quarta-feira, 31 de outubro de 2018

A Verdade e a Vida

Num país distante existe uma criança que não conheces e de quem não sabes nada, não te é possível entrar em contacto com ela, no entanto sabes que existe. Para ti, essa criança tem valor e importância?
Claro que sim, tem valor e importância, mas de onde vem esse valor e importância se não te é possível entrar em contacto com ela?
O valor e importância dessa criança não está dependente de ti, está nela própria, tem um valor e importância que lhe são próprios. Existe algo nela de valor e importância que não és tu que lhe atribuis, mas antes sim descobres nela esse valor que ela já possuía.

Estás a começar a descobrir a Vida.
Cada ser possui um valor e importância próprios que são independentes do que cada um de nós possa encontrar nesse ser. Esse valor e importância é a Vida. Esta é também independente da vida material no mundo, pois mesmo que esse ser tenha uma vida material no mundo que seja infeliz e desafortunada nunca é um ser descartável, sem valor e importância.
Esta Vida é dada por Deus a cada ser, e para vermos em cada ser a Vida temos de nos abstrair de nós mesmos de forma a não cairmos no erro de lhe atribuirmos nós um valor de forma subjectiva.
Jesus abre-nos os horizontes e o olhar mostrando-nos que há algo mais do que a vida material no mundo, existe esta Vida maior. Jesus ensina-nos que a alma vive eternamente e que um dia Ele voltará para estabelecer o Seu Reino definitivamente, aqui vemos que esta Vida vai muito para além da vida material no mundo.

Agora imagina uma árvore que dá fruto, esta também tem um valor que lhe é próprio. Esta árvore mostra-nos a beleza do Criador, a ordem e o ciclo da vida que vem da Criação e o fruto com que o Criador atende às nossas necessidades. Portanto o simples facto de a árvore existir já demonstra o seu valor próprio. Se tu não poderes colher o fruto que esta árvore dá, a árvore deixa de ter o seu valor próprio?
Não, a árvore continua a ter o mesmo valor e continua a comunicar-nos o valor do Criador independentemente de lhe podermos colher o fruto. Se vamos responder que sim, deixa de ter valor vamos cair no erro do utilitarismo em que os seres e as coisas têm valor conforme nos são ou não úteis.

Temos então a Vida em que cada ser tem o seu próprio valor, independente de nós e temos dois erros: o subjectivismo em que nós é que atribuímos o valor e o utilitarismo em que ignoramos o valor próprio se o ser não nos for útil.

Agora em relação a Deus, conseguimos ver em Deus o valor próprio que tem e a Vida que nos deu ou caímos no erro do subjectivismo e utilitarismo em que o valor vai estar dependente do que dá à minha vida, vai estar dependente da experiência que faço de Deus, vai estar dependente da relação pessoal que possa ter com Deus?

Por isso a Fé Católica é um assentimento que damos livremente a Deus e ao que nos revelou, não está dependente da subjectividade e utilidade que possamos encontrar ou sentir. Dizemos sim a Deus e ao que nos revelou vendo em Deus e na revelação o valor próprio que têm.

Estás a começar a descobrir a Verdade.
Se a Vida e cada ser têm valor independente do que cada um de nós sentir e pensar e têm esse valor mesmo se nós não existíssemos então existe algo que dá ordem e equilibro ao valor de cada ser e à relação entre eles.
Como sabemos qual a medida correcta para a justiça, a misericórdia e para o próprio amor? Se o valor de cada ser é independente de nós, é absoluto e não subjectivo, então a justiça, a misericórdia e o próprio amor terão de ser também independentes de nós, terão de ter uma forma absoluta e não subjectiva.
Essa medida correcta é a Verdade, esta é absoluta e não subjectiva, foi estabelecida e foi-nos dada por Deus, assim não existem "verdades" contrárias entre si ou dependentes da opinião e sentimentos de cada um.

