens, esquecendo os deveres para com Deus, esquecendo Cristo como nosso Rei e Rocha edificadora da sociedade e esquecendo os deveres e caminho que devemos seguir para sermos dignos de receber as promessas de Cristo e fazermos parte do Seu Reino.

- O materialismo, em que se ignora todo o lado sobrenatural da existência limitando-nos apenas ao mundo natural e material.Todo o pensar e agir do Homem se refere à sua vida na terra e se alguma vez pensa em Deus é para o ajudar na vida na terra, reduzindo o ser cristão apenas a uma espiritualidade que o completa.

Os frutos
Como fruto principal destas sementes temos o utilitarismo em que quer a vida, quer o que se faz e pensa apenas tem valor se tiver utilidade para o Homem. Daqui surgem facilmente ideias que aceitam o aborto e a eutanásia. O próprio Deus e a religião ficam limitadas a este sentido de utilidade, apenas servem se forem para ajudar a vida na terra.
Outro fruto é o agnosticismo, como o ponto de partida são as filosofias modernas em vez da revelação divina o Homem nada sabe sobre Deus. Parte da dúvida sobre Deus, se existe ou não e a partir dessa dúvida edifica na areia o seu pensar religioso.
Segue-se assim o fruto da imanência vital, como o Evangelho e a revelação divina foram esquecidas e todo o seu pensar é reduzido ao materialismo, ao mundo visível, o Homem parte então do agnosticismo, da dúvida se Deus existe, e procura Deus dentro de si mesmo. O Homem intui por si mesmo como será Deus, se existe e que relação poderá ter connosco.

Em que o modernismo afecta o nosso ser cristão
O modernismo é completamente contrário ao Evangelho, ignora a conversão e não aproxima o Homem de Deus. Ao Homem apenas é dado algo mais para uma vida melhor. Em vez de ser o Homem que se converte a Deus é Deus que se adapta ao Homem.
Numa tabela podemos comparar o que nos diz o modernismo e o que na verdade nos diz o Evangelho, assim vêmos que este pensamento e "evangelização" na forma modernista é contrário ao Evangelho.


Modernismo
Evangelho
Parte da ignorância se Deus existe ou nãoJesus revelou-nos a existência do Deus único e verdadeiro, toda a sua vida, a explicação da Palavra de Deus e os milagres deram testemunho da existência de Deus e de que Ele é na verdade o Filho de Deus. Partimos então da certeza de que Deus existe.
O fim do Evangelho e do Reino de Deus é o Homem ter uma vida feliz e plena na terra numa comunidade de irmãos. O fim do Evangelho e do Reino de Deus é o Homem salvar a sua alma e alcançar o Céu e fazer parte do Reino de Deus quando o Senhor voltar. Isto faz-se abandonando o pecado, renascendo pelo baptismo, tendo Fé em Deus, amando a Deus com toda a alma e todas as forças e amando o próximo como a nós mesmos.
O horizonte é apenas a vida na terra, nada sabe, pensa ou diz sobre a eternidade, o Céu e o Reino de Deus quando o Senhor vier.O nosso horizonte é o Céu e o Reino de Deus quando o Senhor voltar, a vida na terra é uma peregrinação.
Os valores cristãos são reduzidos à sua utilidade na vida do dia a dia, à fraternidade, paz e felicidade entre os Homens.Os valores cristãos fazem parte do caminho que fazemos para amarmos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Fazem parte da vida cristã e ajudam-nos para que Deus viva em nós e nós n'Ele.
O único pedido e insistência de conversão é na relação entre os Homens, o pecado e o mal apenas afectam a relação entre os Homens e o mundo.A principal conversão é colocarmos o coração em Deus, amá-lO com toda a alma e todas as forças. Se amar-mos a Deus de verdade daremos bons frutos e ama-mos de verdade o nosso próximo. O pecado e o mal afectam principalmente a relação entre os Homens e Deus.
Nada sabe, pensa ou diz sobre o que acontece depois da morte. Tem uma ideia vaga de que todos vão para Deus, mas não se pensa ou fala sobre isso.Depois da morte seremos julgados no juizo particular conforme a nossa Fé e obras, quando o Senhor voltar para instaurar o Seu Reino seremos julgados no juizo universal onde seremos separados conforme a nossa Fé e as nossas obras.
Os mandamentos e toda a doutrina são apenas um ideal em que o que cada um faz depende do seu caso concreto. O fundamental é a felicidade e fraternidade entre os Homens.Os mandamentos e toda a doutrina não são um fardo, são a base para podermos viver a vida cristã e estarmos na Graça de Deus. São para os guardarmos e seguirmos com amor, justiça e misericórdia onde a medida do Bem é a Graça de Deus.
A Fé é subjectiva, é acreditar em algo que não se sabe bem ou em algo de que pouco se sabe porque nos ultrapassa, é acreditar em algo que será Deus e que nos ajuda. Ter Fé depende da experiência que cada um fizer, isto devido ao principio da imanência vital e ao esquecimento do sobrenatural e da revelação divina.A Fé é acreditar em Deus e no que nos revelou por Jesus. É acreditar em algo concreto que é Deus e na Verdade. Ainda que algumas coisas pertençam aos mistérios divinos o fundamental para termos Fé e o fundamental que devemos acreditar foi-nos revelado por Jesus. A sua transmissão e o acreditar é feito então com algo concreto, com os artigos da Fé, do Credo e do Pai-Nosso levando a uma conversão real de vida.
A Esperança é de uma vida melhor no mundo, é a paz no mundo, é vivermos todos fraternalmente no mundo.A Esperança é de alcançarmos o Céu e o Reino de Deus e de que Deus nos ajuda a alcançarmos esse fim para o qual fomos criados.
A Caridade é solidariedade entre os Homens, amarmo-nos uns aos outros independentemente do amor de Deus.A Caridade é amarmos a Deus com toda a nossa alma e todas as nossas forças e por esse amor amarmos o nosso próximo como a nós mesmos.
Deus é apenas amor, onde o amor no sentido humano será colocado no lugar de Deus, devido ao esquecimento da justiça e da santidade.Deus é amor, justiça e santidade. O maior atributo é o amor, mas por ser verdadeiro amor não se esquece da justiça e da santidade de chamar-nos e elevar-nos a valores mais altos.
A Vida que Jesus nos quer dar é uma vida feliz, plena e realizada no mundo.A Vida que Jesus nos quer dar é a Graça e a comunhão com Deus. Sermos um só com Deus como Jesus é um só com o Pai. E o pecado impede ou dificulta essa Graça e comunhão.
O Reino de Deus é a comunidade fraternal de irmãos no mundo, de qualquer religião.O Reino de Deus na terra é a Igreja, Corpo Místico de Cristo, onde Cristo é a cabeça e nós somos os membros. Quando o Senhor voltar instaurará o Seu Reino, onde de acordo com a nossa Fé e as nossas obras podemos ou não estar eternamente com Deus.
Não existe apenas uma Verdade, cada um faz o seu caminho de busca e procura. Jesus deu-nos a Verdade, nela encontramos o que precisamos de saber sobre Deus, sobre nós e sobre a Vida.
Todas as religiões são boas, sendo porventura a cristã a que, de forma imanente, consegue mais perfeitamente dizer-nos mais sobre Deus. Todas as religiões podem ter algo de verdadeiro mas contêm erros. Jesus é o verdadeiro Filho de Deus, único Caminho, Verdade e Vida, indicou-nos que ninguém pode ir para o Pai senão por Ele. Só pela religião cristã e na Igreja Católica por Ele fundada temos os elementos todos da salvação. Fora da Igreja não existe salvação é dogma e é o que está no catecismo, fora da Igreja só Deus sabe quem se salva.
A salvação é todos os Homens terem uma vida feliz, plena e realizada no mundo e/ou uma salvação universal, todos vão para Deus desde que sejam "boas pessoas". É algo que não se sabe bem, não podemos limitar a misericórdia de DeusA salvação é salvarmos a alma e alcançarmos o Céu e um lugar no Reino de Deus. Jesus deixou-nos a Igreja como barca de salvação, onde temos os elementos necessários para a alcançarmos. Para a salvação é necessário termos Fé e obras, fora da Igreja não existe salvação é dogma e é o que está no catecismo, fora da Igreja só Deus sabe quem se salva.

