Porque é que por todo o mundo existem católicos a pedir a celebração da missa na forma tradicional, também chamada de forma extraordinária do rito romano?
Primeiro resposta a algumas ideias erradas:
Quem pede a forma extraordinária não a pede por causa de ser em latim, nem por nostalgia do latim, mas sim por tudo o que ela contém, o latim nem é o mais importante.
As pessoas entendem a missa em português mas pelo que vemos (falta de vocações, poucos cristãos vão à missa, sacramentos tratados como serviços que a Igreja presta) a vasta maioria não a compreende, vai uma grande distancia entre entender o que é dito em oração até o compreendermos e vivermos. Além de que o que temos em português é uma tradução do missal de 1969 e não do missal usado na forma extraordinária, o texto que supostamente não compreendemos por ser em latim continuamos a não compreender porque o que temos em português é uma tradução de outro texto.
A Igreja sempre teve e tem uma diversidade de ritos, isso não é factor de desunião, antes pelo contrário é ir ao encontro das necessidades das pessoas e da forma que melhor as ajuda a viver uma vida cristã.
Procurar a forma extraordinária não leva a nenhum relativismo litúrgico, pelo contrário, é pelo facto de querermos uma expressão clara da nossa Fé e da liturgia que procuramos a forma extraordinária.
Porque pedimos então a forma extraordinária?
O motivo é porque queremos conhecer, viver e transmitir a Fé da Igreja, a Fé que sempre foi conhecida, vivida e transmitida ao longo dos séculos, desde os Apóstolos passando pelos mártires e diversos Santos. Sendo a missa fonte e centro da vida cristã e a Fé a virtude sobrenatural que alimenta a Esperança e a Caridade e nos leva a uma vida cristã, pedimos então uma missa que de facto nos ajude a viver a Fé da Igreja. A forma extraordinária de facto é verdadeira fonte e expressão da Fé da Igreja.
O que tem a forma extraordinária para de facto ser verdadeira fonte e expressão da Fé?
Em primeiro lugar tem claramente um sacerdote e um altar no qual se oferece o sacrifício da nossa redenção em glória e louvor a Deus e para a nossa salvação e santificação.
Nela vemos claramente que existe uma acção e que essa acção não é nossa mas de Cristo e que não somos nós o centro da atenção mas sim Deus e é a essa acção de Cristo tendo Deus como centro para a qual somos chamados a participar como povo de Deus.
Nela temos uma riqueza de textos e orações que abrangem todas as características do ser cristão: humildade de nos reconhecermos pecadores necessitados da Graça de Deus, contrição para pedirmos perdão, impetração e propiciação por nós e pelos que faleceram, louvor e glória a Deus vendo no nosso Pai as características do que é bom, justo e verdadeiro, a alegria da salvação, a esperança de alcançarmos o Céu que é a nossa verdadeira morada e o amor e união de reconhecermos o nosso próximo como nosso irmão.
Nela temos os salmos de impetração, as orações à Santíssima Trindade, a Avé Maria, a invocação do Espírito Santo, o ofertório que é todo ele uma oração magnífica do pecador que encontra o seu Salvador, que expressa claramente a acção que está a acontecer na missa. Temos as três línguas colocadas na Cruz do Senhor: latim, grego e hebraico. Temos a leitura de São Paulo a alertar-nos para nos examinarmos antes de recebermos o Corpo e Sangue do Senhor. Textos que nos recordam dos requisitos da Fé, da exigência dos preceitos morais, da justiça de Deus, do fim-dos-tempos. Temos o contacto e o realce de importantes e exigentes aspectos da doutrina que nos é transmitida pela Sagrada Escritura e que foi constantemente transmitida ao longo dos séculos praticamente desde os Padres da Igreja. Temos o contacto com a plenitude da Verdade que nos encaminha para a conversão e santificação, sendo este o verdadeiro fim da Sagrada Escritura.
Na evocação e memória dos santos temos um todo uniforme e rico em que as orações os evocam e honram, as leituras salientam as suas virtudes dando-os como exemplo, e o sacrifício eucarístico manifesta a ligação da Igreja Triunfante, representada pela lista de santos no Canon, a todos nós, peregrinos na Igreja Militante. Toda a liturgia expressa a unidade da santificação, mostrando-nos o caminho de santidade: Jesus na Eucaristia e o modelo de santidade que os Santos alcançaram.
Na Palavra que é lida temos além do Jesus que nos ama e procura o nosso bem-estar e felicidade temos também o Jesus que nos recorda do pecado, nos chama à conversão, nos alerta para os perigos que nos afastam de Deus e nos podem levar à condenação eterna.
Ao existirem apenas duas leituras é proporcionado um equilíbrio de distribuição do tempo dando maior ênfase ao Sacrifício Eucarístico como centro e motivo da missa, tornando as leituras num momento de oração e preparação da alma para depois nos unirmos a Jesus no oferecimento do Altar e O recebermos em comunhão.
Ao existir apenas um ciclo anual de leituras facilita a memorização e interiorização dessas leituras, tornando-as em acção de santificação.
Na forma extraordinária temos os sinais e símbolos do Mistério Pascal que celebramos, a sacralidade e beleza do espaço e dos gestos, o silêncio, a beleza e elevação do canto que nos ajudam a elevar a alma a Deus. São aspectos que nos levam à admiração, louvor e gratidão por tudo o que Deus fez por nós. Nela temos o mais sublime acto de oração da Igreja em adoração a Deus, onde de facto podemos dar o nosso melhor.
O facto de ser celebrada orientada para o oriente litúrgico, com o sacerdote como pastor a ir na frente do povo de Deus encaminhando-o e orientando-o no caminho da salvação e da oração, coloca o foco da atenção em Deus mostrando-nos o verdadeiro motivo porque estamos ali. Evoca a nossa esperança enquanto aguardamos a vinda do Senhor no fim-dos-tempos. É uma prática antiga e usada de forma consistente pela Igreja ao longo dos séculos, que sempre foi entendida como sendo uma forma adequada para louvor e glória de Deus. É simplesmente colocar o olhar em Cristo como o ponto de encontro em Deus e o Homem.
A forma como é tratado e reverenciado o Corpo e Sangue do Senhor mostra-nos claramente a verdade da transusbtanciação, que de facto estamos perante já não do pão e do vinho mas do Corpo e Sangue do Senhor, que o alimento que tomamos é de facto do Cordeiro de Deus com o olhar posto no banquete celeste e na vinda do Senhor no fim dos tempos.
Esta forma, pela virtude da religião, chama-nos à santidade, sendo a santidade a nossa união com Deus, a preparação da alma para se unir a Deus, o desejo e vislumbre da bem-aventurança eterna para a qual fomos criados. É esta santidade a verdadeira fonte das boas obras e do amor ao próximo, é ela que nos leva à humildade, castidade, caridade e fraternidade, obediência, penitência, pobreza de espírito, generosidade, à alegria e ao amor.
Com a forma extraordinária temos também os exorcismos do baptismo, as bênçãos, indulgências, devoções tradicionais, o ofício divino, missa de requiem pela alma de quem faleceu, as temporas, um tempo litúrgico após o Pentecostes, e tantos outros elementos que formam a nossa identidade católica.
Em relação ao suposto problema do latim, a leitura da Palavra pode ser feita em português como bem indicou o Papa Emérito Bento XVI, numa época em que felizmente já é elevada a alfabetização, facilmente se acompanha e participa na missa com um missal latim/português. Esse missal será depois bastante útil se for usado em casa como livro de oração pessoal e familiar.