Por isso a Fé Católica é um assentimento que damos livremente a Deus e ao que nos revelou, pois na Fé é transmitida a Verdade que Deus estabeleceu. A Fé é baseada na Verdade e não em sentimentos.

Com a Fé aprendemos a Verdade sobre nós, em que pecado original destruiu a comunhão do Homem com Deus, é por isso necessário o baptismo para removermos o pecado original. No mundo continuamos sobre a influência das tentações e do pecado e por isso necessitamos da ajuda da Graça de Deus. Jesus estabeleceu a Igreja e os sacramentos como meios de salvação, a partir dos quais nos é comunicada a Graça de Deus.

Abrir os olhos para Verdade e a Vida
Infelizmente a sociedade moderna edificou-se na soberba (orgulho e vaidade), a partir do renascimento o Homem foi tentando iluminar-se por si mesmo e libertar-se de qualquer forma de autoridade, foi-se afastando de Deus , da Igreja e criando um Jesus que deixa de ser Rei para passar a ser apenas amigo e mestre: é o Homem em busca da liberdade e igualdade absolutas, ignorando a Verdade e a Vida estabelecidas por Deus.

Jesus tornou-nos livres mas essa liberdade contém a Verdade e a Vida: "Se permanecerdes fiéis à minha mensagem, sereis verdadeiramente meus discípulos, conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres" (Jo 8, 31-32). Como contém a Verdade a liberdade contém a ordem, hierarquia, justiça, não é uma liberdade qualquer, é uma liberdade estabelecida segundo a ordem de Deus. Como contém a Vida a liberdade não está dependente dos nossos sentimentos.

A liberdade de Jesus é sermos livres do pecado e do materialismo do mundo, é sermos livres fazendo parte da Verdade e da Vida estabelecidas por Deus. 
A sociedade moderna afastou-se da liberdade de Jesus pois comete o erro de sentir a Verdade e a Vida como falta de liberdade. É a tentação da soberba, afastou-se assim de Deus e voltou ao paganismo. A partir daqui apenas procura Deus dentro de si mesmo, no sentido subjectivo e útil de uma vida melhor.

Faz o Papa São João XXIII um diagnóstico preciso da nossa sociedade:
"A causa e a raiz de todos os males que, por assim dizer, envenenam os indivíduos, os povos e as nações, e tantas vezes perturbam o espírito de muitos, está na ignorância da verdade. E não só na ignorância, mas às vezes até no desprezo e no temerário afastamento dela. Daqui erros de toda a espécie, que penetram como peste nas profundezas da alma e se infiltram nas estruturas sociais, desorganizando tudo, com grave ruína dos indivíduos e da sociedade humana. Mas Deus dotou-nos duma razão capaz de conhecer as verdades naturais. Seguindo a razão, seguimos ao próprio Deus, que é o autor dela e ao mesmo tempo legislador e guia da nossa vida; mas, se por loucura ou preguiça, ou, pior ainda, por má vontade, nos afastamos do recto uso da razão, apartamo-nos ao mesmo tempo do sumo bem e da lei moral.

Como dissemos, ainda que possamos atingir com a razão as verdades naturais, contudo, este conhecimento - sobretudo no que se refere à religião e à moral - nem todos podem facilmente consegui-lo; e, se o conseguem, muitas vezes vem misturado com erros. Além disso, as verdades, que ultrapassam a capacidade natural da razão, não podemos de modo nenhum atingi-las sem a ajuda duma luz sobrenatural. Por isso o Verbo de Deus, que "habita a luz inacessível" (1 Tm 6,16), com imenso amor e compaixão do género humano "fez-se carne e habitou entre nós" (Jo 1,14), para iluminar "todo o homem que vem a este mundo" (Jo 1,9) e conduzir todos, não só à plenitude da verdade, mas também à virtude e à eterna bem-aventurança. Todos estão, portanto, obrigados a abraçar a doutrina do Evangelho. Uma vez rejeitada, vacilam os próprios fundamentos da verdade, da honestidade e da civilização." (Ad Petri Cathedram (4))