"Estou admirado de que tão depressa vos afasteis daquele que vos chamou pela graça de Cristo, para seguirdes outro Evangelho. Que outro não há; o que há é certa gente que vos perturba e quer perverter o Evangelho de Cristo. Mas, até mesmo se nós ou um anjo do céu vos anunciar como Evangelho o contrário daquilo que vos anunciámos, seja anátema. Como anteriormente dissemos, digo agora mais uma vez: se alguém vos anuncia como Evangelho o contrário daquilo que recebestes, seja anátema.
Estarei eu agora a tentar persuadir homens ou a Deus? Ou será que estou a procurar agradar aos homens? Se ainda pretendesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo." (Gl 1, 6-10)

Crise de Fé
A Fé é um todo em que se acredita, não se pode ignorar ou retirar algo que não se aceita ou compreende, ou se tem ou não se tem. É um tesouro que é transmitido de geração em geração, para que nós, os nossos filhos e netos um dia também acreditem, com aquela alegria de acreditar sem ter visto.
É importante focarmos a missão neste ponto, no persevar e transmitir a Fé, com toda a Verdade, todos os artigos do Credo, Pai-Nosso e doutrina. É importante ajudar a conhecer bem a Fé, compreender, ajudar a acreditar, à conversão, pedindo a Graça de Deus para acreditar e ajudar a transmitir. Tudo o resto vem daqui, da Fé.

Nós acreditamos em alguém e no que ele nos diz porque esse alguém é de confiança. Assim é com a Fé, acreditamos em Deus e no que nos revelou porque em Deus podemos confiar. É com a nossa livre vontade, ajudados pela Graça de Deus que acreditamos no que nos foi transmitido. É isto ter Fé, acreditar em Deus e no todo que Deus nos revelou, é este o nosso tesouro.
Por isso a Fé não está dependente de fazermos ou não a experiência de Deus, a Fé não é acreditar em algo que nos ajuda e não é termos apenas um enriquecimento espiritual, também não é não saber o sentido da vida e o que acontece depois da morte, não é ter Jesus apenas como amigo e não é encontrar Deus por intuição nossa.

"Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé" disse Nossa Senhora de Fátima, e é este o ponto fundamental da nossa missão pois é onde assenta tudo o resto. Ter Fé, acreditar, em Deus que nos criou e na Verdade que nos revelou, com a Graça e conversão moldando a nossa vida na Vida que nos quer dar.

A crise que vivemos é uma crise de Fé porque moldamos tudo a um acreditar que sabe mais de nós do que de Deus. É uma crise presente não só entre os não crentes mas muitas vezes também entre nós em que a Fé que possuimos já não é a Fé católica, igual à dos Apóstolos e transmitida ao longo dos séculos. Muitas vezes parecemos católico-protestantes ou com gestos pagãos de uma crença incerta.

A crise de Fé leva à crise moral presente não só no mundo mas também por vezes em nós quando o nosso modo de vida não difere muito de quem não acredita. Como diz São Paulo, devemos ser irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo (Fl 2, 15). Mas muitas vezes pouca diferença e brilho existe, com uma Fé frágil, vazia e sem substância não temos a força para formar e edificar a nossa vida cristã.
Por aqui já temos casos de quem não coloca os filhos na catequese em nome de uma suposta liberdade, isto é crise de Fé, e também é quando em casa não se transmite a Fé e se deixa tudo para a catequese, também é quando não se leva o filho à missa, também é quando se reduz a missa a um convivio/celebração da comunidade.
A Igreja existe para ajudar nestes casos, e o mundo precisa que brilhemos e façamos um esforço adicional.

Por isso não nos conformemos porque actualmente a pessoa comum que vive de forma normal, mesmo sem cair em extremos, já está afastada da vida cristã e da Fé que Cristo nos veio dar, colocando a salvação em risco e onde o tesouro da Fé não foi recebido nem é transmitido aos seus filhos e netos.

"Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2, 3-4) façamos a nossa parte para persevar o dogma da Fé para que todos conhecendo a Verdade se salvem.

O mundo
Nos Evangelhos Jesus fala diversas vezes sobre a oposição que existe entre Ele e o mundo.
"Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo.
Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade." (Jo 17, 14-19)


O mundo onde nascemos não é compatível com Deus por causa do pecado e da nossa natureza, fruto do pecado original. Por isso necessitamos de salvação, sem Jesus já estavamos condenados. É o abismo que existe entre o mundo e Deus, "entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós." (Lc 16, 26).

Pela salvação que Jesus alcançou esse abismo deixa de existir, e em vez de um abismo temos a possibilidade de uma forte comunhão, "Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou." (Jo 14, 23-24).

Mas para isto é necessário da nossa parte cooperarmos com a Graça de Deus, acreditarmos na Fé e convertermo-nos.

O mundo e a lógica do mundo onde existe o abismo continua, mesmo após o baptismo precisamos de ajuda para perseverarmos na Fé. Para isso Jesus deu-nos a Igreja e os sacramentos, principalmente a Hóstia Sagrada o como alimento da vida eterna.
Não é necessário retirarmo-nos todos para longe do mundo, temos de nele permanecer mas vivemos de maneira diferente, passamos a viver para Deus santificando o mundo.

Assim, a nossa Esperança não é de um mundo melhor ou uma vida feliz, esses são os nossos deveres de cristãos que devemos fazer e proporcionar mesmo aos pecadores e a quem não acredita, tendo sempre Deus como medida do Bem e não apenas o Homem ou o mundo. Na verdade a nossa Esperança é o Céu, a vida eterna no Reino de Deus quando o Senhor voltar, aqui na terra somos peregrinos, dirigimo-nos para a nossa pátria que é o Céu, como no plano original de Deus, antes do pecado original.

Por isso no mundo temos uma tarefa importante: escolher e preparar onde vamos passar a eternidade.
Ajudemo-nos uns aos outros para que seja no Céu, junto do Deus único e verdadeiro que nos criou por amor, para o conhecermos, amarmos e servirmos.

É isto que temos de conseguir dar às nossas crianças e jovens, a Fé e ajudá-los a converter-se. O maior amor que lhes podemos desejar é que alcancem o Céu para o qual foram criados! E o Céu não está garantido à partida, é necessário conversão, acreditar.

A Fé e o dever
No Evangelho na cura do servo do centurião Jesus mostra-nos o que é ter Fé, vejamos:

"Entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos:
«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.»
Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» Respondeu-lhe o centurião:
«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.»
Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.»
Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado." (Mt 8, 5-13)


A grande Fé que Jesus encontra no centurião é esta: O centurião reconhece a existência de Deus e que Jesus é na verdade o Filho de Deus, a Deus tudo é possível basta dizer e assim se faz e reconhece a humildade e diferença que existe entre nós e Deus.

É este o sentido da Fé, acreditar em Deus e no que nos revelou em Jesus e acreditando vivemos como servos e filhos de Deus.

A Fé não está dependente de uma experiência ou encontro, a Fé é reconhecer e acreditar em Deus. E como Homens e Mulheres que acreditam edificam a sua vida em Deus e para Deus.

Nas XIV jornadas catequéticas da diocese do Porto vem indicado que o catequista é testemunha porque se deixou encontrar, tocar, amar, transformar por Jesus Cristo e pela comunidade. Ainda que seja sem intenção, tentando mostrar o lado belo, é apresentada a Fé e a nossa resposta moldada no sentido do mundo e não no sentido do Evangelho. Isto reduz a Fé a um sentimento e a nossa resposta deixa de ser humilde para passar a ser edificada nos beneficios que a Fé me possa dar.