Assim quando pedimos a forma extraordinária pedimos o mesmo que se pede no rito do baptismo segundo a forma extraordinária: - Que vens pedir à Igreja de Deus? - A Fé. - E para que te serve a Fé? - Para alcançar a vida eterna. - Então se queres possuir a vida eterna, tens de cumprir os mandamentos: "amarás ao Senhor teu Deus como todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento; e amarás ao teu próximo como a ti mesmo."
A forma extraordinária de facto ajuda-nos a procurar o fim para que fomos criados: a bem-aventurança eterna.
A vós, pastores da Igreja, pedimos a generosidade de a facultardes para que nela possamos participar, pela graça de Deus e pela salvação das almas.
"32. Foi conduzido o cadáver à sepultura. Fui e voltei, sem derramar lágrimas. Nem mesmo chorei durante as orações que Vos dirigimos, ao ser oferecido o Sacrifício da nossa redenção pela defunta,
cujo cadáver já estava depositado junto do sepulcro, antes de o
enterrarem, como ali é costume. Nem sequer chorei durante as orações !
Mas todo o dia senti, no meu íntimo, uma tristeza oprimente.
Com
o espírito agitado Vos suplicava, com todas as forças, que sarásseis a
minha dor. Creio que, se mo não concedíeis, era para gravardes na minha
memória, ao menos por esta única experiência, quanto são poderosos os
laços do hábito até na alma que já se não alimenta com palavras
enganadoras. Lembrei-me de ir ao banho; ouvira dizer que este nome lhe
fora dado por causa dos gregos lhe chamarem balanêion, por aliviar o
espírito de angústias. Confesso também isso à vossa misericórdia, ó Pai
dos órfãos, confesso que depois do banho fiquei como estava, sem
conseguir expulsar do coração esta amarga tristeza. Depois adormeci.
Acordei
e achei a minha dor bastante mitigada. Estando só, deitado no meu
leito, recordei os versos verídicos do vosso Ambrósio: Vós sois, na
verdade,
"Deus, Criador de todas as coisas, Regendo o mundo supremo, Vestindo o dia com a beleza da luz, Vestindo a noite com a graça do sono, Para que o repouso, ao labor de cada dia, Os membros fatigados restitua, As mentes cansadas alivie e as tristezas angustiosas dissipe..."
33.
Depois, pouco a pouco, voltava aos anteriores sentimentos a respeito da
vossa serva. Recordava-me da sua convivência, piedosa para convosco, e
santamente afável e paciente para comigo, e que de repente me fora
arrebatada. Sentia consolação em chorar ante a vossa presença por causa dela e por ela, e também por causa de mim e por mim.
As lágrimas que reprimia, soltei-as para que corressem à vontade,
estendendo-as como um leito sob o meu coração. Este repousou nelas,
porque aí estavam os vossos ouvidos e não os de qualquer homem que
soberbamente interpretasse o meu choro.
Confesso-Vos
agora tudo isso, Senhor, por escrito. Leia-o quem quiser, interprete-o
como lhe parecer. Se alguém julgar que eu pequei, chorando uns breves
minutos por minha mãe — que eu nesses momentos via morta ante os meus
olhos e que tantos anos por mim chorara para que eu vivesse aos vossos
olhos — , esse não se ria. Mas se é dotado de grande caridade, chore
pelos meus pecados diante de Vós, que sois o Pai de todos os irmãos do
vosso Cristo.
34. Agora, sarado já o meu coração desta ferida, na qual se poderia censurar a minha sentimentalidade, derramo
diante de Vós, meu Deus, pela vossa serva, uma outra espécie de
lágrimas. Manam dum espírito comovido pelos perigos que cercam toda a
alma "que morre em Adão". Vivificada em Cristo ainda antes de ser
libertada da carne, vivia de tal modo que o vosso nome era louvado na
sua fé e nos seus bons costumes.
Contudo, não ouso
dizer que desde o tempo em que a regenerastes pelo baptismo, não caísse
de sua boca alguma palavra oposta à vossa lei. O vosso Filho, que é a
Verdade, declarou: "Se alguém chamar 'louco' a seu irmão, será réu do
fogo da geena". E ai da vida humana, ainda a mais louvável, se a
julgardes sem a vossa misericórdia! Mas porque não examinais as nossas
faltas com rigor, confiadamente esperamos algum lugar junto de Vós. Quem,
porém, Vos enumera os seus verdadeiros méritos, que outra coisa expõe
senão os vossos benefícios? Oh ! se os homens se reconhecessem como
homens, "se aquele que se gloria se gloriasse no Senhor!"
35.
Por isso, "Deus do meu coração, minha glória e minha vida", esqueço um
momento as boas acções de minha mãe, pelas quais alegremente Vos dou
graças, para Vos pedir perdão de seus pecados. Ouvi-me em nome
d'Aquele que é a Medicina das nossas chagas, que foi suspenso do madeiro
da cruz e, sentado "à vossa direita, intercede por nós". Sei que ela
praticou a misericórdia e que perdoou de coração as faltas contra ela
cometidas; perdoai-lhe também as suas dívidas, se algumas contraiu em
tantos anos que se seguiram ao baptismo.
Perdoai-lhe,
Senhor, perdoai-lhe, eu Vo-lo suplico, e "não entreis com ela em juízo".
"Que a vossa misericórdia supere a vossa justiça", pois são verdadeiras
as vossas palavras e prometestes misericórdia aos misericordiosos.
Contudo, se alguém foi misericordioso, a Vós o deve, a Vós, "que Vos compadecereis de quem já tiverdes tido piedade e usareis de misericórdia com quem tiverdes sido misericordioso".
36. Creio que fizestes já o que Vos suplico, mas desejo, Senhor, que "aproveis esta oblação voluntária da minha boca". Perto do dia da sua morte, minha mãe
não desejou que seu corpo fosse pomposamente sepultado, nem que fosse
ungido com aromas, nem ambicionou um túmulo magnífico, nem se preocupou
com tê-lo na pátria. Nenhuma destas coisas nos recomendou. Mostrou
apenas desejo de que nos lembrássemos dela junto do vosso altar, onde
nunca tinha faltado um só dia a render-Vos homenagens, porque sabia que
lá se distribui a vítima santa que "destruíra o libelo de condenação,
contrário a nós". Com essa vítima triunfou do inimigo que enumera as
nossas faltas e procura acusações contra nós. Mas o nosso adversário
nada encontrou n'Aquele com quem nós vencemos.
Quem
poderá restituir a Cristo Jesus seu sangue inocente? Quem lhe poderá
restituir o preço com que nos resgatou do inimigo para nos arrancar
dele? Era a este mistério da vossa redenção que a vossa serva ligara a sua alma pelos vínculos da fé.
Ninguém a arranque jamais da vossa protecção. Que o leão e o dragão nem
à força nem por insidias se entreponham entre ela e Vós. Para que o
astuto acusador a não convença e arrebate, ela não responderá que nada
deve. Dirá antes que as suas dívidas lhe foram perdoadas por Aquele a
quem ninguém pode restituir o que por nós pagou sem ser devedor.
37.
Que ela esteja em paz com o marido, já que, anteriormente ou
posteriormente à sua união com ele, com ninguém mais se desposou.
Serviu-o com paciência, alcançando méritos para também o ganhar para
Vós.