Como católicos temos de acordar, o modernismo encontra-se por todo o lado, mesmo na própria Igreja muitos membros abraçando o modernismo anunciam um outro Evangelho, abandonando a Verdade anunciam apenas a ilusão de um mundo melhor. Vemos isso quando na pregação quando apenas falam do mundo e do lado material da vida, neles não há vida sobrenatural, é uma pregação espiritualmente seca, sem nos elevar ao Alto, à Verdade, onde a Graça foi abandonada por um "sermos felizes".

Continua o Papa São João XXIII:
"Como é evidente, trata-se duma questão gravíssima inseparavelmente ligada com a nossa salvação eterna. Aqueles que, como adverte o Apóstolo das gentes, estão "sempre aprendendo mas sem jamais poder atingir o conhecimento da verdade" (2 Tm 3,7), e negam à razão humana a possibilidade de chegar a qualquer verdade certa e segura, e rejeitam as verdades reveladas por Deus, necessárias para a salvação eterna: esses infelizes estão bem longe da doutrina de Jesus Cristo e do pensamento do mesmo Apóstolo das gentes, que exorta a "alcançar todos nós à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus..  Assim não seremos mais crianças, joguete das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens, e da sua astúcia que nos induz ao erro. Mas, seguindo a verdade em amor cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo, cujo corpo, em sua inteireza, bem ajustado e unido por meio de toda junta e ligadura, com a operação harmoniosa de cada uma das suas partes, realiza o seu crescimento para a sua própria educação no amor" (Ef 4,13-l6)." (Ad Petri Cathedram (5))

Estas palavras do Papa São João XXIII parecem dirigidas a nós católicos quando na missa passamos a ter um convívio comunitário, numa refeição de acção de Graças em vez do culto a Deus no oferecimento do Sacrifício do Altar:
"Não faltam também os que, sem impugnarem de propósito a verdade, tomam uma atitude de negligência e sumo descuido, como se Deus não nos tivesse dado a razão para procurar e alcançar a verdade. Este reprovável modo de proceder conduz, quase espontâneamente, à afirmação absurda de que todas as religiões se equivalem, sem nenhuma diferença entre a verdade e o erro. "Este princípio - para usar palavras do mesmo nosso predecessor - leva necessariamente à ruína de todas as religiões, especialmente da católica, que, sendo a única verdadeira entre todas, não pode sem grandíssima ofensa ser colocada no mesmo plano que as outras". Além disso, negar toda a diferença entre coisas tão contraditórias, pode levar à ruinosa conclusão de excluir todas as religiões na teoria e na prática. Como poderia Deus, que é a própria verdade, aprovar ou tolerar a indiferença, a negligência e a apatia daqueles que, em questões de que depende a salvação eterna de todos, não fazem nenhum caso nem se importam de procurar e encontrar as verdades necessárias, nem prestar a Deus o culto que lhe é devido?

Hoje tanto empenho e diligência se põem no estudo e no progresso do saber humano, e a nossa época bem se pode gloriar das admiráveis conquistas alcançadas na investigação científica. Então, por que não se há de pôr igual empenho, até mesmo maior, na aquisição segura daquele saber que diz respeito, não já a esta vida terrena e caduca, mas à celeste que nunca terá fim? Só quando tivermos alcançado a verdade que deriva do Evangelho, e que deve traduzir-se na prática da vida, só então a nossa alma poderá gozar a tranquila posse da paz e alegria; alegria imensamente superior à que pode vir dos descobrimentos da ciência e daquelas maravilhosas invenções de hoje, que todos os dias são exaltadas, e elevadas, por assim dizer, até às estrelas." (Ad Petri Cathedram (5))