Esta ideia de uma Fé que se adquire ou transmite por causa de um sentimento ou experiência é contrário ao Evangelho, segue a lógica do mundo centrada no «Eu». Jesus diversas vezes lamentava-se porque as pessoas se não vissem sinais extraordinários e prodígios não acreditavam (por exemplo Jo 4, 48). Querendo que a Fé seja adquirida ou transmitida por causa da um sentimento ou experiência caímos no mesmo erro! A Fé do centurião era grande porque acreditava em Deus e que Jesus era na verdade o Filho de Deus e as suas acções correspondiam ao que acreditava.

Assim, o catequista é testemunha porque tem Fé, acredita em Deus e no que nos revelou, assim ama-O, conhece-O e serve-O porque é Deus, e daí amando o próximo no amor de Deus quer que também eles se salvem e conheçam, amem e sirvam a Deus.

Precisamos de recuperar o sentido da humildade, do dever, de praticar o Bem, a justiça, a santidade. Se acreditamos em Deus e no que nos revelou temos de ser verdadeiros Filhos de Deus, devemos reconhecer o dever de sermos bons servos e bons filhos, o dever de praticar o Bem, a justiça, a santidade. Não somos cristãos e levamos uma vida cristã apenas porque isso é bom para nós, nós somos e fazemos porque é isso que é justo e verdadeiro.

Jesus sofreu e deu a vida por nós e indicou-nos o caminho (da porta estreita) que devemos seguir para recebermos os frutos da Sua redenção e da salvação. É um convite que nos faz, explicando qual a realidade da vida. A esse convite respondemos sim ou não. Como podemos perante Jesus que sofreu e deu a vida por nós dizer-Lhe que primeiro temos de fazer a experiência, o encontro para vermos se é bom e importante para mim?

Às nossas crianças ensinamos que devem respeitar e escutar os mais velhos, não lhes dizemos para fazerem a experiência de estar com os mais velhos e depois decidem se os respeitam e escutam.

Temos de aprender a conversão, aprender a abandonar o «Eu» e colocar o coração em Deus, o mundo está edificado no orgulho mas Jesus pede-nos para nos edificarmos na humildade. Somos a criatura que reconhece o seu criador e tudo o que fez e faz por ela.

Não é verdade que na missa rezamos "Dêmos graças ao Senhor nosso Deus. É nosso dever, é nossa salvação. Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte por Cristo, nosso Senhor.
", não rezamos também que "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo"?

Não é verdade que no Pai-Nosso rezamos "Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu"? Pois o vir a nós o Vosso Reino é para Deus ser Nosso Senhor, um Rei bom, justo e misericordioso para com o qual temos deveres como servos e como filhos. A vontade que queremos que seja feita na Terra como no Céu é a vontade de Deus, seguirmos os Seus mandamentos, amá-lO com toda a alma e todas as nossas forças.

É esta entrega, este amor de colocarmos Deus sempre em primeiro lugar, este nosso dever e nossa salvação de darmos graças sempre e em toda a parte que Jesus nos fala no episódio de Maria e Marta (Lc 10, 38-42). Maria escolheu a melhor parte, que é escutar Jesus a falar-lhe de Deus e do Seu Reino. Nesse momento diz-nos também Jesus que está é a única coisa necessária.

"Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento." (Mt 22, 37-38).

A transmissão da Fé e o acreditar está aqui, entregamo-nos à melhor parte, amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Acreditando é um dever que temos para com Deus, não depende de sentimentos, experiências ou dos benefícios que possamos receber.

É este amor, dever e entrega a fonte do amor ao próximo. Quem ama a Deus só pode fazer o que é bom, se pratica o mal mostra que deixou de amar a Deus. E quem deixa de amar a Deus nenhuma outra coisa lhe aproveita. É por isso que São Paulo indica "ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita." (1 Cor 13, 3). Nada do que façamos, mesmo que sejam boas obras, nos aproveitam se não vieram da melhor parte, do amar a Deus sobre todas as coisas. Do reconhecimento e entrega ao nosso Senhor e nosso Deus.

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Não encontrei ninguém em Israel com tão grande Fé!

No Evangelho na cura do servo do centurião Jesus mostra-nos o que é ter Fé, vejamos:

"Entrando em Cafarnaúm, aproximou-se dele um centurião, suplicando nestes termos:
«Senhor, o meu servo jaz em casa paralítico, sofrendo horrivelmente.»
Disse-lhe Jesus: «Eu irei curá-lo.» Respondeu-lhe o centurião:
«Senhor, eu não sou digno de que entres debaixo do meu tecto; mas diz uma só palavra e o meu servo será curado. Porque eu, que não passo de um subordinado, tenho soldados às minhas ordens e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.»
Jesus, ao ouvi-lo, admirou-se e disse aos que o seguiam: «Em verdade vos digo: Não encontrei ninguém em Israel com tão grande fé! Digo-vos que, do Oriente e do Ocidente, muitos virão sentar-se à mesa do banquete com Abraão, Isaac e Jacob, no Reino do Céu, ao passo que os filhos do Reino serão lançados nas trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.»
Disse, então, Jesus ao centurião: «Vai, que tudo se faça conforme a tua fé.» Naquela mesma hora, o servo ficou curado." (Mt 8, 5-13)


A grande Fé que Jesus encontra no centurião é esta: O centurião reconhece a existência de Deus e que Jesus é na verdade o Filho de Deus, a Deus tudo é possível basta dizer e assim se faz e reconhece a humildade e diferença que existe entre nós e Deus.

É este o sentido da Fé, acreditar em Deus e no que nos revelou em Jesus e acreditando vivemos como servos e filhos de Deus.

A Fé não está dependente de uma experiência ou encontro, a Fé é reconhecer e acreditar em Deus. E como Homens e Mulheres que acreditam edificam a sua vida em Deus e para Deus.

Nas XIV jornadas catequéticas da diocese do Porto vem indicado que o catequista é testemunha porque se deixou encontrar, tocar, amar, transformar por Jesus Cristo e pela comunidade. Ainda que seja sem intenção, tentando mostrar o lado belo, é apresentada a Fé e a nossa resposta moldada no sentido do mundo e não no sentido do Evangelho. Isto reduz a Fé a um sentimento e a nossa resposta deixa de ser humilde para passar a ser edificada nos beneficios que a Fé me possa dar.

Esta ideia de uma Fé que se adquire ou transmite por causa de um sentimento ou experiência é contrário ao Evangelho, segue a lógica do mundo centrada no «Eu». Jesus diversas vezes lamentava-se porque as pessoas se não vissem sinais extraordinários e prodígios não acreditavam (por exemplo Jo 4, 48). Querendo que a Fé seja adquirida ou transmitida por causa da um sentimento ou experiência caímos no mesmo erro! A Fé do centurião era grande porque acreditava em Deus e que Jesus era na verdade o Filho de Deus e as suas acções correspondiam ao que acreditava.

Assim, o catequista é testemunha porque tem Fé, acredita em Deus e no que nos revelou, assim ama-O, conhece-O e serve-O porque é Deus, e daí amando o próximo no amor de Deus quer que também eles se salvem e conheçam, amem e sirvam a Deus.

Precisamos de recuperar o sentido da humildade, do dever, de praticar o Bem, a justiça, a santidade. Se acreditamos em Deus e no que nos revelou temos de ser verdadeiros Filhos de Deus, devemos reconhecer o dever de sermos bons servos e bons filhos, o dever de praticar o Bem, a justiça, a santidade. Não somos cristãos e levamos uma vida cristã apenas porque isso é bom para nós, nós somos e fazemos porque é isso que é justo e verdadeiro.