Inspirai, meu Senhor e meu Deus, inspirai aos
vossos servos, meus irmãos, aos vossos filhos, meus senhores, a quem
sirvo pelo coração, pela voz e pela pena, inspirai a todos os que lerem
estas páginas que se lembrem, junto ao altar, de Mónica, vossa serva, e
de Patrício, outrora seu esposo, pelos quais me introduzistes nesta vida, dum modo tal que eu ignoro.
Que
se lembrem, com piedoso afecto, dos que foram meus pais nesta vida
transitória e meus irmãos em Vós, nosso Pai, e na Igreja Católica, nossa
Mãe, e meus concidadãos na eterna Jerusalém. Por esta suspira o vosso
povo na sua peregrinação, desde a partida até ao regresso.
Assim,
graças a estas Confissões, o desejo último de minha mãe será mais
copiosamente cumprido, com as orações de muitos, do que somente com as
minhas."
A mensagem de Fátima, tão politicamente incorreta quanto o Evangelho
Fátima
possui uma mensagem “dura” que, na linguagem de hoje, dizemos ser
“politicamente incorreta”. Exatamente por causa disso ela está de acordo
com o Evangelho.
Todas as aparições marianas parecem assemelhar-se umas às outras, havendo sempre no centro das mensagens um apelo à oração e à penitência e, ao mesmo tempo, cada uma é diferente da outra pela "acentuação" de um aspecto particular da fé.
A aura que circunda Lourdes é pacata, tanto é que se nota que em
nenhuma outra ocasião Maria sorriu tanto, chegando ao ponto de fazê-lo
em três ocasiões. "Ria como uma menina", disse Bernadete. E não sabia,
aquela santinha, que justamente isso iria induzir os austeros
inquisidores da comissão que investigava a autenticidade da aparição a
ficarem ainda mais desconfiados. "Nossa Senhora que ri! Por favor, um
pouco mais de respeito com a Rainha do Céu". Por fim tiveram que superar
essa suspeita: pois foi assim mesmo que tudo aconteceu. Não se deve esquecer, é claro, que esta mesma Senhora que apareceu na gruta, dizendo ser a Imaculada Conceição, assumirá ainda um aspecto um tanto sério, repetindo os apelos de penitência e oração por si mesmos e pelos pecadores.
Mas há um ar de serenidade, a falta da ameaça de um castigo, que é
talvez um dos aspectos que mais atraem aos Pirineus as multidões que
conhecemos.
Misericórdia e justiça
A atmosfera de Fátima, ao contrário, parece sobretudo escatológica, apocalíptica.
Ainda que seja com um final que conforta e asserena. É evidente que a
razão principal da aparição portuguesa é conclamar os homens a uma vida
terrena de tremenda seriedade, e que não seja outra coisa senão uma
breve preparação à vida verdadeira, a uma eternidade que pode ser de
felicidade ou ainda de tragédia. É um chamado à misericórdia e, ao mesmo tempo, à justiça de Deus.
A insistência unilateral de hoje somente sobre a misericórdia esquece a
máxima do "et-et" (a harmonia entre a graça e a natureza, entre o tempo
e o eterno, entre passado e futuro, entre liberdade e justiça) que
preside o espírito do catolicismo e que, aqui, vê em Deus o Pai amoroso
que nos recebe de braços abertos e, ao mesmo tempo, o juiz que pesará
sobre a sua infalível balança o bem e o mal. Recebe-nos no paraíso, sim,
mas um paraíso que é necessário ganhar, gastando da melhor forma os
pequenos ou grandes talentos que nos foram confiados.
O Deus católico certamente não é aquele sádico do calvinismo
que, a seu bel-prazer, divide em duas a humanidade: aqueles que nascem
predestinados ao paraíso e aqueles que ab aeterno são esperados no inferno.
É assim, afirma Calvino, que Ele manifesta a glória do seu poder. Não, o
Deus católico não tem nada a ver com semelhante deformação. Mas muito menos é o permissivista bonachão, o tio tolerante que tudo aceita e tudo igualmente acolhe,
o Deus de que fala sobretudo o laxismo dos teólogos jesuítas (que foram
condenados pela Igreja) e contra os quais Blaise Pascal lançou as suas
indignadas Cartas provinciais.
Ainda que soe desagradável aos ouvidos de um certo "bonismo" atual, tão
traiçoeiro à vida espiritual, Cristo propõe à nossa liberdade uma
escolha definitiva para a eternidade inteira: ou a salvação ou a condenação.
Assim, poderia esperar-nos inclusive aquele inferno que omitimos, mas
ao preço de omitirmos também as claras e repetidas advertências do
Evangelho. Nele está contido o comovente apelo de Jesus: "Vinde a mim
vós todos que estais cansados e oprimidos, e eu vos darei descanso". E
tantas outras são as palavras e gestos de sua ternura. Ainda assim, gostem ou não, nos Evangelhos há também outra coisa.
Há um Deus que é infinitamente bom e infinitamente justo, e a cujos
olhos um homem mau e impenitente não equivale a um fiel crente que se
esforçou, mesmo com as limitações e as quedas de todo ser humano, em
levar a sério o Evangelho.
O inferno não é uma invenção
No texto fundamental do ensinamento da Igreja que é o Catecismo, aquele
que foi inteiramente renovado, redigido por vontade de São João Paulo
II e sob a direção do então cardeal Joseph Ratzinger (um texto que fez
todo seu o espírito do Vaticano II), os seus autores advertem: "As
afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja acerca do
Inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar de sua liberdade em vista de seu destino eterno.
Constituem também um apelo insistente à conversão" (§1036). São estes
mesmos apelos (à responsabilidade e à conversão) que constituem o centro
da mensagem de Fátima e que a tornam tão mais urgente e atual: agora
certamente mais do que no momento em que Maria apareceu na Cova da Iria.
á há décadas que desapareceram da pregação católica os Novíssimos,
como são chamados pela teologia a morte, o juízo, o inferno e o paraíso.
Uma reticência clerical que omitiu — mais do que isso, renegou, no
fundo — o velho e salutar adágio que salvou tantas gerações de fiéis:
o início da sabedoria é o temor de Deus. Na história
dos santos, esta consciência de uma possível condenação eterna
constituiu um estímulo constante à prática mais profunda das virtudes.
Eles sabiam que a existência do inferno não é um sinal de crueldade
divina, mas sim de respeito radical: o respeito do Criador para
com a liberdade concedida às suas criaturas, até o ponto de
permitir-lhes escolher a separação definitiva.
Tanto na teologia como na pastoral atual, ao imperioso anúncio da
misericórdia não se uniu o também imperioso anúncio da justiça. Mas, se
em Deus convivem todas as virtudes em dimensão infinita, estaria
faltando nele a virtude da justiça que a Igreja — inspirada pelo
Espírito Santo, mas seguindo também o senso comum — incluiu entre as
chamadas "virtudes cardeais"? Não faltam teólogos, respeitados e
renomados até, que gostariam de amputar uma parte essencial das
Sagradas Escrituras, omitindo aquilo que enfastia os que se crêem
melhores e mais generosos que Deus. Dizem, então: "O inferno não existe. Mas, se existe, está vazio."