Sobre a Fé católica e a missa:
"A Igreja Católica manda crer fiel e firmemente tudo o que Deus revelou, isto é, o que está contido na Sagrada Escritura e na Tradição tanto oral como escrita e, no decurso dos séculos, desde o tempo dos apóstolos foi estabelecido e definido pelos Sumos Pontífices e pelos legítimos Concílios Ecumênicos. Sempre que alguém se afastou desta verdade, a Igreja com a sua materna autoridade não deixou de o chamar repetidamente ao reto caminho. Pois sabe muito bem e defende que há uma só verdade e que não podem admitir-se "verdades" contrárias entre si; faz sua a afirmação do Apóstolo das gentes: "Nada podemos contra a verdade, mas pela verdade" (2 Cor 13,8)." (Ad Petri Cathedram (37))

"Quem ignora que a Igreja Católica, desde o tempo dos Apóstolos e pelo decurso dos séculos, teve sempre sete sacramentos, nem mais nem menos, recebidos de Jesus Cristo como herança sagrada, os quais ela distribui em todo o orbe católico, para alimento da vida sobrenatural dos fiéis? E quem ignora que nela se celebra um só sacrifício, o Eucarístico, em que o próprio Cristo, nosso Salvador e Redentor, de modo incruento mas real, como outrora pregado na cruz do Calvário, se imola cada dia por nós todos, e difunde misericordiosamente sobre nós os tesouros infinitos da sua graça? Por isso, com muita razão notou S. Cipriano: "Não é lícito estabelecer outro altar e um novo sacerdócio, além do único altar e do único sacerdócio"." (Ad Petri Cathedram (40))

A paz
" Vinde; "compreendei-nos" (2 Cor 7,2); não queremos outra coisa, não desejamos outra coisa, não pedimos a Deus outra coisa senão a vossa salvação, a vossa eterna felicidade. Vinde; desta suspirada unidade e concórdia, que deve ser alimentada pela caridade fraterna, nascerá grande paz; aquela paz "que supera todo o entendimento (Fl 4,7), porque desce do céu; aquela paz que, por meio do concerto angélico sobre o seu presépio, Cristo anunciou aos homens de boa vontade (cf. Lc 2,4), e que depois da instituição da Eucaristia como sacramento e sacrifício, deu com estas palavras: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo dá " (Jo 14,27). Paz e alegria; sim também a alegria porque aqueles que pertencem real e eficazmente ao corpo místico de Cristo, que é a Igreja Católica, participam daquela vida, que da Cabeça divina deriva para todos os membros. Esta fará que todos os que obedecem aos preceitos e mandamentos do nosso Redentor possam gozar já nesta existência mortal aquela alegria que é o penhor e anúncio da eterna felicidade do céu.

Mas esta paz, esta felicidade, enquanto percorremos o árduo caminho nesta terra de exílio, é ainda imperfeita. Não é paz completamente tranqüila, de todo serena. É paz operosa, não ociosa nem inerte. Sobretudo é paz militante contra todo o erro, mesmo que dissimulado sob aparências de verdade, contra o atrativo e seduções do vício, e contra toda a espécie de inimigos da alma, que procuram enfraquecer, manchar e arruinar os bons costumes ou a nossa fé católica; e também contra os ódios, rivalidades, dissídios que a podem quebrar ou lacerar. Por isso, o Divino Redentor nos deu e recomendou a sua paz.

A paz, portanto, que devemos procurar e esforçar-nos por conseguir, deve ser a paz que não cede ao erro, que não se compromete de nenhum modo com fautores do erro, que não se entrega aos vícios e que evita toda a discórdia. É paz que exige, da parte dos que a desejam, a pronta renúncia às comodidades e vantagens próprias por causa da verdade e da justiça, segundo a recomendação evangélica: "Procurai primeiro o reino de Deus e a sua justiça..." (Mt 6,33)." (Ad Petri Cathedram (48-50))

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Amor desordenado

O Amor desordenado

A grande tentação da sociedade actual é esquecer Deus e tentar apenas por si própria edificar um mundo perfeito. Aqui surge a forma desordenada do amor, em que o amor é direccionado apenas ao mundo e aos Homens esquecendo Deus. Noutros casos Deus é lembrado apenas para melhorar a vida do Homem, pois o bem supremo tornou-se a felicidade do Homem no mundo em vez de ser o próprio Deus e a nossa comunhão com Ele na vida da Graça.