Jesus sofreu e deu a vida por nós e indicou-nos o caminho (da porta estreita) que devemos seguir para recebermos os frutos da Sua redenção e da salvação. É um convite que nos faz, explicando qual a realidade da vida. A esse convite respondemos sim ou não. Como podemos perante Jesus que sofreu e deu a vida por nós dizer-Lhe que primeiro temos de fazer a experiência, o encontro para vermos se é bom e importante para mim?

Às nossas crianças ensinamos que devem respeitar e escutar os mais velhos, não lhes dizemos para fazerem a experiência de estar com os mais velhos e depois decidem se os respeitam e escutam.

Temos de aprender a conversão, aprender a abandonar o «Eu» e colocar o coração em Deus, o mundo está edificado no orgulho mas Jesus pede-nos para nos edificarmos na humildade. Somos a criatura que reconhece o seu criador e tudo o que fez e faz por ela.

Não é verdade que na missa rezamos "Dêmos graças ao Senhor nosso Deus. É nosso dever, é nossa salvação. Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação dar-Vos graças, sempre e em toda a parte por Cristo, nosso Senhor.
", não rezamos também que "Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo"?

Não é verdade que no Pai-Nosso rezamos "Venha a nós o Vosso Reino, seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no Céu"? Pois o vir a nós o Vosso Reino é para Deus ser Nosso Senhor, um Rei bom, justo e misericordioso para com o qual temos deveres como servos e como filhos. A vontade que queremos que seja feita na Terra como no Céu é a vontade de Deus, seguirmos os Seus mandamentos, amá-lO com toda a alma e todas as nossas forças.

É esta entrega, este amor de colocarmos Deus sempre em primeiro lugar, este nosso dever e nossa salvação de darmos graças sempre e em toda a parte que Jesus nos fala no episódio de Maria e Marta (Lc 10, 38-42). Maria escolheu a melhor parte, que é escutar Jesus a falar-lhe de Deus e do Seu Reino. Nesse momento diz-nos também Jesus que está é a única coisa necessária.

"Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento." (Mt 22, 37-38).

A transmissão da Fé e o acreditar está aqui, entregamo-nos à melhor parte, amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Acreditando é um dever que temos para com Deus, não depende de sentimentos, experiências ou dos benefícios que possamos receber.

É este amor, dever e entrega a fonte do amor ao próximo. Quem ama a Deus só pode fazer o que é bom, se pratica o mal mostra que deixou de amar a Deus. E quem deixa de amar a Deus nenhuma outra coisa lhe aproveita. É por isso que São Paulo indica "ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor, de nada me aproveita." (1 Cor 13, 3). Nada do que façamos, mesmo que sejam boas obras, nos aproveitam se não vieram da melhor parte, do amar a Deus sobre todas as coisas. Do reconhecimento e entrega ao nosso Senhor e nosso Deus.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Crise de Fé


A Fé é um todo em que se acredita, não se pode ignorar ou retirar algo que não se aceita ou compreende, ou se tem ou não se tem. É um tesouro que é transmitido de geração em geração, para que nós, os nossos filhos e netos um dia também acreditem, com aquela alegria de acreditar sem ter visto.
É importante focarmos a missão neste ponto, no persevar e transmitir a Fé, com toda a Verdade, todos os artigos do Credo, Pai-Nosso e doutrina. É importante ajudar a conhecer bem a Fé, compreender, ajudar a acreditar, à conversão, pedindo a Graça de Deus para acreditar e ajudar a transmitir. Tudo o resto vem daqui, da Fé.

Nós acreditamos em alguém e no que ele nos diz porque esse alguém é de confiança. Assim é com a Fé, acreditamos em Deus e no que nos revelou porque em Deus podemos confiar. É com a nossa livre vontade, ajudados pela Graça de Deus que acreditamos no que nos foi transmitido. É isto ter Fé, acreditar em Deus e no todo que Deus nos revelou, é este o nosso tesouro.
Por isso a Fé não está dependente de fazermos ou não a experiência de Deus, a Fé não é acreditar em algo que nos ajuda e não é termos apenas um enriquecimento espiritual, também não é não saber o sentido da vida e o que acontece depois da morte, não é ter Jesus apenas como amigo e não é encontrar Deus por intuição nossa.

"Em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé" disse Nossa Senhora de Fátima, e é este o ponto fundamental da nossa missão pois é onde assenta tudo o resto. Ter Fé, acreditar, em Deus que nos criou e na Verdade que nos revelou, com a Graça e conversão moldando a nossa vida na Vida que nos quer dar.

A crise que vivemos é uma crise de Fé porque moldamos tudo a um acreditar que sabe mais de nós do que de Deus. É uma crise presente não só entre os não crentes mas muitas vezes também entre nós em que a Fé que possuimos já não é a Fé católica, igual à dos Apóstolos e transmitida ao longo dos séculos. Muitas vezes parecemos católico-protestantes ou com gestos pagãos de uma crença incerta.

A crise de Fé leva à crise moral presente não só no mundo mas também por vezes em nós quando o nosso modo de vida não difere muito de quem não acredita. Como diz São Paulo, devemos ser irrepreensíveis e íntegros, filhos de Deus sem mancha, no meio de uma geração perversa e corrompida; nela brilhais como astros no mundo (Fl 2, 15). Mas muitas vezes pouca diferença e brilho existe, com uma Fé frágil, vazia e sem substância não temos a força para formar e edificar a nossa vida cristã.
Por aqui já temos casos de quem não coloca os filhos na catequese em nome de uma suposta liberdade, isto é crise de Fé, e também é quando em casa não se transmite a Fé e se deixa tudo para a catequese, também é quando não se leva o filho à missa, também é quando se reduz a missa a um convivio/celebração da comunidade.
A Igreja existe para ajudar nestes casos, e o mundo precisa que brilhemos e façamos um esforço adicional.

Por isso, venham, não nos conformemos, coloquem dúvidas, questões, dificuldades, o que não compreendem ou não sabem, porque actualmente a pessoa comum que vive de forma normal, mesmo sem cair em extremos, já está afastada da vida cristã e da Fé que Cristo nos veio dar, colocando a salvação em risco e onde o tesouro da Fé não foi recebido nem é transmitido aos seus filhos e netos.

"Deus, nosso Salvador, quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" (1Tm 2, 3-4) façamos a nossa parte para persevar o dogma da Fé para que todos conhecendo a Verdade se salvem.

Nos Evangelhos Jesus fala diversas vezes sobre a oposição que existe entre Ele e o mundo.
"Entreguei-lhes a tua palavra, e o mundo odiou-os, porque eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. Não te peço que os retires do mundo, mas que os livres do Maligno. De facto, eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo.
Faz que eles sejam teus inteiramente, por meio da Verdade; a Verdade é a tua palavra. Assim como Tu me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo, e por eles totalmente me entrego, para que também eles fiquem a ser teus inteiramente, por meio da Verdade." (Jo 17, 14-19)


O mundo onde nascemos não é compatível com Deus por causa do pecado e da nossa natureza, fruto do pecado original. Por isso necessitamos de salvação, sem Jesus já estavamos condenados. É o abismo que existe entre o mundo e Deus, "entre nós e vós há um grande abismo, de modo que, se alguém pretendesse passar daqui para junto de vós, não poderia fazê-lo, nem tão-pouco vir daí para junto de nós." (Lc 16, 26).

Pela salvação que Jesus alcançou esse abismo deixa de existir, e em vez de um abismo temos a possibilidade de uma forte comunhão, "Se alguém me tem amor, há-de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e nele faremos morada. 24Quem não me tem amor não guarda as minhas palavras; e a palavra que ouvis não é minha, mas é do Pai, que me enviou." (Jo 14, 23-24).

Mas para isto é necessário da nossa parte cooperarmos com a Graça de Deus, acreditarmos na Fé e convertermo-nos.