Pena que a Virgem Maria não seja da mesma opinião… É
verdade que a Igreja sempre confirmou a salvação certa de alguns de seus
filhos, proclamando-os beatos e santos. E a mesma Igreja não quis
jamais proclamar a condenação de quem quer que seja, deixando justamente
a Deus o último juízo. Quem afirmasse, todavia, que um inferno poderia
até existir, mas estaria vazio, mereceria a réplica: "Vazio? Mas isso não exclui a possibilidade terrível de que eu e você possamos inaugurá-lo".
Há quem tenha levantado a hipótese de a condenação ser somente
temporária, não eterna. Mas também isso vai de encontro com as palavras
de Cristo, o qual fala claramente, e mais de uma vez, de uma pena sem
fim. Foi sem nenhuma dificuldade, portanto, que vários concílios
rejeitaram semelhante possibilidade, a qual não encontra qualquer apoio nas Escrituras.
"Rezai, rezai muito"
Na aparição mais importante de Fátima, do dia 13 de julho de 1917,
acontece o que a Irmã Lúcia narraria desta forma, em 1941, em famosa
carta ao seu bispo:
"O segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar.
A primeira foi a visão do inferno!
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra.
Mergulhados nesse fogo os demônios e as almas, como se fossem brasas
transparentes e negras, ou bronzeadas com forma humana, que flutuavam no
incêndio levadas pelas chamas que delas mesmas saiam, juntamente com
nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das
fagulhas nos grandes incêndios sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero que horrorizava e fazia estremecer de pavor."
Jacinta, passados três anos, ainda menina com 10 anos de idade e
chocada com o que havia visto naqueles poucos instantes, dirá no seu
leito de morte: "Se eu apenas pudesse mostrar o inferno aos pecadores, fariam de tudo para evitá-lo mudando de vida."
Semelhantes visões do inferno não são fatos isolados na história da Igreja.
Defrontar-se com esta terrível realidade é uma experiência por que
passaram muitos santos e santas. E a credibilidade psicológica e mental
deles foi avaliada rigorosamente nos processos canônicos. Para
limitar-nos aos mais famosos e venerados santos que tiveram esta
experiência, eis, entre tantos outros, Santa Teresa d'Ávila, Santa
Verônica Giuliani e Santa Faustina Kowalska. E, entre os homens, não
podia faltar aquele tal São Pio de Pietrelcina, o estigmatizado que via o
sobrenatural como se fosse a condição mais natural, a ponto de se
surpreender que os outros não vissem o que ele via.
Em Fátima, confirmando a centralidade na mensagem do perigo de
perder-se, encontra-se ainda o fato de que Nossa Senhora ensina aos
videntes uma oração a se repetir no rosário após cada dezena de Ave
Marias. Oração que teve um acolhimento extraordinário no mundo católico,
tanto que é recitada onde quer que se reze o terço mariano, e que diz:
"Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno,
levai as almas para o Céu e socorrei principalmente aquelas que mais
precisarem da vossa misericórdia". Todas as palavras, como se vê,
centradas nos Novíssimos, e ditadas às crianças pela própria Virgem
Maria. O que acima de tudo o cristão deve implorar é a salvação do "fogo
do inferno", bem como pedir à misericórdia divina uma espécie de
desconto de penas para aqueles que sofrem no purgatório. Dirá Nossa
Senhora, "com grande dor e pesar", como observa a Irmã Lúcia:
"Rezai, rezai muito e fazei sacrifício pelos pecadores. Muitas
almas vão de fato para o inferno porque não há quem reze e faça
sacrifícios por elas."
Debaixo de seu manto
Mas voltemos às últimas linhas do documento da testemunha Lúcia, após a
visão da sorte terrível dos pecadores impenitentes: "Levantamos os
olhos para Nossa Senhora que nos disse com bondade e tristeza: 'Vistes o
inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores; para as salvar,
Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração. Se
fizerem o que Eu vos disser, salvar-se-ão muitas almas". Eis, portanto, o
toque de consolo a todos os cristãos, antes de tudo, católicos. A
verdade nos obriga a recordar que correm um grave risco os homens esquecidos da seriedade do Evangelho.
A misericórdia do Céu, entretanto, está sempre pronta a propor um
remédio: refugiar-se sob o manto dela, de Maria, confiar no seu
Imaculado Coração, aberto a quem quer que venha pedir a sua materna
intercessão.
O peso crescente do pecado é grave, mas estão indicados os remédios e, sobretudo, Nossa Senhora tem sempre reservado um
happy end ("final feliz"), com as famosas palavras que, com
razão, constituem fonte de esperança aos fiéis. De fato, depois de haver
profetizado as muitas tribulações do futuro, Maria anuncia, em nome de
seu Filho: "Por fim o meu Coração Imaculado triunfará". Por isso, a salvação pessoal é possível — e sustentada pelo próprio Céu —, mesmo em meio à propagação da iniquidade.
Ainda podemos esperar a conversão do mundo, em um futuro impreciso e
que só Deus conhece, confiando no coração da Mãe de Cristo, poderosa
advogada da causa da humanidade.
Para que "servem" as aparições? Fátima está entre as maiores respostas,
para um mundo que estava sempre se esquecendo, e hoje continua a
esquecer ainda mais mais, o verdadeiro significado da vida sobre a terra
e a sua continuação na eternidade.
Fátima é uma mensagem "dura" que, na linguagem hodierna, dizemos ser "politicamente incorreta": exatamente por causa disso ela está de acordo com o Evangelho,
na sua revelação sobre a verdade e na sua refutação das hipocrisias,
eufemismos e omissões. Mas, como sempre naquilo que é verdadeiramente
católico, onde todos os opostos convivem em uma síntese vital, a "dureza" convive com a ternura, a justiça com a misericórdia, a ameaça com a esperança. Assim, o aviso que provém de Portugal é, ao mesmo tempo, inquietante e consolador.
Do livro "A vida de Cristo" do Venerável Fulton J. Sheen:
"Todas as pessoas que vieram a este mundo vieram para viver. Ele veio para morrer. A morte foi um obstáculo para Sócrates - interrompeu o seu ensino. Mas para Cristo, a morte era o objectivo e o cumprimento da Sua vida, o ouro que Ele estava procurando. Poucas das suas palavras ou acções são inteligíveis sem referência à sua cruz. Ele apresentou-se como um Salvador e não apenas como um mestre. Não significava nada ensinar os Homens a serem bons sem também lhes dar o poder de serem bons, depois de resgatá-los da frustração da culpa.
A história de toda a vida humana começa com o nascimento e termina com a morte. Na Pessoa de Cristo, no entanto, foi a Sua morte que foi a primeira e a Sua vida que foi a última. A escritura descreve-o como "o Cordeiro imolado, por assim dizer, desde o princípio do mundo". Ele foi morto em intenção pelo primeiro pecado e rebelião contra Deus. Não foi tanto que o Seu nascimento lançou uma sombra em Sua vida e assim levou à Sua morte; foi antes que a cruz foi a primeira e lançou sua sombra de volta ao seu nascimento. A Sua foi a única vida no mundo que foi vivida em sentido inverso. Como a flor na fenda da parede diz ao poeta da natureza, e como o átomo é a miniatura do sistema solar, assim também, o Seu nascimento conta o mistério da forca. Ele passou do conhecido para o conhecido, da razão de Sua vinda manifestada por Seu nome "Jesus" ou "Salvador" para o cumprimento de Sua vinda, a saber, a Sua morte na cruz.