A correcta ordem do Amor

Cada um de nós como cristãos tem o dever de trabalhar e cooperar para que o mundo seja um lugar melhor, para que o próximo seja feliz e tenha uma vida feliz, plena. Este nosso dever é realizado na correcta ordem do Amor:
- O que fazemos é para glória e louvor de Deus.
- As boas obras têm pelo menos o desejo de que o próximo conheça e reconheça o Deus único e verdadeiro, acredite, se converta e salve a sua alma.
- Sabemos que para praticarmos o bem e as boas obras e trabalharmos a nossa salvação e do próximo não o conseguimos fazer sozinhos, necessitamos da Graça de Deus.
- Sabemos que nos tornaremos pó e o mundo passará.

A heresia pelagiana

A heresia pelagiana consiste em considerar que nos podemos salvar por nós mesmos, apenas com boas obras, esquecendo de que necessitamos da Graça de Deus e esquecendo o que é o pecado original. Isto pode acontecer quando nos preocupamos em criar um mundo melhor seguindo a forma desordenada do amor.

A teologia da libertação

A teologia da libertação é uma teologia condenada pela Igreja, (por exemplo aqui),em que o Evangelho se torna no anúncio da libertação do Homem de qualquer opressão social, económica e política, de tendência marxista em que os pobres se libertam da opressão dos ricos e poderosos e em que a salvação e o Reino se tornam numa vida melhor no mundo.
Esta forma tentadora e alterada do Evangelho altera os conceitos cristãos mantendo as mesmas palavras:
- O pecado deixa de ser uma realidade pessoal que afasta a pessoa de Deus e da Sua Graça para se tornar na ausência de fraternidade e amor nos relacionamentos entre os Homens.
- A salvação é vista não principalmente como sendo a vida após a morte do indivíduo, mas em trazer o reino de Deus: uma nova ordem social onde haverá igualdade para todos.
- Embora os teólogos da libertação não neguem abertamente a Divindade de Cristo, não há confissão inequívoca de que Jesus Cristo é Deus Encarnado. O "significado" de Jesus Cristo está em Seu exemplo de lutar para ajudar os pobres e os marginalizados.
- A encarnação é reinterpretada para representar a total imersão de Deus na história de conflito e opressão do homem. Cristo veio libertar os pobres e oprimidos e ensinar-nos a construir um mundo melhor. Eles convenientemente ignoram que Jesus disse: "Pobres, sempre os tereis convosco; mas a mim nem sempre me tereis." (Mt 26, 11).
- Consideram que a missão da Igreja não é mais uma noção "quantitativa" de salvar as almas mas em vez disso, a Grande Comissão da Igreja trata de melhorar a "qualidade de vida" na Terra; assim, apoiando os pobres e os oprimidos.

As tentações no deserto

Relembremos as tentações que o Senhor teve no deserto (Mt 4, 1-11) para não cairmos nós nesta tentação de criarmos um mundo melhor sem Deus:

Tentação do diaboResposta de JesusTentação do mundo actual
Ordena que estas pedras se convertam em pãesEstá escrito: Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.Querermos apenas a felicidade no mundo esquecendo Deus e a Verdade. É esquecermos de edificarmos a nossa vida segundo a vontade de Deus, querendo seguir apenas a nossa vontade.
Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!Querermos a salvação apenas por nós mesmos, apenas sendo "bons", esquecendo a necessidade da Graça de Deus, o pecado original e a necessidade da ajuda de Deus para realmente sermos bons.
Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.Vai-te, Satanás, pois está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto.Esquecermos de prestar culto e adorar Deus. Esquecermos de reconhecer Deus como criador em que tudo Lhe pertence. Esquecermos a correcta ordem do Amor. Abandonarmos a virtude da religião para ficarmos apenas por uma espiritualidade "enriquecedora".