O mundo e a lógica do mundo onde existe o abismo continua, mesmo após o baptismo precisamos de ajuda para perseverarmos na Fé. Para isso Jesus deu-nos a Igreja e os sacramentos, principalmente a Hóstia Sagrada o como alimento da vida eterna.
Não é necessário retirarmo-nos todos para longe do mundo, temos de nele permanecer mas vivemos de maneira diferente, passamos a viver para Deus santificando o mundo.

Assim, a nossa Esperança não é de um mundo melhor ou uma vida feliz, esses são os nossos deveres de cristãos que devemos fazer e proporcionar mesmo aos pecadores e a quem não acredita, tendo sempre Deus como medida do Bem e não apenas o Homem ou o mundo. Na verdade a nossa Esperança é o Céu, a vida eterna no Reino de Deus quando o Senhor voltar, aqui na terra somos peregrinos, dirigimo-nos para a nossa pátria que é o Céu, como no plano original de Deus, antes do pecado original.

Por isso no mundo temos uma tarefa importante: escolher e preparar onde vamos passar a eternidade.
Ajudemo-nos uns aos outros para que seja no Céu, junto do Deus único e verdadeiro que nos criou por amor, para o conhecermos, amarmos e servirmos.

É isto que temos de conseguir dar às nossas crianças e jovens, a Fé e ajudá-los a converter-se. O maior amor que lhes podemos desejar é que alcancem o Céu para o qual foram criados! E o Céu não está garantido à partida, é necessário conversão, acreditar.

sexta-feira, 15 de junho de 2018

É preciso viver, não ir vivendo

Na quarta-feira o Papa Francisco na sua audiência geral citou a frase "é preciso viver, não ir vivendo" de uma carta do Beato Pier Giorgio Frassati, vale a pena ler a carta para compreendermos essa diferença entre viver ou ir vivendo.

A carta pode ser lida aqui em italiano, coloco a minha tradução para português:

"Carta para Isidoro Bonini, 27 de Fevereiro de 1925

Carissímo,


...Cada vez mais compreendo qual é a Graça de ser Católico. Pobres daqueles desgraçados que não têm Fé: viver sem uma Fé, sem um património a defender, sem perseverar numa luta continua pela Verdade não é viver mas ir vivendo. Não devemos mais ir vivendo mas viver porque mesmo que atravessemos desilusões devemos nos recordar de que somos os únicos que possuímos a Verdade, temos uma Fé a presevar, uma Esperança a alcançar, a nossa Pátria.  E assim banimos qualquer melancolia que só pode existir quando a Fé está perdida. As dores humanas tocam-nos, mas se elas são vistas sob a luz da Religião e, portanto, de resignação não são prejudiciais, mas saudáveis ​​porque purificam a Alma dos pequenos mas inevitáveis ​​pontos pelos quais nós homens, devido à nossa má natureza, muitas vezes nos manchamos.

Nesta santa Quaresma com o Coração ao alto e sempre em frente pelo triunfo do reino de Cristo na sociedade.

Saudações cordiais em J.C.
Fra Girolamo"

A sociedade vai vivendo, indiferente, descrente ou com uma crença em algo em que o horizonte é apenas aqui na terra.
Devemos viver, ter Fé e acreditar, edificados na Verdade, amando a Deus sobre todas as coisas como Nosso Senhor, Criador de todas as coisas e como nosso Pai.

Procuremos a Fé que esclarece a Verdade, ajuda-nos a conhecer Deus e a saber o que pretende de nós, pois não se ama o que não se conhece. Deixemos as ilusões do mundo que promete a felicidade na terra, o cristão não procura a felicidade porque já a encontrou no Deus único e verdadeiro, o que o cristão procura e vive é a alegria de acreditar e a forma de a transmitir ao próximo.

É preciso viver, não ir vivendo!

terça-feira, 12 de junho de 2018

Andaremos distraídos?

Continuando a reflexão sobre a Fé, tendo no olhar sempre os simples e humildes, questionamos agora o porquê de tanta relativização, porque é que muitas pessoas não vão à missa, outras vão raramente, outras mesmo tendo os filhos na catequese não vão e não os levam, ou apenas raramente o fazem? Andaremos distraídos?

Vêmos que as pessoas até consideram a missa e as coisas da religião importantes mas muitas vezes têm também outras coisas a que dão também importância. As pessoas estão simplesmente a viver a sua vida, querem ser felizes e tentam compatibilizar as diferentes solicitações e deveres que têm, tentando alcançar esse fim: viver feliz.
O desejo de termos uma vida feliz, plena e realizada é normal, é um desejo que só por si não tem mal nenhum. Mas não estaremos a procurar a felicidade no lugar errado e na forma errada?

No Evangelho Jesus não nos promete uma vida feliz, plena e realizada, antes pelo contrário indica-nos que quem o seguir será alvo de perseguições, como Ele foi, terá de carregar a sua cruz. O que Jesus nos promete é no fim do caminho neste mundo, tendo Fé em Deus, amando-O sobre todas as coisas e levando uma vida de Caridade, praticando as bem-aventuranças, praticando o amor ao próximo, sendo verdadeiros discipulos alcançaremos um lugar no Seu Reino, estaremos junto d'Ele no Céu. Essa é a verdadeira vida.

Aqui vêmos uma grande diferença entre a prática de relativização que vêmos ocorrer e a mensagem de Jesus. A primeira procura a felicidade na terra e Jesus dá-nos a felicidade no Céu, no Seu Reino. Parece que sim, estamos de facto distraídos.

Aquele desejo que falava acima é um desejo natural, foi inscrito por Deus em nós na nossa natureza humana. É o desejo que nos vai fazer partir em busca de algo mais. Na nossa ignorância procuramos, mas na realidade esse desejo só será realizado quando estivermos com Deus.
Para nossa felicidade esta busca não precisa de ser às escuras, pelo contrário, Jesus que é a verdadeira Luz diz-nos como se realiza essa busca e o que encontraremos no fim (Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida). Se não soubermos o quê e o como estaremos na mesma à procura às escuras, o que em relação a Deus se verifica quando apenas temos uma crença religiosa: acreditamos em algo que nos preenche e realiza mas não sabemos bem o quê, como nem com a certeza de que fim. É a crença dos pagãos que divinizam a natureza ou elementos da natureza, criam falsos ídolos, etc. É a crença dos fariseus e doutores da Lei que para com Deus apenas consideram preceitos e regras sem uma vida edificada em Deus e é também a crença da vida levada apenas segundo o humanismo, tendo o Homem e um mundo melhor como objectivo onde Deus não entra ou entra apenas se for para preencher ou melhorar a vida do Homem na terra, trocando na prática os papeis do Homem e de Deus.
(uma nota: melhorar a vida do Homem na terra e ter um mundo melhor são importantes! Mas não são o objectivo de ser cristão. O objectivo é edificarmos a vida em Deus, melhorar a vida do Homem na terra e ter um mundo melhor são então um dever e um fruto da Caridade, são o fruto de sermos bons cristãos mas sempre tendo Deus como a medida do Bem e não apenas o Homem ou o mundo).

Cristo retira-nos da dúvida e da ignorância e dá-nos a Luz: crer no Deus único e verdadeiro!

Assim, para que a Luz de Cristo chegue às pessoas é necessário transmitir a Fé, todos os pontos da Verdade, os artigos da Fé em que devemos acreditar, sem relativizar, incluindo quer as coisas fáceis quer as difíceis. Depois, a pessoa pedindo a Deus a graça de acreditar firmemente adere e dá o seu assentimento à Verdade, diz sim eu acredito! E convertendo-se passa a viver segundo a Fé, uma vida cristã.

Alguma vez paramos para pensar nisto? Eu acredito? Só o facto de existir o Deus único e verdadeiro deve-nos fazer pensar, dar uma resposta. Parem para pensar, é magnífico, Deus é eterno, criou o Universo e criou-nos a nós! Só este ponto pede de nós uma resposta, não podemos permanecer indiferentes, na ignorância.