João dá-nos a sua pré-história eterna; Mateus, a sua pré-história temporal, por meio da sua genealogia. É significativo o quanto a Sua ascendência temporal estava ligada a pecadores e estrangeiros! Essas manchas na Sua linhagem humana sugerem uma compaixão pelos pecadores e pelos estranhos à Aliança. Ambos os aspectos da Sua compaixão seriam mais tarde lançados contra Ele como acusações: "Ele é amigo dos pecadores"; "Ele é um samaritano." Mas a sombra de um passado manchado prediz o Seu futuro amor pelos manchados pelo pecado. Nascido de uma mulher, Ele era um homem e poderia ser um com toda a humanidade; Nascido de uma virgem, que foi coberta pelo Espírito e "cheia de graça", Ele também estaria fora daquela corrente de pecado que infectou todos os homens."
1. Quando Cristo Senhor
estava para celebrar com os discípulos a ceia pascal, na qual instituiu o
sacrifício do seu Corpo e Sangue, mandou preparar uma grande sala mobilada
(Lc 22, 12). A Igreja sempre se sentiu comprometida por este mandato e por isso
foi estabelecendo normas para a celebração da santíssima Eucaristia, no que se
refere às disposições da alma, aos lugares, aos ritos, aos textos. As normas
recentemente promulgadas por vontade expressa do Concílio Vaticano II e o novo
Missal que, de futuro, vai ser usado no rito romano para a celebração da Missa,
constituem mais uma prova da solicitude da Igreja, da sua fé e do seu amor
inquebrantável para com o sublime mistério eucarístico, da sua tradição
contínua e coerente, apesar de certas inovações que foram introduzidas.
Testemunho de fé inalterável.
2. A natureza sacrificial da
Missa, solenemente afirmada pelo Concílio de Trento, de acordo com toda a
tradição da Igreja, foi mais uma vez formulada pelo Concílio Vaticano II,
quando, a respeito da Missa, proferiu estas significativas palavras: “O
nosso Salvador, na Última Ceia, instituiu o sacrifício eucarístico do seu Corpo
e Sangue, com o fim de perpetuar através dos séculos, até à sua vinda, o
sacrifício da cruz e, deste modo, confiar à Igreja, sua amada Esposa, o memorial
da sua Morte e Ressurreição”. Esta doutrina do Concílio, encontramo-la
expressamente enunciada, de modo constante, nos próprios textos da Missa.
Assim, o que se exprime de forma concisa nesta frase do Sacramentário Leoniano
“todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício, realiza-se a
obra da nossa redenção” –aparece-nos desenvolvido com toda a clareza e
propriedade nas Orações Eucarísticas. Com efeito, no momento em que o
sacerdote faz a anamnese, dirigindo-se a Deus em nome de todo o povo, dá-Lhe
graças e oferece-Lhe o sacrifício vivo e santo; isto é, a oblação apresentada
pela Igreja e a Vítima por cuja imolação quis o mesmo Deus ser aplacado; e pede
que o Corpo e Sangue de Cristo sejam sacrifício agradável a Deus Pai e salvação
para o mundo inteiro. Deste modo, no novo Missal, a norma da oração (lex
orandi) da Igreja está em consonância perfeita com a sua ininterrupta norma de
fé (lex credendi). Esta ensina-nos que, para além da diferença no modo como
é oferecido, existe perfeita identidade entre o sacrifício da cruz e a sua
renovação sacramental na Missa, a qual foi instituída por Cristo Senhor na
Última Ceia, quando mandou aos Apóstolos que o fizessem em memória d’Ele.
Consequentemente, a Missa é ao mesmo tempo sacrifício de louvor, de acção de
graças, de propiciação, de satisfação.
3. O mistério admirável da presença
real do Senhor sob as espécies eucarísticas, reafirmado pelo Concílio Vaticano
II e outros documentos do Magistério da Igreja exactamente no mesmo sentido em
que tinha sido enunciado e proposto como dogma de fé pelo Concílio Tridentino,
é também claramente expresso na celebração da Missa, não somente nas próprias
palavras da consagração, em virtude das quais Cristo se torna presente por
transubstanciação, mas ainda na forma como, ao longo de toda a liturgia
eucarística, se exprimem os sentimentos de suma reverência e adoração. É este o
motivo que leva o povo cristão a prestar culto peculiar de adoração a tão
admirável Sacramento, na Quinta-Feira da Ceia do Senhor e na solenidade do
Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo.
4. Quanto à natureza do
sacerdócio ministerial, exclusivo do presbítero que em nome de Cristo
oferece o sacrifício e preside à assembleia do povo santo, a própria
estrutura dos ritos, o lugar de preeminência e a função mesma do sacerdote a
põem claramente em relevo. Os atributos desta função ministerial são enunciados
explícita e desenvolvidamente na acção de graças da Missa crismal, na
Quinta-Feira da Semana Santa, precisamente no dia em que se comemora a instituição
do sacerdócio. Nesta acção de graças é claramente afirmada a transmissão do
poder sacerdotal mediante a imposição das mãos; e é descrito este poder,
enumerando as suas diversas funções, como continuação do poder do próprio
Cristo, Sumo Pontífice da Nova Aliança.
5. Mas
esta natureza do sacerdócio ministerial vem também colocar na sua verdadeira
luz outra realidade de suma importância, que é o sacerdócio real dos fiéis,
cujo sacrifício espiritual, pelo ministério dos presbíteros, é consumado na
união com o sacrifício de Cristo, único Mediador. Com efeito, a celebração
da Eucaristia é acção de toda a Igreja; nesta acção, cada um intervém fazendo
só e tudo o que lhe pertence, conforme o posto que ocupa dentro do povo de
Deus. E foi isto precisamente o que levou a prestar maior atenção a certos
aspectos da celebração litúrgica que no decurso dos séculos não tinham sido
suficientemente valorizados. Este povo é o povo de Deus, adquirido pelo
Sangue de Cristo, congregado pelo Senhor, alimentado com a sua palavra; povo
chamado para fazer subir até Deus as preces de toda a família humana; povo que
em Cristo dá graças pelo mistério da salvação, oferecendo o seu Sacrifício;
povo, finalmente, que pela comunhão do Corpo e Sangue de Cristo se consolida na
unidade. E este povo, santo na sua origem, vai continuamente crescendo em
santidade, através da participação consciente, activa e frutuosa no mistério
eucarístico.
Em primeiro lugar temos de considerar que a fé é um dom de Deus, não é um trabalho humano, é um dom de Deus que recebemos da misericórdia de Deus.
Em que este consiste este dom?
Deus manifesta-se a nós como aquele que é o nosso caminho, aquele que é o nosso Pai, aquele que nos guia, e nós devemos confiar nele.
A fé é uma confiança absoluta em Deus, é nós confiarmos plenamente nele e termos uma absoluta certeza de que não cairemos porque é uma rocha sólida e a fé é também uma resposta de amor, Deus nos ama.
E nós respondemos a esse amor.
Esta resposta de amor manifesta-se através de uma vida de oração, uma vida de diálogo, uma vida de encontro, de intimidade com o Senhor e, no entanto, tem uma dimensão eclesial, contagiante.
Eu não recebo este dom sozinho, tenho que partilhar com os outros.
Uma fé que não é partilhada arrisca-se a morrer e a fé, que hoje em dia está em crise, é essa absoluta falta de confiança em Deus.
Nós vivemos como se Deus não existisse, é como se matássemos Deus e não necessitássemos d'Ele.