O relativismo

Todo este movimento pode-nos levar ao relativismo pois a medida do Bem deixou de ser Deus para passar a ser a felicidade do Homem.
Vejamos a lista de relativismos em que podemos cair seguindo a forma desordenada do amor:

RelativismoFé Católica
O pecado é uma opressão na vida do Homem, é uma relação opressora entre os Homens.O pecado é o que nos afasta de Deus e da Sua Graça.
A Salvação e o Reino consistem em criar um mundo melhor.A Salvação é a possibilidade de após a morte alcançarmos a vida eterna junto de Deus. O Reino de Deus será constituído plenamente no fim dos tempos e agora no mundo está presente na Igreja.
A Vida Eterna é uma vida plena e realizada no mundo.A Vida Eterna é após a morte podermos viver eternamente junto de Deus e no mundo a nossa participação na Vida consiste em vivermos na Graça de Deus.
A missão da Igreja é ajudar os Homens a serem felizes, levando-lhes o amor de Deus. A missão da Igreja é a salvação das almas, anunciando o Evangelho, chamando os Homens à conversão e praticando as boas obras.

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Reflexões várias

Dignidade e liberdade Humana:
O documento do Vaticano II, Dignitatis Humanae, ao falar da liberdade e dignidade do Homem alicerça-a na busca de Deus e da Verdade. Só existe verdadeira liberdade e dignidade Humana se procuramos Deus e a Verdade e se quando encontramos a Fé a Verdade nelas permanecemos.

"Em primeiro lugar, pois, afirma o sagrado Concílio que o próprio Deus deu a conhecer ao género humano o caminho pelo qual, servindo-O, os homens se podem salvar e alcançar a felicidade em Cristo. Acreditamos que esta única religião verdadeira se encontra na Igreja católica e apostólica, à qual o Senhor Jesus confiou o encargo de a levar a todos os homens, dizendo aos Apóstolos: «Ide, pois, fazer discípulos de todas as nações, baptizando os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo quanto vos prescrevi» (Mt. 28, 19-20). Por sua parte, todos os homens têm o dever de buscar a verdade, sobretudo no que diz respeito a Deus e à sua Igreja e, uma vez conhecida, de a abraçar e guardar."
...
"Mas a verdade deve ser buscada pelo modo que convém à dignidade da pessoa humana e da sua natureza social, isto é, por meio de uma busca livre, com a ajuda do magistério ou ensino, da comunicação e do diálogo, com os quais os homens dão a conhecer uns aos outros a verdade que encontraram ou julgam ter encontrado, a fim de se ajudarem mutuamente na inquirição da verdade; uma vez conhecida esta, deve-se aderir a ela com um firme assentimento pessoal."
...
"Pelo que este Concílio Vaticano exorta a todos, mas sobretudo aos que têm a seu cargo educar outros, a que se esforcem por formar homens que, fiéis à ordem moral, obedeçam à autoridade legítima e amem a autêntica liberdade; isto é, homens que julguem as coisas por si mesmos e à luz da verdade, procedam com sentido de responsabilidade, e aspirem a tudo o que é verdadeiro e justo, sempre prontos para colaborar com os demais."
...
"Deus chama realmente os homens a servi-lo em espírito e verdade; eles ficam, por esse facto, moralmente obrigados, mas não coagidos. Pois Deus tem em conta a dignidade da pessoa humana, por Ele mesmo criada, a qual deve guiar-se pelo próprio juízo e agir como liberdade."
...
"Os fiéis, por sua vez, para formarem a sua própria consciência, devem atender diligentemente à doutrina sagrada e certa da Igreja. Pois, por vontade de Cristo, a Igreja Católica é mestra da verdade, e tem por encargo dar a conhecer e ensinar autenticamente a Verdade que é Cristo, e ao mesmo tempo declara e confirma, com a sua autoridade, os princípios de ordem moral que dimanam da natureza humana."