Muitas vezes na transmissão já acontece a relativização, o que aos ouvidos das pessoas hoje em dia soa como se o que Jesus nos dá fosse a vida feliz, plena e realizada no mundo em vez do caminho belo e exigente para o Céu. Isso acontece por exemplo em duas frases que é comum escutarmos: "Deus ama todos, mesmo os que pensam diferente de nós" e "não podemos duvidar do amor de Deus, Deus perdoa sempre".

Nas duas frases ao ouvinte que procura uma vida feliz, plena e realizada no mundo elas soam como um alivio, uma confirmação na relativização, afinal Deus ama e perdoa. Mas o que realmente significam?

"Deus ama todos, mesmo os que pensam diferente de nós" isso é verdade, o amor de Deus é imenso mesmo para os que pensam diferente de nós, que não são cristãos. E qual é esse amor imenso? É ter dado o Seu Filho para que pela Sua morte e ressurreição possam também eles alcançar um lugar junto d'Ele no Céu. E como podem alcançar o Céu? Acreditando em Jesus, que é mesmo o Filho de Deus, convertendo-se. A frase não é para estarmos indiferentes, como se fosse apenas um «olá» podemos continuar a nossa vida e vamos todos para o Céu. Não, a frase é para ajudarmos à conversão, é necessário conversão e acreditar.

"Não podemos duvidar do amor de Deus, Deus perdoa sempre" isso é verdade mas mais uma vez para o perdão ocorrer é necessário conversão! Deus está sempre pronto a perdoar, mesmo ao maior pecador, mas para isso é necessário aceitarmos o perdão! Precisamos de saber que estavamos a necessitar do perdão de Deus, de compreender e reconhecer o pecado, precisamos novamente de conversão!





E conversão é colocarmos o coração em Deus, vivermos já não apenas para nós mas por Deus e com Deus, como Cristo.

Não continuemos distraídos, não adianta continuar à procura da vida feliz, plena e realizada sem conversão e sem uma Fé fundada na Verdade, sem essa vida ser edificada em Deus. Isso é desperdiçar o amor de Deus e a salvação! É podermos ser condenados, pois sem Jesus já estávamos condenados!
Deus ama todos, perdoa sempre e quer que todos se salvem mas temos de nos converter! Procurai as verdades da Fé e pedi a Deus a graça de acreditar de dar o vosso assentimento, o Sim a Deus, e a partir daí edificai a vossa vida!

No Evangelho em João (3, 16-21) Jesus é claro na Sua missão: "Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. De facto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado, por não crer no Filho Unigénito de Deus. E a condenação está nisto: a Luz veio ao mundo, e os homens preferiram as trevas à Luz, porque as suas obras eram más. De facto, quem pratica o mal odeia a Luz e não se aproxima da Luz para que as suas acções não sejam desmascaradas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da Luz, de modo a tornar-se claro que os seus actos são feitos segundo Deus.".

Se procurais uma vida feliz, plena e realizada, se procurais o Bem, ser justos e bons, procurai a Fé, acreditai e convertei-vos, edificai a vida em Deus. Tudo o resto é ilusão e vaidade que passa, correndo o risco da condenação eterna ao esquecermos o amor e perdão de Deus!

Santo Inácio de Loyola sintetiza muito bem porque existimos e qual é o nosso fim, é isto a vida do cristão, tudo o resto são falsas promessas de felicidade:
"O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isto, salvar a sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para que o ajudem a conseguir o fim para que é criado.
Donde se segue que o homem tanto há-de usar delas quanto o ajudam para o seu fim, e tanto deve deixar-se delas, quanto disso o impedem."
.

Estamos aqui a caminho do Céu, a nossa vida tem um propósito maior que é Deus: a verdadeira e única felicidade do Homem. Não desperdicemos o propósito maior da nossa vida levando uma vida distraída, ignorante em relação a Deus, presa ao hedonismo (satisfação de todos os desejos e prazeres), criando falsos ídolos que substituem Deus ou colocando-nos a nós como Deus, como a medida do Bem.

Aqui na terra a vida feliz, plena e realizada faz-se simples e humildemente vivendo na Graça de Deus a caminho do Céu! Guardando os mandamentos e praticando a Caridade. Aí descubrireis a verdadeira liberdade!

A salvação

O que é a salvação? Aqui está um belo texto para nos desacomodar e levar à verdadeira missão:  a salvação das almas. Partilho um texto magnífico de Susan Potts no The Remnant Newspaper.
Os realces no texto são meus.

Para onde foram todos os católicos?
Escrito por Susan Potts
https://remnantnewspaper.com/web/index.php/articles/item/3931-where-have-all-the-catholics-gone

Nos dias anteriores às Mudanças, ninguém usava palavras como liturgia ou eucaristia ou reconciliação. Era a Missa, a Sagrada Comunhão e Confissão. Palavras simples e diretas. Todos sabiam o que eles significavam. Nós não falamos sobre rubricas, e a maioria dos leigos não sabia nada sobre ambos e asperções e turibulos. Esse eram assuntos do padre. Como um médico, ele tinha o seu léxico profissional, e não era realmente a nossa preocupação. Nós apenas seguiamos em frente, confiantes de que estávamos sendo levados para o céu.

É disso que falavamos, Céu e Purgatório, e o que tínhamos que fazer para alcançar um e encurtar o outro. Nós estremeciamos ao pensar no Inferno, e também não falavamos muito sobre isso. Nós apenas pensavamos em trabalhar a nossa salvação com medo e tremor, como São Paulo nos disse para fazer. Tudo pelo amor de Jesus, a Glória de Deus e a Salvação das almas, assim nós costumávamos dizer.

Mas você quase nunca mais ouve falar sobre a salvação. O assunto simplesmente não aparece. Você não se pergunta porquê? Estão os católicos assim tão certos do Céu, ou está alguma outra coisa acontecendo?

Eu acho que é outra coisa. Há uma profunda relutância neles para abordar o assunto. Algo os retém. Não é que eles estejam em silêncio. Há muita conversa insípida por aí. Mas se você cortar as palavras vazias e olhar abaixo da superfície do que hoje passa por teologia, você encontrará o obstáculo.

É um bloqueio mental de parede tripla.

Primeiro, as pessoas não sabem mais o que é o Céu. Segundo, eles não sabem o que é pecado e o que não é. E terceiro, eles não sabem o que fazer com essa doutrina problemática, Extra Ecclesia Nulla Salus, fora da Igreja não existe salvação. Essas três coisas tornam quase impossível falar sobre salvação.

Considere o primeiro obstáculo. Muitos anos de sacerdotes e professores agnósticos nos dizendo que realmente não sabemos nada sobre o Céu, isto fez desaparecer a Fé e a Esperança sobrenaturais. Nada mais parece claro. Perguntas não são respondidas; as dúvidas não são dissipadas. Retiros, palestras sobre educação religiosa e discussões em sala de aula são mais ou menos assim:

"O céu é um lugar?", Pergunta um estudante.

O pedante encarregado balança a cabeça, mas não diz nada. Ele acaricia o queixo e abaixa as pálpebras, ponderando a questão. Todo mundo espera

"É um estado da existência", diz ele finalmente, com cuidado, como se estivesse transmitindo uma verdade profunda.

O estudante persiste. "Mas o que isso significa?"

"Não temos certeza."

O estudante suspira. Ele vira a cabeça, olha pela janela e nunca mais coloca a questão.

Eu já ouvi esse tipo de coisa muitas vezes. Logo o assunto é falado as palavras evaporam, portentosas como fumaça fina. Nada adere à mente; nada se apega à alma.

Chega deste absurdo. É claro que o Céu é um lugar e os que têm autoridade devem dizer isso alto e claro. Esse lugar sobrenatural está além da nossa imaginação, mas isso não significa que não seja real. Está acima da natureza, incorruptível; a sua substância dura para sempre.