É a Igreja que deve, talvez, ser como a serva para trazer de volta este dom que é oferecido ao Homem de hoje, respeitando a liberdade de cada pessoa.
Não vamos forçar ninguém a acreditar, mas vamos ajudá-lo a direcionar a sua vida para a fonte da sua vida.
Todos nós temos uma fonte, como um rio tem uma fonte, o Homem tem uma fonte de vida, é Deus.
A crise sacerdotal
Esta crise remonta há muito tempo. Não se trata apenas de falar de uma crise do ponto de vista do número de sacerdotes, mas especialmente do ponto de vista de seu compromisso com Cristo, dA sua fidelidade ao celibato, do seu testemunho de vida.
Você vê que uma minoria se comporta de maneira escandalosa e ofende o trabalho dos 400.000 sacerdotes que permanecem fiéis e cumprem santamente a sua missão.
E assim, esta crise é real.
Naturalmente é necessário iniciar uma boa formação no seminário, um bom discernimento no recrutamento dos candidatos ao sacerdócio e uma boa formação contínua para que o sacerdote seja fiel à sua vocação missionária, ao seu compromisso com Deus e com a Igreja através do celibato, com o respeito escrupuloso do ensinamento da Igreja, porque aqui também, você sabe, muitos sacerdotes, muitos bispos, ensinam o que querem, contudo a minha doutrina de Jesus não é a minha doutrina, mas a do Pai, todo o sacerdote deveria dizer: "A minha doutrina é a doutrina de Deus, a doutrina da Igreja".
E assim, esta crise do sacerdócio é vasta, real, devemos enfrentá-la com serenidade e não temer em insistir em ir pedir aos sacerdotes que eles sejam santos sacerdotes, que eles tenham a doutrina da Igreja, a doutrina de Deus, que eles tenham um zelo missionário para tornar conhecido o reino de Deus.
Porque hoje poucos homens conhecem a Deus, poucos querem conhecê-lo. É por isso que Ele nos escolheu, precisamente, para que possamos cumprir essa missão de tornar seu reino conhecido, de tornar conhecido o seu amor.
E assim, é uma crise, na minha opinião, benéfica para nos despertar para a nossa missão e para a nossa identidade sacerdotal.
A crise na Igreja
A Igreja não é uma estrutura humana puramente social. A igreja é o prolongamento de Jesus. É Jesus, presente no meio dos homens e esta presença é manifestada pelo seu ensinamento, pela sua maternidade.
A Igreja é mãe e educadora.
Ela é uma mãe porque que todos renascemos quando somos batizados na fé da Igreja e ela é educadora porque nos faz crescer nessa fé.
Todos, quando recitamos o Credo, não é o nosso Credo que recitamos, mas o Credo da Igreja, o Credo da nossa mãe.
A Igreja é uma extensão de Jesus, ela é mãe e educadora.
A Igreja faz-nos crescer. E todo o mundo ama a sua mãe, todo o mundo está ligado à sua mãe.
Hoje, todos os cristãos devem se apegar à mãe, mesmo que a sua mãe seja leprosa, mesmo que a sua mãe esteja desfigurada por uma doença, ela continua sendo a sua mãe.
Você deve amá-la, você deve sempre ouvir a voz dela.
Hoje, estamos como que determinados a desfigurar a Igreja, a desprezá-la, a acreditar nela como sendo uma sociedade puramente social que deve lidar com questões sociais, questões de pobreza, questões que dizem respeito ao Homem. Mas a Igreja deve acima de tudo orientar o Homem para as preocupações reais que não são apenas humanas, mas também espirituais.
Ela é uma educadora para nos gerar na vida de Deus, nas preocupações de Deus. E assim, nós realmente temos que nos apegar a ela e amá-la.
É verdade que hoje a Igreja está em crise também. Não é ela quem está em crise, estamos em crise, nós, seus filhos.
Ela é sempre santa, ela é sempre bonita, ela não tem rugas, mas somos nós os filhos, desfigurados, que a desfiguram.
Somos nós que estamos em crise, não a Igreja como tal, porque a Igreja sempre ensina o que Cristo lhe pediu para ensinar.
A Igreja é sempre mãe, como sempre foi mãe, mas nós somos as crianças que já não ouvem a sua voz e ensinam apenas o que querem.
A crise está ao nível dos filhos da Igreja e portanto, é aos filhos da Igreja que será necessário, talvez, ajudar para que eles encontrem este ouvido atento, como Salomão. Este coração que escuta a sua mãe, como o coração de Salomão.
Vale a pena ler a carta apostólica do Papa Bento XV para compreendermos qual a missão a que somos chamados, eis alguns pontos:
- a missão que Nosso Senhor Jesus
Cristo confiou aos seus discípulos continua "até ao fim dos tempos, isto
é, enquanto existirem na terra pessoas para salvar pelo ensino da
verdade."
- A Igreja de
Deus, fiel ao mandato divino, nunca deixou, através dos tempos, de
enviar a todo o mundo arautos e ministros da palavra divina que
anunciassem a salvação eterna alcançada por Cristo para o género humano.
-
Depois da descoberta da América, uma multidão de apóstolos consagrou-se
à protecção dos indígenas contra a tirania humana, com a finalidade de
os libertar da dura escravidão do demónio.
- Alguns deles, desejando a salvação dos irmãos, a exemplo dos Apóstolos, alcançaram o máximo da perfeição.
-
é motivo de grande preocupação constatar como, depois de tantos
sofrimentos associados ao anúncio da fé, depois de tantos trabalhos e
exemplos de fortaleza, sejam ainda tantos os que permanecem nas trevas e
nas sombras da morte
-
querendo por compaixão e dever apostólico fazê-los participantes da
redenção divina...cada dia aumenta mais, em várias partes da
cristandade, o zelo dos bons na promoção e desenvolvimento das Missões
no meio dos povos
- quem
se consagra ao apostolado das Missões, abandona pátria, família e
parentes; aventura-se frequentemente numa viagem grande e perigosa,
disposto a suportar qualquer sofrimento a fim de ganhar mais pessoas
para Cristo.
- quem
preside a uma Missão...deverá responder pela salvação de todos os
habitantes daquela região. Por essa razão não se deve contentar em ter
conquistado para a fé, entre aquela multidão, alguns milhares de
pessoas: procure cultivar e manter aqueles que ofereceu a Jesus Cristo,
de maneira que ninguém regresse ao caminho da perdição. Não julgue ter
conseguido completar o seu dever, se antes não tiver colocado todas as
suas forças na cristianização também dos restantes que não conhecem
Cristo, que é a missão maior.
- o superior da Missão...deve ser solícito apenas pela glória de Deus e a salvação das almas
-
o superior da Missão...chame cooperadores de qualquer lado que o ajudem
no seu ministério, sem se importar com a Ordem ou a nacionalidade,
“desde que, de qualquer modo (…), Cristo seja anunciado”
- obras de caridade são um meio muito eficaz nas mãos da Providência divina para a propagação da fé.
-
é conveniente que existam sacerdotes capazes de apontar aos seus
concidadãos, como mestres e guias, o caminho da salvação eterna
-
vós, queridos filhos que cultivais a vinha do Senhor e de quem depende
mais directamente a propagação da verdade cristã e a salvação de tantas
pessoas.
- é necessário
que tenhais uma grande estima pela vossa sublime vocação. Tende em conta
que a tarefa que vos está confiada é absolutamente divina e está acima
dos pequenos interesses humanos, porque levais a luz a quem jaz nas
sombras da morte e abris as portas do céu a quem estava a caminhar para o
abismo.