Porque se esvaziam as igrejas?
A ida à igreja não pode estar dependente de o que vou lá fazer e escutar ser para mim "interessante", de estar dependente do que o padre faz ou diz.
Penso que este é o problema de colocarmos a nossa felicidade como o valor mais alto. A ida à igreja faz-se porque queremos prestar culto a Deus e viver na Graça de Deus nos Sacramentos. Se as igrejas se esvaziam é porque se perdeu a ligação a Deus e nós nos tornamos no centro e destino. Acontece quando em vez da Graça se procura a felicidade e acontece quando a nossa vida se torna mais importante do que a Verdade e a Vida que existem para além da nossa existência aqui no mundo. Ao concentrar-nos em nós e na nossa felicidade estamos a construir a casa pelo telhado.

A missa é culto a Deus, vem da virtude da religião, vem do desejo de darmos a Deus toda a honra e glória, do desejo da Graça de oferecermos com Cristo no Altar e nos alimentarmos do alimento da vida eterna, o centro de atenções da missa é Deus e não nós.

Melhorar as homilias é um bom caminho, mas não vamos estancar ou alterar o esvaziamento das igrejas enquanto as pessoas não compreenderem a edificarem a casa pelo que é eterno, pela Verdade, pela Vida, pelo Bem que é o próprio Deus. Tudo isto é bom e justo independentemente de nós, da nossa existência, da nossa vida e felicidade, estas penso que vamos encontrar no telhado desta edificação. Ainda na edificação, nos alicerces encontra-se a Fé firme e esclarecida, mesmo que seja simples, mas que sabe e dá o assentimento ao que a Igreja sempre ensinou desde o tempo dos Apóstolos.


A felicidade e a alegria cristã:
As palavras «felicidade» e «alegria» podem ser mal interpretadas se forem consideradas como o mundo as promove.
Se as não compreendermos à luz da Salvação podemos pensar que são promessas de felicidade e alegria como tantas outras que nos são feitas por anúncios, pelo consumismo, pelo niilismo, pelo egoísmo do Eu. E nesse caso a mensagem da Igreja deixa de ser credível, torna-se uma promessa como tantas outras.

A alegria cristã se for considerada como a alegria normal da vida no mundo, apenas num plano sentimental e afectivo perde a verdadeira dimensão que tem.
A alegria cristã não é apenas um estado afectivo, uma emoção feliz que por vezes está ligada ao amor humano ou à interacção social.
A alegria cristã é fruto da virtude da Caridade, e a Caridade é caracterizada pela correcta ordem do Amor: colocar Deus primeiro e a partir daí ordenar todo o amor em referência a Deus.

A alegria cristã não pode estar desligada da Cruz.
Termos alegria cristã não significa que estamos livres de sofrimento e dor, estas fazem parte da vida cristã, de levarmos a Cruz.
Na alegria cristã não significa que estamos sempre "felizes" e alegres.
O caminho da alegria cristã e da vida cristã não vai levar-nos sempre a sentir felicidade.

A missão da Igreja não é levar-nos a sentirmos o amor de Deus mas sim em primeiro lugar a missão da Igreja é levar-nos a saber e confiar que somos amados por Deus, independentemente do que sentirmos no momento.

Muitas vezes não vamos sentir alegria e felicidade, mas sabemos e confiamos que Deus nos ama, e apesar de no momento não sentirmos a alegria e felicidade temos na mesma em nós a alegria Cristã, porque sabemos que Deus nos ama.

Assim, a nossa missão de levar a alegria e felicidade no mundo tem de partir da virtude da Caridade, de ordenar primeiro o amor a Deus e sabermos e confiarmos que Deus nos ama.