Quero dizer, vamos ver, se o Céu não é um lugar, então onde está Nosso Senhor? O que Ele vê através de Seus belos olhos, e o que Ele toca com suas Mãos Feridas? E exatamente onde está Nossa Senhora, a Imaculada Conceição, ela que assumiu corpo e alma no Céu?

Eles não estão flutuando nalguma névoa etérea. Aqui estamos a falar de presença física. Algum dia, quando contemplarmos os nossos Rei e Rainha reinarem gloriosamente no Céu, serão rostos reais que veremos, vozes reais que ouviremos.

A negação da realidade substancial do Céu destrói uma doutrina após a outra. Se o Céu não é um lugar, o que dizer da Ressurreição do Corpo? Não deveríamos ter os nossos corpos de volta no Dia do Julgamento? O nosso próprio sangue e ossos? Os nossos próprios dedos das mãos e pés? Isso é o que a Igreja ensina. É nisso que acreditamos. Mas para onde iriam esses corpos glorificados?

Ah, então isso não é tão certo também.

A Encarnação, a Ascensão e a Segunda Vinda são colocadas em dúvida. Acabamos com algum tipo de tagarelice esotérica sobre a próxima vida. Eles nos dizem que temos que ter fé que a vida continua após a morte, não temos certeza de como. Talvez seja uma imortalidade espiritual, livre de carne. Quem sabe?

O segundo obstáculo para abrir a discussão sobre a salvação é o problema do pecado e suas consequências. Cristo morreu pelos nossos pecados. Todo mundo repete a fórmula, mas as palavras realmente penetram em nós? Alguém percebe porquê?

Para nos salvar do inferno. É por isso. Isso é o que a salvação é. Para nos resgatar da condenação. Se não formos salvos, estamos condenados. É tão simples como isto.

Temo que as pessoas não tenham mais medo do Inferno. Eles rejeitam toda a ideia. É simplesmente absurdo demais para a mente moderna; a imagem não adere. Chamas e escuridão e o cheiro de enxofre - quem acredita nisso?

Mas o inferno existe. É real. E isso é eterno.

Imagine a pior dor, a pior tristeza, o pior arrependimento que você já experimentou. Sinta novamente a angústia, a amargura, a solidão mais arrebatadora que você já sentiu. Isso é apenas um vislumbre do que é o Inferno, e o pecado coloca-nos lá.

Ainda não podemos falar sobre o pecado. Nós não devemos julgar. Não devemos mencionar os mandamentos. É como se o pecado não existisse. Você acha que os padres se tornaram psicólogos. Praticando o positivismo incondicional, a negatividade se dissolve, e uma bela flor cresce das profundezas do coração humano perfeito, mais ou menos como uma versão moderna do Nobre Selvagem de Rousseau. Nenhuma mancha de pecado original existe para eles. Está tudo bem.

E qual é o efeito de negar o mal? É a Perdição.

Pense em todas as coisas que as pessoas agora aceitam. Coisas que costumávamos chamar de Pecados Mortais - mortais, porque eles nos matariam. A Igreja costumava nos alertar sobre eles, para que não nos perdêssemos, mas há muito silêncio agora.

O maior deles é a contracepção artificial. Nunca esquecerei o que aconteceu no domingo após o lançamento do Humanae Vitae. A encíclica foi notícia de primeira página no jornal local. Um longo artigo citava uma grande quantidade de teólogos que afirmavam, com aparente autoridade, que o ensinamento não era infalível. As pessoas poderiam decidir sobre isso. Eles eram adultos responsáveis.

Curioso, pensei, quando fomos à missa, esperando ouvir o verdadeiro ensinamento da Igreja. Mas o padre nem sequer mencionou a encíclica, nem na semana seguinte, nem na próxima. Mais tarde soubemos que até mesmo os bispos haviam rejeitado e Roma não fez nada. A dissidência se levantou. Ninguém falou sobre isso. O planeamento familiar era um assunto privado, afinal de contas. O que os sacerdotes celibatários sabiam sobre o casamento? Eles se perguntavam.

Então as pessoas fizeram o que parecia certo aos seus próprios olhos. Não houve repercussões. Em todos esses anos, nunca ouvi um padre dizer no púlpito que uma mulher não pode ir à Comunhão se está tomando pílula, ou ouviu um padre falar sobre o mal da esterilização, o golpe de morte no corpo, a infame mutilação da carne.

Eles são relutantes em falar sobre a perversão da homossexualidade, mesmo diante de todos os escândalos. Eles não falam sobre adultério ou fornicação ou cobiça ou roubo. Sobre mentir? Não, nem uma palavra.

Eles raramente falam sobre a beleza do Céu, o sofrimento no Purgatório, ou a dor ardente do Inferno. Imagine isso. Ninguém menciona que nem todos nós podemos acabar no mesmo lugar. Não há sinais de aviso. Eu acho que não há nada para se preocupar.

Estão todos estão salvos? Ninguém está perdido?

O pedante fala de novo:

"Jesus é tão misericordioso", diz ele com um aceno de mão. "Ele não suportaria mandar ninguém para o inferno."

"Mas você não precisa fazer nada para ir para o Céu?", Pergunta um aluno inocente. "Você não tem que ser digno?"

O pedante revira os olhos.

O menino persiste. "Você tem que ser batizado, certo? Você tem que ser católico".

Outro aluno fala. "Visto que a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, os sacramentos não nos mudam? Torna-nos aptos para o céu?"

O pedante levanta o queixo. Seus olhos cinzentos estão distantes, como se ele visse além do quarto, vendo algo que ninguém mais pode ver. Ele inala profundamente pelo nariz.

"Não se deve ser divisivo", diz ele, em seguida, detalha o novo entendimento, a probabilidade da salvação universal. Há ignorância invencível, afinal de contas, e toda a ideia do cristão inconsciente. E depois há aquelas experiências de quase morte que parecem apontar para uma vida após a morte agradável para todos. Não faz sentido falar sobre isso, conclui ele.

Mas eu digo que devemos.

Por que o Magistério não limpa o nevoeiro? Por que os padres e bispos não dizem apenas: Fora da Igreja Católica não há salvação. Eles estão assustados? Com medo de ofender os infiéis? Ou pior, eles perderam a Fé?

Independentemente disso, a doutrina é verdadeira.

Deixe-me dizer-lhe o que esse ensinamento significava para mim há muito tempo atrás, quando eu era apenas uma garotinha. Não foi nada menos do que um convite do céu.

Eu não nasci católica, embora não tenha entendido muito bem isso. Afinal, eu conhecia o Credo Niceno de cor e recitei fielmente na Igreja Episcopal de Cristo, orgulhosamente proclamando minha crença na Única Igreja Católica e Apostólica. Eu não era protestante, isso era certo. Mas meus amigos católicos da quarta classe me colocaram firmemente na Estrada para a Salvação.

Nós costumávamos ficar num círculo no recreio na Southwestern School, esperando que o professor não notasse e nos fizesse jogar kickball ou Red Rover ou algum outro jogo chato. Nós tinhamos coisas importantes para discutir. Havia cinco de nós - Dolores, Mary Kay, Anne, Barbara e eu.

Às vezes estava muito frio. A neve cobria os nossos sapatos de sela, e nos amontoavamos juntos, puxando os nossos casacos para perto e tremendo como loucos. Mas eu quase não notava. Essas garotas me contaram as coisas mais surpreendentes. Coisas que eu nunca tinha ouvido antes. Coisas sobre o outro mundo. Eu poderia ter escutado elas para sempre. Elas tinham palavras engraçadas como o Purgatório e o Limbo e indulgências. Eles realmente acreditavam no inferno. O diabo era real, elas diziam.

Meus amigos conheciam todo tipo de coisas sobre o céu. Era fantástico. Era como se eles compartilhassem algum conhecimento secreto. Não havia dúvida em suas mentes que o Céu era um lugar, e eles conversaram sobre isso como se tivessem estado lá. Eu pedida para saber mais.