- recordai-vos
que não deveis difundir o reino dos homens, mas o de Cristo; não vos
compete aumentar o numero de cidadãos para a pátria terrena, mas para a
pátria celeste
- o Missionário [não] deve procurar outros ganhos que não sejam ganhar almas.
- procurar única e convenientemente a glória de Deus – como deve – e, para a promover salvando o seu próximo
-
É frequente o Missionário encontrar-se sem livros e sem a possibilidade
de consultar qualquer pessoa mais experiente, quando precisa de
responder a objecções contra a fé e resolver questões e problemas
difíceis
- não seria conveniente que os pregadores da verdade fossem inferiores aos ministros do erro.
- a pregação do Evangelho é a única finalidade para a qual foi enviado por Deus.
-
aqueles que se preparam para o apostolado, é indispensável acima de
tudo – como dissemos – a santidade de vida. É necessário que seja um
homem de Deus aquele que prega Deus; e odeie o pecado aquele tal ódio
ensina.
- Reconhecido para
com Deus que o chamou para uma missão tão sublime, está disposto a
tudo, a tolerar generosamente as dificuldades, os insultos, a fome, as
privações, até a morte mais cruel, para resgatar uma só alma.
-
a propagação da sabedoria cristã é, toda ela, uma intervenção divina,
porque só Deus sabe entrar no íntimo de cada um, iluminar as mentes com o
esplendor da verdade, acender nos corações a chama da virtude e
fornecer ao homem as energias necessárias para que possa abraçar e
seguir aquilo que ele reconheceu como verdadeiro e bom.
-
quem terá mais necessidade da nossa ajuda fraterna do que aquele que
desconhece Deus, estando à mercê das mais desenfreadas paixões e sob a
duríssima tirania do demónio?
-
todos aqueles que contribuem – segundo as próprias forças – para os
iluminar, sobretudo ajudando a obra dos Missionários, prestam a Deus o
testemunho mais agradável da sua gratidão por lhes ter dado o dom da fé.
-
quando os Superiores tiverem conhecimento que os seus Missionários
conseguiram felizmente trazer alguma população das superstições para a
sabedoria cristã e aí tiverem fundado uma Igreja suficientemente
estável, permitam que tais veteranos de Cristo se transfiram para ir
resgatar outro povo das mãos do diabo, deixando a outros – sem
lamentações – a tarefa de fazer crescer e melhorar o que eles próprios
entregaram a Cristo.
-
Quanto mais se deve observar a lei da caridade neste caso, tratando-se
não só de socorrer uma infinita quantidade de gente que enfrenta a
miséria e a fome, mas também e principalmente de resgatar uma multidão
imensa da escravidão de satanás para a liberdade dos filhos de Deus?
- Estimulados pelo seu exemplo, robustecer-se-ão as fileiras de
missionários que, sustentados pelas orações e a generosidade das pessoas
boas, conquistarão muitos outros para Cristo.
A carta diz-nos, que sem o Evangelho somos escravos do pecado e do mal,
Jesus sofreu, morreu e ressuscitou para que possamos receber as graças
sobrenaturais para alcançarmos a liberdade de sermos filhos adoptivos de
Deus, é necessário o baptismo e a conversão e na Fé e nas boas obras
devemos perseverar para não recairmos na perdição e podermos assim
alcançar a vida eterna no Céu. Neste anúncio como diz o início da
Didaqué «Existem dois caminhos: o caminho da vida e o caminho da morte. Há uma grande diferença entre os dois.»,
é encontrar a Verdade e permanecer fiel ao que é verdadeiro e bom,
torna-se fascinante pois não é sobre nós nem sobre a nossa felicidade no
mundo, é sobre Deus e a Vida. É encontrar em Deus a plenitude do Bem
mesmo que tenhamos (e diz-nos o Evangelho que temos) de levar a nossa
vida com sacrifício. É sobre Deus e o que Deus fez por nós,
interpela-nos para Lhe correspondermos com a nossa vida. A Igreja
torna-se assim a mãe e mestra da Verdade de Deus, é a Casa de Deus lugar
dos pecadores que os ajuda a alcançar a bem-aventurança eterna.
A Vida é um meio que está ordenado para um fim: a total e eterna comunhão com Deus no Céu. Cada acção nossa deve ter esta realidade em consideração. Esse fim não nos era possível alcançar se Deus não enviasse o Seu Filho ao mundo para nos salvar, pela Sua oferta de amor na Cruz sofrendo e morrendo por nós resgatou-nos do pecado e da morte eterna. Esta é a oferta que Deus tem para nós, não é automática, temos de acolher e cooperar com a Graça de Deus, com Fé, com contrição abandonando o pecado, seguindo os mandamentos, praticando as boas obras. Jesus mostra-nos a Verdade, ensina-nos as doutrinas, os mandamentos, as boas obras, as bem-aventuranças... estas não são moralismos ou apenas regras, são Vida, são a forma de cooperarmos e acolhermos a Graça de Deus, de realmente fazermos o Bem e promovermos a Justiça, são a forma de alcançarmos o fim para que fomos criados.
As pessoas não sabem qual o sentido do Ofertório e os pais não vêm necessidade de serem os primeiros a transmitir a Fé e a irem com os filhos à missa, isto é sinal de que se perdeu completamente o sentido da mensagem cristã.
A Igreja não é um clube para nos sentirmos bem, não nos vem trazer apenas uma proposta de felicidade. Propostas de felicidade, alegria no mundo e um mundo melhor é o que recebemos das várias comunidades protestantes, que se dividem em tantas porque cada uma quer Deus à sua maneira onde o importante é sermos felizes. Isso não é a Igreja Católica.
A Igreja Católica anuncia Deus e a Verdade, ajuda-nos a alcançar o fim para que fomos criados: a salvação da nossa alma na total e eterna comunhão com Deus no Céu. Ensina-nos e lembra-nos a cumprir os mandamentos porque para praticarmos o Bem necessitamos da ajuda de Deus, necessitamos da Sua Lei e do Seu Amor, sem Ele não somos realmente bons.
Como é possível numa capela mortuária não existir um crucifixo? Perdemos completamente a noção... Como é possível não acolhermos as pessoas com Senhor na Cruz?
Sem o amor da Cruz estamos apenas a criar uma alegria artificial, um faz de conta, abandonamos o jugo do Senhor, esquecemos o fim para que fomos criados em troca de uma suposta proposta de felicidade no mundo.
Penso que não são os pais que deixam a Igreja em segundo plano, não são os fieis que esqueceram o sentido do ofertório, estes foram abandonados por quem os devia ensinar. Os pastores abandonaram a Cruz do Senhor, como as comunidades protestantes apenas oferecem propostas de felicidade no mundo e as pessoas realmente estão felizes na ignorância, sem irem à missa.
Ser católico parte da humildade de reconhecermos que somos pecadores e de que necessitamos de Deus. Necessitamos não apenas para a nossa vida ser melhor, ter mais sentido e que as coisas nos corram bem, essas coisas podemos pedir a Deus considerando que não são um fim em si mesmo mas para nos ajudar a alcançar o Céu. Como católicos reconhecemos de que necessitamos de Deus para fazermos realmente o que é bom e justo, para fazermos o bem, para vencermos o pecado original e as fragilidades da natureza humana. Reconhecemos de que necessitamos de Deus para alcançarmos o Céu. É uma atitude de humildade, de grande beleza quando se consegue ver a Verdade. Como toda a criação louva e honra a Deus também nós, por Ele criados, o devemos fazer. Como seres com inteligência e vontade devemos entregar-nos a essa tarefa com grande dedicação: louvar e honrar a Deus, em corpo e alma. E essa atitude começa na humildade de reconhecer o Criador e o Pai de que necessitamos.
