quinta-feira, 28 de março de 2019

Cardeal Robert Sarah - "Le soir approche et déjà le jour baisse"

A crise da Fé

Em primeiro lugar temos de considerar que a fé é um dom de Deus, não é um trabalho humano, é um dom de Deus que recebemos da misericórdia de Deus.
Em que este consiste este dom?
Deus manifesta-se a nós como aquele que é o nosso caminho, aquele que é o nosso Pai, aquele que nos guia, e nós devemos confiar nele.
A fé é uma confiança absoluta em Deus, é nós confiarmos plenamente nele e termos uma absoluta certeza de que não cairemos porque é uma rocha sólida e a fé é também uma resposta de amor, Deus nos ama.
E nós respondemos a esse amor.
Esta resposta de amor manifesta-se através de uma vida de oração, uma vida de diálogo, uma vida de encontro, de intimidade com o Senhor e, no entanto, tem uma dimensão eclesial, contagiante.
Eu não recebo este dom sozinho, tenho que partilhar com os outros.
Uma fé que não é partilhada arrisca-se a morrer e a fé, que hoje em dia está em crise, é essa absoluta falta de confiança em Deus.
Nós vivemos como se Deus não existisse, é como se matássemos Deus e não necessitássemos d'Ele.
É a Igreja que deve, talvez, ser como a serva para trazer de volta este dom que é oferecido ao Homem de hoje, respeitando a liberdade de cada pessoa.
Não vamos forçar ninguém a acreditar, mas vamos ajudá-lo a direcionar a sua vida para a fonte da sua vida.
Todos nós temos uma fonte, como um rio tem uma fonte, o Homem tem uma fonte de vida, é Deus.

A crise sacerdotal

Esta crise remonta há muito tempo. Não se trata apenas de falar de uma crise do ponto de vista do número de sacerdotes, mas especialmente do ponto de vista de seu compromisso com Cristo, dA sua fidelidade ao celibato, do seu testemunho de vida.
Você vê que uma minoria se comporta de maneira escandalosa e ofende o trabalho dos 400.000 sacerdotes que permanecem fiéis e cumprem santamente a sua missão.
E assim, esta crise é real.
Naturalmente é necessário iniciar uma boa formação no seminário, um bom discernimento no recrutamento dos candidatos ao sacerdócio e uma boa formação contínua para que o sacerdote seja fiel à sua vocação missionária, ao seu compromisso com Deus e com a Igreja através do celibato, com o respeito escrupuloso do ensinamento da Igreja, porque aqui também, você sabe, muitos sacerdotes, muitos bispos, ensinam o que querem, contudo a minha doutrina de Jesus não é a minha doutrina, mas a do Pai, todo o sacerdote deveria dizer: "A minha doutrina é a doutrina de Deus, a doutrina da Igreja".
E assim, esta crise do sacerdócio é vasta, real, devemos enfrentá-la com serenidade e não temer em insistir em ir pedir aos sacerdotes que eles sejam santos sacerdotes, que eles tenham a doutrina da Igreja, a doutrina de Deus, que eles tenham um zelo missionário para tornar conhecido o reino de Deus.
Porque hoje poucos homens conhecem a Deus, poucos querem conhecê-lo. É por isso que Ele nos escolheu, precisamente, para que possamos cumprir essa missão de tornar seu reino conhecido, de tornar conhecido o seu amor.
E assim, é uma crise, na minha opinião, benéfica para nos despertar para a nossa missão e para a nossa identidade sacerdotal.



A crise na Igreja

A Igreja não é uma estrutura humana puramente social. A igreja é o prolongamento de Jesus. É Jesus, presente no meio dos homens e esta presença é manifestada pelo seu ensinamento, pela sua maternidade.
A Igreja é mãe e educadora.
Ela é uma mãe porque que todos renascemos quando somos batizados na fé da Igreja e ela é educadora porque nos faz crescer nessa fé.
Todos, quando recitamos o Credo, não é o nosso Credo que recitamos, mas o Credo da Igreja, o Credo da nossa mãe.
A Igreja é uma extensão de Jesus, ela é mãe e educadora.
A Igreja faz-nos crescer. E todo o mundo ama a sua mãe, todo o mundo está ligado à sua mãe.
Hoje, todos os cristãos devem se apegar à mãe, mesmo que a sua mãe seja leprosa, mesmo que a sua mãe esteja desfigurada por uma doença, ela continua sendo a sua mãe.
Você deve amá-la, você deve sempre ouvir a voz dela.
Hoje, estamos como que determinados a desfigurar a Igreja, a desprezá-la, a acreditar nela como sendo uma sociedade puramente social que deve lidar com questões sociais, questões de pobreza, questões que dizem respeito ao Homem. Mas a Igreja deve acima de tudo orientar o Homem para as preocupações reais que não são apenas humanas, mas também espirituais.
Ela é uma educadora para nos gerar na vida de Deus, nas preocupações de Deus. E assim, nós realmente temos que nos apegar a ela e amá-la.
É verdade que hoje a Igreja está em crise também. Não é ela quem está em crise, estamos em crise, nós, seus filhos.
Ela é sempre santa, ela é sempre bonita, ela não tem rugas, mas somos nós os filhos, desfigurados, que a desfiguram.
Somos nós que estamos em crise, não a Igreja como tal, porque a Igreja sempre ensina o que Cristo lhe pediu para ensinar.
A Igreja é sempre mãe, como sempre foi mãe, mas nós somos as crianças que já não ouvem a sua voz e ensinam apenas o que querem.
A crise está ao nível dos filhos da Igreja e portanto, é aos filhos da Igreja que será necessário, talvez, ajudar para que eles encontrem este ouvido atento, como Salomão. Este coração que escuta a sua mãe, como o coração de Salomão.




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