Eles se entreolharam, sacudiram a cabeça e depois olharam tristemente para mim.

"Mas você não pode ir para o céu", disseram eles.

"Por que não?"

"Porque você não é católico."

"O que eu tenho que fazer para ser católico?"

"Você tem que ir à catequese."

Essas palavras atingiram meu coração como uma flecha. Mesmo que eu não fosse capaz de “ir à catequese” até que eu estivesse no segundo ano da faculdade, decidi-me naquele momento. Eu seria católica. Uma de verdade, não apenas uma dizendo o Credo de Nicéia na Igreja Episcopal, imaginando como eu poderia acreditar na Única Igreja Católica Sagrada e não estar nela.

Essas garotas de nove anos possuíam a Verdade e não hesitaram em me avisar. Eles me disseram o que era necessário para a salvação porque eu era amiga deles. Eles não diluíram a doutrina. Eu não precisava saber sobre as exceções. Eu só precisava de ser católica.

Por favor, me poupe das nuances. Eles existem, eu entendo isso. Pode haver pessoas no céu que não pensamos que estaria lá. Isso é bom. Eu não faço ideia de como o Senhor vai resgatar pessoas no último minuto que não entraram na Igreja durante sua vida. Eu não finjo saber como a graça queima a incredulidade de suas mentes antes que suas almas partam deste mundo, mas eu não tenho que conhecer essas coisas extraordinárias. Isso é assunto de Deus.

Tudo o que sei é que todo ser humano nesta terra precisa de ser resgatado do inferno. Nosso Senhor morreu para garantir um lugar para nós no céu. Ele fundou uma Igreja, a Única Igreja Verdadeira, necessária para a salvação das almas.

Se isso não for verdade, então tudo o que estamos fazendo é uma perda de tempo. Por que devemos lutar tanto? Por que devemos nos manter tão próximos da tradição? Por que deveríamos nos esforçar para enfrentar o fluxo de imoralidade e desespero que engole o mundo? O que isso importa? Qual é o ponto? Se existe salvação fora da Igreja Católica, então não precisamos fazer nada. Apenas pule de volta no Mar do Desconhecimento.

Para mim, eu prefiro ser como os meus velhos amigos, aquelas garotas valentes que primeiro me disseram o que eu tinha que fazer para salvar minha alma.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Como crianças

"Deixai vir a mim os pequeninos e não os afasteis, porque o Reino de Deus pertence aos que são como eles.
Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele."
(Mc 10, 14-15).

O Senhor ensina-nos que para entrarmos no Reino de Deus temos de ser simples e humildes como uma pequena criança. Por isso o acreditar e a transmissão da Fé tem de ser algo simples e humilde, adequado aos simples e humildes, que possibilite acreditar como uma criança que pensava que era orfã e encontrou o Pai.

Hoje em dia, seguindo a lógica da sociedade, costuma-se transmitir a Fé como uma experiência enriquecedora para a nossa vida, em que Jesus vem dar um sentido e plenitude à nossa existência.
Esta forma falha no pedido do Senhor, não é uma forma simples e humilde pois vai depender das capacidades, da experiência e da sensibilidade de cada um. Não pode ser isto, pois isto não é a criança simples e humilde que procura o Pai, é apenas a sociedade que está edificada no Eu e que não consegue se abstrair de si. É o «Eu existo» e por isso procuro algo mais para mim.

Vamos seguir então à procura da simplicidade e humildade para compreendermos a transmissão da Fé. Começamos por seguir a oração que deve moldar o nosso coração.

No próximo Domingo, dia 10, temos na primeira leitura o Génesis na parte depois do pecado original, onde na queda dos nossos pais a humanidade se afastou de Deus. Por isso nós necessitamos da Redenção alcançada por Cristo e da entrada na Igreja pelo baptismo para recebermos os frutos da Redenção de Cristo e a Graça de Deus.

Na segunda leitura São Paulo indica-nos que "Diz a Escritura: «Acreditei; por isso falei». Com este mesmo espírito de fé, também nós acreditamos, e por isso falamos, sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele." e que "Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens."

No Evangelho o Senhor diz-nos que "Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe".


No Domingo anterior, dia 3, a oração depois da comunhão era a seguinte:
Guiai, Senhor, com o vosso Espírito
aqueles que alimentais
com o Corpo e o Sangue do vosso Filho,
de modo que, dando testemunho de Vós
não só com palavras mas em obras e verdade,
mereçamos entrar no reino dos Céus.

Nestas orações vemos os elementos do Caminho, Verdade e Vida que o Senhor nos fala, já temos todos os elementos para o acreditar e transmitir de forma simples e humilde a Fé.


Deus existe! Jesus é de verdade o Messias, o Filho de Deus. Nós estávamos presos e condenados ao pecado e à morte eterna mas Ele alcançou-nos a salvação. Pelo baptismo recebemos a Graça de Deus e nela devemos perseverar, cumprindo a vontade de Deus, guardando os Seus mandamentos e vivendo segundo a Caridade. No mundo somos apenas peregrinos que se dirigem para a pátria celeste.

Simples e humildes, como crianças, foi-nos transmitida a Verdade! Estávamos orfãos, perdidos e condenados mas afinal temos Pai! E com simplicidade e humildade já não sou Eu que existe, é Deus que existe! É aí que está a nossa certeza, Deus é eterno e nós apenas um pequeno momento na terra.
É esta a simplicidade, Deus existe e é nosso Pai! É esta a humildade, já não é a partir do Eu que vou considerar a vida e o mundo, mas a partir de Deus. É a partir d'Ele que vou edificar a minha vida, na rocha da Verdade. Edificada nos artigos da Fé, no Credo, em perfeita harmonia, suficientemente simples para uma criança aprender e profundos o suficiente para o mais erudito teólogo. Tudo o que temos de fazer é dar assentimento à Fé transmitida pela Igreja, é uma virtude em que na nossa liberdade damos assentimento, auxiliados pela Graça divina, a Deus e a tudo o que Deus nos revelou porque Ele é a Verdade.
Na Fé temos respostas ainda antes de sabermos formular as questões. Temos a simplicidade onde podemos edificar a nossa vida, onde visto à luz da Fé, tudo, nascimento, morte, sofrimento, alegria, amor, tudo pode ser compreendido, pelos simples e humildes.

Nós estávamos na ignorância, perdidos, à procura da Verdade e actualmente como sociedade e como membros da Igreja muitas vezes continuamos na ignorância, à procura de uma verdade dentro de nós quando ela está à nossa frente. Reduzimos a Fé a uma experiência em que acabamos por acreditar mais em nós do que em Deus.
Na ignorância considerávamos assim a existência e por isso a preocupação de sermos o centro da atenção:
No entanto a Verdade que o Senhor nos ensinou é esta:
Melhor descrito ainda, Deus amou-nos deste o princípio e um dia virá o Senhor instaurar o Seu Reino:
E é este o valor da Vida, que vai além da existência no mundo, é amor de Deus.
Quando consideramos a religião, a Fé católica, como uma experiência enriquecedora para a nossa vida já estamos a entrar no erro do mundo, do sentido utilitarista da vida. Em que a vida não faz sentido se não for plena, realizada, preenchida, atribuímos-lhe nós um valor e por isso queremos a Fé apenas se nos retribuir esse valor. Não! A vida provém do amor de Deus, tem um valor que vai para além do mundo, Deus criou-nos para o amar-mos, adorar-mos e servirmos. E o Senhor ensinou-nos que enquanto estivermos no mundo teremos sempre a cruz para carregar, uma vida de sacrifício e de renúncia é a vida do cristão, vida de luta contra o mal. No entanto, consola-nos e anima-nos aqui neste mundo a esperança da Redenção e o desejo do Céu, da visão de Deus. "Vinde Senhor Jesus" é a aspiração do cristão!