Infelizmente o mundo moderno alicerça-se na busca da liberdade absoluta, da igualdade absoluta. Sem o notarmos vivemos na soberba de não querermos reconhecer de que necessitamos de Deus. E assim se criam grupos e comunidades onde Deus não é uma necessidade, não é a origem e fim do Homem, mas sim apenas algo adicional a nós mesmos que nos preenche, nos ajuda. E assim vivemos, em que o «Eu e a minha felicidade» é o que necessitamos, é o nosso desejo e destino, Deus servirá para alcançarmos esse desejo. Pobres de nós abandonados à soberba do mundo como edificação da nossa vida.
Na semana passada em Nova York foi aprovada uma lei que permite o aborto até antes do nascimento, eis onde nos leva o «progresso» que recusa reconhecer a necessidade de Deus e qual é realmente o fim para que fomos criados.
Termos uma mesa à volta da qual celebramos uma festa e celebramo-nos a nós mesmos é fácil, difícil é termos um Altar onde oferecemos a Deus o Sacrifício Perpétuo para a Sua glória e louvor e para a remissão dos nossos pecados. "quem nunca pecou que atire a primeira pedra", a missa é lugar dos pecadores, dos que reconhecem Deus, a missa é sobre Deus e sobre o que Deus fez por nós.
Devemos voltar para casa e sermos católicos de verdade, não nos deixarmos iludir por promessas de felicidade e momentos de alegria artificial e efémera. O nosso destino vive da Verdade, do cumprimento dos mandamentos e da Lei, do desejo de seguirmos e conhecermos a vontade de Deus. Qualquer mensagem, evangelização e promessa tem de partir daqui, se não partir da humildade de querermos seguir e conhecer a vontade de Deus é apenas ilusão e promessas fáceis.
"O pai respondeu-lhe: ‘Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu."
(Lucas 15, 31)
Na parábola do filho pródigo, em Lucas 15, a presença do Pai é o Seu presente ao filho mais velho. Se isto não é para nós suficiente, então nada será.
É isso que Jesus nos veio dar: "Esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem Tu enviaste." (João 17, 3).
Se a possibilidade de conhecermos Deus, sabermos a Sua vontade, conhecermos a Verdade e moldarmos a nossa vida na Graça de Deus segundo o Bem que é o próprio Deus não é para nós suficiente, então nada será.
Do livro «Imitação de Cristo»: "Muitos seguem Jesus até ao partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão.".
Infelizmente hoje em dia a grande maioria já nem «até ao partir do pão» segue Jesus.
Perdemos o sentido religioso, seguimos as modas protestantes e de Deus apenas queremos consolações.
Em vez de correspondermos ao amor de Deus que se revelou na Cruz queremos que o amor de Deus se revele agora melhorando a nossa vida. Partimos do amor próprio e do amor ao mundo em vez de partirmos do amor de Deus.
Ser cristão é estar verdadeiramente entregue a Cristo, cheio do espírito vivo de Deus, andar em rectidão e justiça na Sua Igreja, una, santa, católica e apostólica, com fome e sede do Senhor, com o coração ansiando pelo Céu. É ser santo, homem ou mulher de verdade feitos à imagem e semelhança de Deus que simplesmente acreditam e ajustam a sua vida de acordo com a vontade de Deus. É meditar sobre a lei do Senhor, guardar os mandamentos, viver a Graça sacramental, louvando e adorando o Senhor na prática do bem e das boas obras. É a alegria de no Domingo prestar o culto a Deus, dar-Lhe louvor e glória no Sacrifício perfeito do Altar. É reconhecer Cristo como Rei, nas nossas vidas, casas, famílias, é a Ele que servimos e é pelo Seu Reino que trabalhamos cooperando com a Graça de Deus.
Viva Cristo-Rei!
"É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar
testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz".
"Os Padres deste sagrado Concílio, continuando a obra começada pelo Concílio de Trento, ao mesmo tempo que, esperançados, confiam aos Superiores e professores dos Seminários o encargo de formarem os futuros sacerdotes de Cristo no espírito de renovação promovida por este mesmo Concílio, exortam ardentemente aqueles que se preparam para o ministério sacerdotal a que sintam vivamente que a esperança da Igreja e a salvação das almas lhes está confiada e que, aceitando de ânimo generoso as normas deste decreto, dêem frutos abundantíssimos que permaneçam para sempre."
Na ordenação sacerdotal o propósito do ministério que vão exercer é: - exercer digna e sabiamente o ministério da palavra, na pregação do Evangelho e na exposição da fé católica - celebrar com fé e piedade os mistérios de Cristo, segundo a tradição da Igreja, para louvor de Deus e santificação do povo cristão, principalmente no sacrifício da Eucaristia e no sacramento da reconciliação - implorar a misericórdia divina para o povo a vós confiado, cumprindo sem desfalecer o mandato de orar - unir-se cada vez mais a Cristo, Sumo Sacerdote, que por nós Se ofereceu ao Pai como vítima santa, e com Ele consagrar-se a Deus para salvação dos homens
A Igreja é o Corpo Místico de Cristo, pela Igreja renascemos para a Vida em Cristo e somos resgatados do pecado e da morte eterna. A missão principal da Igreja é a salvação das almas.
Muitas vezes ouvimos que a missão do padre é anunciar o amor de Deus e a alegria do Evangelho. Penso que infelizmente estes são termos genéricos, que não convertem e nos deixam ficar instalados comodamente.
O amor de Deus mostra-se nisto, no que fez e faz por nós e que nós não conseguimos fazer sozinhos:
- Deus não tem necessidade de nós mas mesmo assim, por puro amor, deu-nos a existência. - O Filho de Deus veio ao mundo para pela Sua morte e sofrimento na Cruz nos resgatar do pecado e da morte eterna, pagando por nós a desobediência nos nossos primeiros pais. - Temos a possibilidade de receber o perdão dos nossos pecados, desde que tenhamos pelo menos contrição. - Temos a possibilidade de receber em nós a Vida divina de Deus, dentro dos limites do mundo. - A Vida divina de Deus que recebemos em nós, é a Graça, ajuda-nos a evitar o pecado, a desejar e procurar a santidade e a chegarmos ao Céu.
E é esta a alegria do Evangelho, sabermos que somos amados por Deus mesmo que não estejamos sempre felizes, alegres e em festa.
O padre é então ministro de Deus, que como Cristo dá a vida pela salvação das almas. Ajuda-nos a alcançar a Graça de Deus e ajuda-nos a cooperar e viver com ela para não perdermos o tesouro que nos foi dado, e desta forma podermos alcançar o Céu.
Tudo o resto que possamos receber no mundo, são graças adicionais, são os bens temporais que nos ajudam a desejar e procurar os bens eternos.
Dá-nos Senhor santos sacerdotes e que nós ajudemos as nossas famílias a conhecer e viver a verdadeira Fé no Vosso amor para que delas surjam vocações, doações da própria vida pela salvação das almas.